domingo, 27 de dezembro de 2009

o que estou lendo

Estou lendo Henry & June, livro extraído dos diários da escritora Anaïs Nin. A Thara demonstrou interesse. Então, para ela e para quem mais quiser ler, posto um trechinho do livro. Ainda estou no começo. Está ótimo. Uma vida muito intensa, a de Nin.
Escolhi esse trecho pois é aquele em que ela relata o primeiro encontro com Henry Miller, que logo se tornaria seu parceiro sexual/intelectual. Assim, temos um trecho que cobre esses 2 autores que adoro. Ei-lo:


DEZEMBRO

"Conheci Henry Miller.

Ele veio almoçar com Richard Osborn, um advogado que eu tinha que consultar sobre o contrato para meu livro de D.H. Lawrence.

Quando ele saltou do carro e se dirigiu para a porta onde eu estava esperando, vi um homem de que gostei. Em seus escritos ele é extravagante, viril, animal, opulento. E um homem a quem a vida embriaga, pensei. É como eu.

No meio do almoço, quando estávamos discutindo livros seriamente, e Richard passara a um longo discurso, Henry começou a rir. Ele disse:
-- Eu não estou rindo de você, Richard, mas simplesmente não consigo evitar. Não ligo a mínima, nem um pouco para quem está certo. Estou feliz demais nesse exato momento com todas as cores à minha volta, o vinho. O momento é tão maravilhoso, tão maravilhoso - Ele ria quase a ponto de chorar. Estava bêbado. Eu estava bêbada, também, por completo. Sentia-me aquecida, tonta e feliz.
Conversamos durante horas. Henry disse as coisas mais verdadeiras e profundas, e ele tem um jeito de dizer "mmmm" enquanto divaga por sua viagem introspectiva”


Bem, é um livraço. :)

Extraído de NIN, Anaïs. "Henry & June". Editora L&PM POCKET, 2007.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

um pouco de tietagem

75. NATAL

"Minha sogra ficou avó"



Calma, isso não é mensagem de natal. Mas é um trecho propício para eu declarar, mais uma vez, o meu apreço pela literatura de Oswald de Andrade. A única frase em questão é um capítulo de "Memórias Sentimentais de João Miramar", obra-chave da literatura oswaldiana. Trata-se de um dos meus livros preferidos. Oswald é um dos poucos demolidores da literatura nacional. Ela sempre se renovou, é verdade. Mas poucos foram os momentos de grande ruptura com os modelos vigentes. Talvez os concretistas fizeram isso. Mas o grande papel coube a Oswald e seus colegas de modernismo.
Esse livro rompe com quase todos os esquemas tradicionais. Além disso, o enredo é uma grande risada frente a cara da burguesia paulista da década de 20: uma sociedade de aparências, num jogo de influências e falsidades. É o que mostra esse trechinho natalino. O narrador, João Miramar, avisa que no Natal, sua sogra foi avó. Poderia dizer "fiquei pai". Mas na sociedade patriarcal, afundada em moralismos, ganhar um neto é uma das poucas alegrias óbvias dos patriarcas das famílias. Dar um neto era, pois, mais uma obrigação do contrato familiar da boa família paulistana
Devo dizer que não é uma leitura fácil: muito da obra de Oswald hoje soa estranha para os leitores, que desconhecem as muitas referências à pessoas e fatos da época do autor. O sarcasmo e bom humor de Oswald são, no entanto, universais. Não há como não rir da piada que João Miramar lança na última linha de suas memórias.
É um livro que causa estranhamento, controverso, hilário por vezes, pedante por outros.
É uma obra com a cara do autor.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Soletre, com bufos e suspiros, o silêncio que há entre nós

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

algumas palavras

na fila do banco, lá está eu com meu livrinho na mão. No meio de "Um copo de cólera", do Raduan Nassar, num trecho em que os dois personagens principais estão no auge de uma discussão acaloradíssima, recheada de palavrões e tals, sou interrompido por um senhor com olhar bonachão:

-- você, rapaz, que gosta de ler..

Fecho o livro no ato e vejo o que ele me oferece. Trata-se de uma caixinha pequena, com alguns papéis coloridos dentro. Ele pede para que eu retire um e leia.

"Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Gl. 5.14)

Li e devolvi a folhinha para o senhor, que sorriu e continuou a abordar as demais pessoas da fila. Acho a Bíblia um livraço. Li algumas passagens dela, em diversos momentos. São muitos os escritores que já manifestaram a grandeza dela. Exemplo? Olha só, palavras de Dalton Trevisan, extraídas da orelha de um livro de contos dele que tenho aqui em casa (na orelha, ele fala de si mesmo, uma espécie de auto-biografia. ótimo!)

