sábado, 25 de julho de 2009

A poesia de Augusto Frederico Schimidt


Nessas férias, um dos livros que folheei foi "Canto da Noite", do poeta carioca Augusto Frederico Schimidt, que foi publicado em 1934.
Augusto nasceu em 1906. Além de escritor, foi industrial, político, jornalista e editor (é atribuído a ele o lançamento de Graciliano Ramos com seu "Caétes"). Quanto à política, trabalhou para Juscelino Kubitschek. Foi assessor, e era considerado o braço-direito de JK. Entre outras funções, escrevia os discursos do presidente. Foi ele, também, o criador do bordão clássico do programa de governo de JK : "50 anos em 5"
Para os curiosos, há uma biografia romanceada de Schmidt: "Quem contará as pequenas histórias?", escrita por Letícia Mey e Euda Alvim.
Canto da noite é um livro muito fraco. Foi o único livro dele que encontrei na biblioteca da faculdade. Terei que ir à procura de outros. Até vou arriscar a dizer que este é o pior livro desse poeta. Seu primeiro livro, de 1929, "Canto do Brasileiro Augusto Frederico Shimidt", parece melhor.
Voltando aos textos de Canto da Noite, é inegável que seus poemas são muito fracos. O próprio Augusto, já prevendo isso, faz questão de dizer no prefácio da 3ª edição: "Sei o pouco que vale essa coleção de poemas, que só mesmo por fraqueza consinto em reviver para colecionadores de livros de tiragem restrita; sei que este é um livro humilde, que nada tem a ver com ampla e forte poesia que amam hoje (...)"

São poemas escritos com voz baixa, discreta. O ritmo é lento, por vezes arrastado. O ritmo lento acompanha os temas de Schmidt: sempre num tom melancólico e soturno, versa sobre morte, partida e desencanto. Canto da noite está repleto de imagens fracas. Como o título sugere, muitos poemas fazem referência à noite, e são nesses momentos que fica mais nítida a pobreza de estilo do livro.
Mas o livro contém alguns poemas interessantes, em que a melancolia de Schmidt consegue prender o leitor. Como esses dois poemas abaixo "Desejo" e "Despedida"

MOMENTO

Desejo de não ser nem herói e nem poeta
Desejo de não ser senão feliz e calmo.
Desejo das volúpias castas e sem sombra
Dos fins de jantar nas casas burguesas.

Desejo manso das moringas de água fresca
Das flores eternas nos vasos verdes.
Desejo dos filhos crescendo vivos e surpreendentes
Desejo de vestidos de linho azul da esposa amada.

Oh! não as tentaculares investidas para o alto
E o tédio das cidades sacrificadas.
Desejo de integração no cotidiano.

Desejo de passar em silêncio, sem brilho
E desaparecer em Deus – com pouco sofrimento
E com a ternura dos que a vida não maltratou.


DESPEDIDA


Os que seguem os trens onde viajam moças muito doentes com os
[ olhos chorando
Os que se lembram da terra perdida, acordados pelos apitos dos
[ navios
Os que encontram a infância distante numa criança que brinca
Estes entenderão o desespero da minha despedida.
Porque este amor que vai viajar para a última estação da
[ memória
Foi a infância distante, foi a pátria perdida, e a moça que não
[ volta.



E, para fazer justiça, posto um dos meus poemas preferidos, que por sinal, é de autoria de Schmidt. Este poema está no livro "Navio Perdido", de 1929. Possui as características típicas dos textos de Schmidt e, assim como em "Despedida" e "Momento", a voz baixa e fria do poeta cai muito bem nessa imagem de contemplação e reflexão. Aí vai:

LEMBRANÇA

Todos os que estão neste cinema agora,
Neste cinema alegre,
Um dia hão de morrer também:
Nos cabides as roupas dos mortos
penderão tristemente.
Os olhos de todos os que assistem
as fitas agora,
Se fecharão um dia trágica e dolorosamente.
E todos os homens medíocres
se elevarão no mistério doloroso da morte.
Todos um dia partirão —
mesmo os que têm mais apego às coisas do mundo:
Os abastados e risonhos
Os estáveis na vida
Os namorados felizes
As crianças que procuram compreender —
Todos hão de derramar a última lágrima.
No entanto parece que os freqüentadores deste cinema
Estão perfeitamente deslembrados de que terão de morrer
— Porque em toda a sala escura há um grande ritmo de esquecimento e equilíbrio.


Augusto Frederico não está entre os nossos maiores poetas. Mas não deve ser esquecido. Deixou uma bela obra.

Até!

Um comentário:

  1. Já dizia a minha tataravó: gosto e nariz cada um tem um! É isso aí. Não sou um literato, é verdade. Mas, acredito que tenha sensibilidade suficiente para detectar um grande poeta. Augusto Frederico Schimidt nem precisava escrever mais além dos poemas que já li, para considerá-lo um dos melhores. Pra meu gosto... claro! Despedida, Despedida II e Jugo por si já demonstram a grandeza de sua poesia. Tanto gostei que me inspirei para um vídeo... Quem sabe eu consiga? Enquanto isso, bem que poderiam mostrar mais a sua obra. O Brasil vai ganhar com isso.

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