"Bíblia. O único livro que a gente não pode deixar de ler. Nele você encontra Homero, Mil e uma Noites, Fanny Hill, soneto de Camões, grito epilético de Dostoiévski, barata leprosa de Kafka, anúncio de 914, elegia de Rilke, etc"

Para rebater isso, posto um trecho de uma entrevista com Oswald de Andrade em 1954. Ei-lo:

– "Quais os livros essenciais à humanidade"?
Oswald: "Não são, nem a Bíblia, nem o Alcorão, nem Margarida La Rocque."


Apesar de ser um fã do Oswald, dessa vez estou com Trevisan. É um livro riquíssimo que inspirou e ainda inspiro a safra de escritores. É um livro contraditório. partes ótimas, partes execráveis. Olha só, que coisa mais linda esse verso que o senhor mostrou! Intriga-me o fato de se referir à máxima do amor ao próximo como uma "única palavra". Intrigante, que nos faz pensar, como faz toda a boa poesia.
Pensei tudo isso na fila do banco. Por conta de um simples senhor com sua caixinha de versos bíblicos, que mostrava-os pelo simples prazer de levar tais palavras além.
Depois dizem que a vida não é bonita.

PS: veja como a bíblia inspira um ocioso sem veia literária, mas com varizes literárias.... como disse alguem ontem no twiter. (vc que retwittou, ítalo! ha-ha)
Eis aí minha brincadeira, um trecho do Evangelho Segundo Judas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Revolta

Bem, tenho deixado para falar sobre minhas leituras lá no Daki-Dali... algumas exponho aqui, mas a maioria está indo pra lá. Assim, falo do quê? Bah, ando sem criatividade.
Eu queria mesmo era reclamar. Tanta coisa errada e mal feita no bairro, na cidade, no país, no mundo. Hoje eu estava pensando numa dessas coisas inexplicáveis: todo ano, na época de pagamento do PIS, surgem aquelas reportagens lugar-comum:

"Hoje cerca de blablá milhões de reais deixarão de serem sacados por seus donos, pois os beneficiados do PIS, não atentaram aos prazos e bláblá"

Isso é clássico. Todo ano essa reportagem surge na internet, nos jornais, e às vezes, nos telejornais. Bah (estou usando "bah" ultimamente, como opção para as versões mais religiosas como "céus" ou "god" ou "jesus!"), será que o pessoal que não saca esse dinheiro não quer o beneficio? É claro que não! A questão é outra, e é muito clara: a forma de distribuição do PIS, que é um direito trabalhista, é extremamente mal-organizada. É confusa. O dinheiro é liberado ao longo do ano: dependendo do mês de nascimento da pessoa (acho que é isso, mas não tenho certeza..mas enfim), ela tem um certo mês para sacar o valor. Extremamente complexo? Não. NO entanto, para a maioria dos cidadãos que vivem numa correria diária, esse sistema é incoerente. Além disso, não é todo mundo que consegue aconpanhar o raciocínio desse sistema. É preciso algo mais simples, algo mais claro. Além disso, o governo não move uma palha para facilitar isso. Por que não fazem uma campanha, uma simples propaganda na TV, como fazem nas eleições por exemplo, esclarecendo as datas? Simples, pois há interesse em que esses valores não sejam sacados. Que os benefícios morram na Caixa Ecônomica.
Bem, eu não tenho direito a esse benefício ainda. Nem falo isso por conhecer alguém que perdeu. Falo, por que me incomoda, todo ano ouvir a mesma reportagem...

"Hoje cerca de blablá milhões de reais deixarão de serem sacados por seus donos, pois os beneficiados do PIS, não atentaram aos prazos e bláblá"

... Sabendo que poderia ser bem diferente.

Mas enfim, bom-senso por aqui é raridade.
Vou é ler um livro.

fui!


PS: falando em reporatagem lugar-comum (puta merda, como se faz isso no plural, será?)... qualquer dia vou escrever sobre isso. É um saco, tem certas reportagens que se repetem todo ano. Só copiam e colam, acho. Eu, hein. Acham que a gente é trouxa. (somos)

PS do PS: as férias estão chegando! Não vejo a hora...

domingo, 29 de novembro de 2009

Desculpas e um convite

olá, pessoas. Por motivo de falta de tempo, não poderei postar nada aqui nesse fim de semana. No entanto, faço o convite a todos para que leiam a postagem "Marco e as três Marias", que é minha, e está no blog Daki-Dali, parceria com a Daia. Uma impressão do "Livro de Marco", de Flávio Carneiro, e de "Marco", sua adaptação para o teatro feita pela Cia Rústico de Teatro (Joinville).
É isso gente, deem uma conferida

abraços!

sábado, 21 de novembro de 2009

Rosebud



Recentemente, li "Rosebud", livro de poemas de Luis Augusto Cassas que, até então, era desconhecido por mim.
Rosebud (que significa botão de rosa, em inglês) é a famosa palavra dita por Kane, o célebre personagem do filme Cidadão Kane(1943), de Orson Welles. No filme, a palavra tem uma grandeza enorme> trata-se de uma metáfora ao orgão sexual feminino, mas vai bem além disso. Boa relação faz Vitor Junior ao dizer que "(...) “Rosebud” simboliza aquilo que há de mais íntimo, de mais misterioso, mais escondido, mais particular, mais encoberto". Quanto ao livro de Cassas, publicado no início da década de 90, um período de grande desastabilidade econômica, em que reinava uma péssima distribuição econômica, este tem muito de crítica social. Cassas é agressivo, como se cuspisse nos atos fúteis da classe média, que esbanja dinheiro enquanto a maior parte da população vive na miséria. Cassas é crítico, mas não cai em lugares-comuns (deslize constante entre aqueles que enviesam por esses caminhos). Então o que é o "Rosebud" sugerido por Cassas? Seria o desnudamento do homem, esse homem que se esconde em falsos-moralismo e vive sua vida pacata e besta? Bem, é só uma ideia.
Fato é que este livro é muito interessante. Adorei.
Cassas faz uma coisa muito legal: brinca com o cotidiano, usando os diversos "gêneros" (não estritamente de linguagem. Quero dizer que ele brinca com os sentidos das palavras e com as imagens que estas compõem). Em "Obituário dos poetas" descreve o falecimento de vários "poetas" com muito humor-negro e à maneira dos jornais. Outro exemplo é "Condomínio Sophia": Cassas divide o poema como a estrutura de um prédio: térreo, primeiro andar, segundo andar...cobertura. Mais um exemplo, que eu reproduzo abaixo é "Cronologia":


CRONOLOGIA


I Nasce o poema em papel de cigarros carlton.
II O poema frequenta bibliotecas, universidades e bares e trava conhecimento com outros poemas.
III O poema prega a revolução permanente e arma os versos com o fuzil do amor.
IV É editado, elogiado nos suplemetos culturais e vira embrulho de tomate.
VI Internado com o esgotamento nervoso e crise de identidade.
VII Morre o poema.

Quem define bem as características da poesia de Cassas é Moacyr Félix, no prefácio do livro, quando diz: " (...)irônicos e revoltados, sofridos, às vezes gozadores e às vezes amargos, todos eixados em torno de uma visão-de-mundo revoltada-mente estruturada e religando os atos e coisas mais simples do cotidiano com importantes nomes e fatos da história e culturas mundiais, os versos de Luís Augusto Cassas são como facas atiradas contra e estourando os balões coloridos - inflados de mentiras e hipocrisias e desumanizações - com que as nossas elites econômicas alardeiam as suas riquezas sobre a pobreza moral e física de mais de cem milhões de brasileiros. (...)"
Outra característica da poesia de Cassas é a intertextualidade. O poeta faz muitas referências, estabelecendo diálogos com textos conhecidos (num dos poemas, utiliza um trecho de "Versos Íntimos", de A. dos Anjos). Poema legal, pois cheio de humor, para exemplificar isso é este "Indesejada", em que Cassas cita Baudelaire e brinca com os sobrenomes de Edgar Allan Poe e Ezra Pound, que viram interjeição e onomatopéia, respectivamente:


A INDESEJADA

3 da manhã. pound! pound! pound!
a poesia baixa em mim
como um santo em seu cavalo
mas eu não sou baudelaire
que o mundo ama e ninguém quer.
nem sou coronel
pra sustentar bordel.
te sai dessa, menina.
poesia e vaselina
só em festa de grã-fina.
escrita fina.
estou meio deprê.
depois a gente se vê.
edgar allan, pô, que tralha,
vê se enxota essa gralha!

Com muito bom humor, Cassas põe ao longo do seu livro os poemas prefácio, mesofácio e pósfacio, um espaço de contato cara a cara entre o poeta e o leitor. Assim ele fecha o livro:

posfácio

ou onde o leitor (não) necessariamente
expõe o seu desagrado
sobre o lido e o re-vivido
com um sonoro elogio à mãe do poeta


-------------------------------------------------------------------------------------

É mesmo.
Filho da puta, que livro bom!

REFERÊNCIAS:

CASSAS, Luis Augusto. Rosebud.Massao Ohno Editor, 1990.

JUNIOR, Vítor. ROSEBUD - Resenha crítica sobre o filme “Cidadão Kane”, de Orson Welles. Disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes

domingo, 15 de novembro de 2009

ditos pouco populares

I

Em terra de cegos
caolho não vira rei
e é perseguido
até que perfurem seu olho bom

II

Se a ocasião faz o ladrão
o instante faz o poeta?
mas e a poesia
(o latrocínio dos transeuntes cotidianos)
onde entra nesse dito?

III

menino deus escreveu certo por linhas tortas
e tirou zero na prova

IV

pau que nasce torto, nunca se endireita:
vive sempre na sombra da esquerda

V

-- pai, como deus ajuda quem cedo madruga?
-- dá o amanhecer de presente

VI

sol e chuva sol e chuva
céu e terra fecharam-se nos olhos da viúva
as venezianas calaram-se
e não houve festa alguma

VII

faça bem ao próximo,
mas lembre-se que o inimigo mora ao lado

VIII

diga-me com quem andas
e quem amas
e quem temes
e o que fazes, queres e o que és
e ainda sim, não saberei nada de ti

IX

larga de mentira: um pássaro na mão não vale nada!

X

se conselho fosse ruim, não se dava
vendia-se

XI

e filho de peixe
poeta é

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Devoração

Amo esta palavra. Às vezes penso que todo o mundo cabe dentro dela.

sábado, 7 de novembro de 2009

Querido diário

Semanas atrás, me viram lendo "O mundo do sexo", de Henry Miller e caçoaram por conta do título. Hoje, quando alguém viu que eu estava lendo "A greve do sexo", comédia grega de autoria de Aristófanes, comentou-se: "Acho que você, Eduardo, é meio pervertido"
Fiquei feliz: sou um leitor pervertido! Uhulll

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um verso

consegui uma Antologia Poética do Cassiano Ricardo, e estou encantado. Bela poesia.

eis um verso dele, que adorei. Extraído do poema "Dizes tantas coisas":


"quanto mais falamos, mais silêncios nascem"


*__*

domingo, 1 de novembro de 2009

os namorados

os namorados desencontrados decidem "dar um tempo"
imagem triste essa. esse tempo descolorido e sem forma.
antes dessem uma distância!

sábado, 31 de outubro de 2009

Mais um convite

Acabo de postar no meu outro blog, o Sujeito Oculto, os "poemas para ler escondido do seu chefe"
Deem uma lida lá. Eu achei que ficou bem legal. ^^

Inspiração não faltou! (trabalho num escritório)

Valeu!
:P

Joinville Literária

olá pessoas, quero fazer um convite.

Estou participando do projeto joinville literária, que consiste num site que reúne a produção de escritores contemporâneos, da cidade de Joinville. Não são todos. Boa parte. É uma iniciativa bem legal de divulgar os textos de joinva, especialmente aos estudantes. lá no site tenho 6 poemas cadastrados. Ainda estou lendo as outras produções, mas tenho gostado muito do que já li. A cidade está muito bem servida. ^^
Obviamente, sou um novato no meio dessa turma a anos-luz das grandes feras como o Rubens da Cunha e o Caco de OLiveira. Mas não estou tão sozinho, ao lado dos experientes há outros jovens como o Ítalo e a Gabriela Cristina Carvalho.
Enfim, fica o convite para que todos deem uma passada pelo site (que está com um design gráfico muito bom), para a leitura dos textos.

Eis o link para o Joinville Literária

Abraço!

PS: essa semana, estive no sebo e comprei 3 livros do Fernando José Karl, que é um ótimo poeta joinvilense, e que desfalca o site. Agora, tenho 4 pois estes se juntaram ao meu "Desenhos mínimos de rios", que é um bom livro. Em breve, mergulharei fundo na poesia de Karl.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Meus favoritos

Mexendo no meu skoob, encontrei isso aqui.
esses são alguns de meus livros favoritos.
Se botasse todos os meus 30 favoritos, ia ficar feio.
Bem... isso é meio inútil, mas que é bonitinho, é. ^^

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um conto semiológico

Era uma vez um homem infeliz.
Trabalhava num pequeno jornal. Era responsável pela seção de horóscopo.
Seu nome era Barthes, Roland Barthes.
Ele gostava muito de signos. Áries, Câncer, Capricórnio, ele gostava de todos os signos.
Mas era um homem infeliz.
Um dia - do nada - ele decidiu elaborar a Teoria Semiológica.
E tornou-se feliz.
E ele vive rindo, até hoje, da cara dos acadêmicos de Letras...


Nota:
este conto foi publicado originalmente na última carteira da fila do meio da sala 109A, da Univille, por ocasião de uma animadíssima (sim, isso é uma ironia) aula de Teoria da Literatura.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Querido diário

Hoje encontrei mais uma criança perdida. Há alguns dias senti a falta do meu "Solte os cachorros", da Adélia Prado, que eu acabava de ter iniciado a leitura. E nem imaginava onde poderia estar. Achei que estivesse lá em casa, em algum canto da bagunça. Mas hoje, fui aos correios (a trabalho) e a funcionária se lembrou de mim e me entregou. Tava lá, o maledeto. Vou retomar a leitura dele, agora. Menos um problema né. (Ainda não esqueço o trágico episódio do dia em que perdi meu "Crime e Castigo").
Mas enfim.. agora só me resta um mistério: para onde terão ido os meus "Poemas Completos de Alberto Caeiro"?

:P

sábado, 24 de outubro de 2009

Um poeta e seu leitor

É noite de sexta e eu estou no terminal de ônibus. O carro chega. Encontro um lugar ao fim dele para sentar-me. Acomodo-me, distraído. Então, entra pela porta de trás do ônibus um homem. Um mendigo. Alto e magro, pele negra. Uma barba grande e grisalha. Traz consigo um saco de plástico contendo latinhas de cerveja vazias e um cheiro forte de mundo (enquanto tomo banho todo dia, não deixando o mundo fixar-se em mim por muito tempo). O homem senta-se nos degraus do ônibus. A porta se fecha e o carro segue seu rumo. Continuo distraído percorrendo os olhos pelos passageiros e pela paisagem noturna que derrete lá fora. De repente, uma voz familiar:

-- E aí, Miguel, como é que tá?

Miguel é o homem das latinhas, sentado no degrau. Quem pergunta é um homem de cabelos grisalhos, óculos, e que traja um paletó azul. Está sentado de frente ao degrau do homem, do Miguel. Reconheço, então, que o senhor de paleto azul é o Caco, o poeta Caco de Oliveira, aquele das várias intervenções pela cidade, da poesia carimbada, dos haicais, enfim, aquele da boa poesia. Não o conheço muito bem. Abordei-o uma vez na rua, para tirar uma dúvida sobre um de seus livros. Nessa ocasião, impressionou-me a simpatia e a singularidade de Caco. Muito espontâneo e educado: coisa rara de se ver. Espontâneo e educado também é Miguel, que responde às perguntas de Caco com muita graça. À pergunta inicial de Caco, ele diz que está tudo bem. Diz que a vida está corrida "muitas empresas, sabe?". Começo a sentir uma grande felicidade, embora ainda não consiga explicá-la. A piada de Miguel foi boa, mas nem tanto para me deixar tão sorridente. Por que a felicidade, então? Bem, só penso nisso agora, pois ontem, no ônibus, só queria acompanhar o diálogo dos dois. Creio que Caco o conheceu pelas suas andanças no centro da cidade. Miguel tem um rosto familiar: todos que frequentam o centro já o viram. Mas poucos conversam com ele.
Respondendo o poeta, Miguel falou de como tem se alimentado, e das suas andanças pela cidade. Uma conversa pacata e gostosa, a dos dois. (E eu, que no início estava louco para trocar de lugar, sentar ao lado do Caco e lhe perguntar sobre outra coisa - uma antologia recém lançada - fiquei no meu canto, só ouvindo, sem atrapalhar)
Em cada ponto, desceu um pouco de tempo. A viagem passou rápida. Quando me dei conta, o poeta estava se preparando para descer. Aí ele disse:

-- Eu vou te dar um livro, Miguel

Miguel continuou com o ar grave, uma característica sua. Olhou para Caco e ficou vendo o poeta abrir sua bolsa (vejam que figura: uma mochila escolar azul e vermelha, do homem-aranha) e retirar um exemplar de um de seus livros. Livro bonito, novinho. Trata-se do último lanaçamento de Caco, o livro Cardume de Nuvens. "São haicais", explica o poeta ao leitor intrigado. Caco estende o livro para Miguel fazendo uma brincadeira com ele: abre as abas do livro ("as orelhas") e, com um momvimento de asas batendo, faz com que Miguel receba um livro-pássaro em suas mãos.
Miguel, muito humilde, agradece o presente e acolhe o pássaro entre as mãos. Logo que entrega o presente, o poeta se despede do companheiro e desce em sua parada. O ônibus segue sua rota, Miguel segue sentado no degrau, e eu sigo em meu rodízio de olhares, distraindo-me principalmente naquele figura de camisa e calça toda suja e chinelos velhos. Miguel fica silencioso. Ouço um breve rumor sair de sua boca, mas é muito discreto, indecifrável. Então, Miguel levanta-se do degrau e vai sentar-se na mesma poltrona que o poeta até então havia usado. Botou o livro (que tem uma capa muito bonita) no colo e começou a folheá-lo. Não sei se Miguel sabia ler ou se era um grande leitor. Sei que ele percorreu as páginas com aquele seu ar grave, de como quem está intrigado: um leitor intrigado. Uma imagem muito bonita, que fotografei na memória e agora colo aqui. Logo Miguel fecharia o livro, não por desinteresse, tenho certeza. Talvez inquietação. Ou talvez por perceber que a viagem chegava ao fim.
Logo, surgiu o terminal do bairro: parada final. Sou o último a descer (em parte pelo desejo de observar os outros, principalmente o Miguel). Este, assim que sai aproxima-se da lixeira do terminal e vasculha com o braço seu interior. Com pressa, passo por Miguel rumo à catraca que é a saída do terminal. Enquanto passo por ela, observo que Miguel vem logo atrás. Espero um pouco, com uma enorme vontade de conhecer um pouco mais dessa figura. Olho pra ele e digo:

-- O Caco é um cara muito gente-boa, né?

Ainda com seu ar grave (que é simpático) ele confirma minha opinião e completa:

-- É assim que a gente aprende, velho.

Dito isso, desejou-me um bom fim de semana e tomou um rumo contrário ao meu.
Também tomei meu caminho rumo à casa, pensando que a minha felicidade numa descoberta (eu quero descobrí-la todo dia): Viver Livre.
Viver Viver Viver
Viver, velho.
É assim que a gente aprende.

domingo, 18 de outubro de 2009

mente-suja

o mente suja é aquele que escorrega no duplo sentido.
Quase sempre, o duplo sentido tem uma conotação sexual
E, geralmente, o resultado desse escorregão é uma gafe.

Volta-e-meia eu tenho os meus momentos mente-suja.
Pois é, e hj descobri mais uma.
Gosto muitos dos mutantes, aquela banda da década de 60, que sobrevive até hj, uma das maiores (a maior?) do Brasil.
Pois então, tem uma música deles, que eu adoro, chamada Top Top.
escuto direto. ja escutei dezenas de vezes ela.
e eu sempre achei que a letra dela era assim

Eu vou sabotar
Vou casar com ele
Vou trepar na escada
vou pintar seu nome no céu


ou seja, ela ia casar com o cara
ia trepar na escada, ou seja, ia foder na escada, fazer sexo, um coito, tanto faz o nome.
a questão é que a letra não é assim.
descobri isso dias atrás. Na centésima vez que ouvi a letra, reparei que ela era diferente.
eis a forma correta do trecho, composição de mutantes e Arnolpho Lima Filho:

"Eu vou sabotar
Você vai se azarar
O que eu não ganho eu leso
Ninguém vai me gozar, não jamais !!

Eu vou sabotar
Vou casar com ele
Vou trepar na escada
Pra pintar seu nome no céu
"


Ou seja, a santa moça, ia subir numa escada - o objeto
para, romanticamente, pintar o nome do cara no céu.
E eu maliciando a menina!

ai, ai, mente-suja é foda.
foda nos dois sentidos.

:P

intimidade

eu não sou poeta
(bem que eu queria)
eu só tenho palavras demais.

ah, que mentira!
Palavras demais..
tenho as mesmas palavras de todo mundo
sou apenas mais safado com elas

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

das capas de livros

Sabe aquela frase "Não julgue um livro pela capa"? Pois é. Eu julgo. Primeiro porque desconfio de todo livro feito numa edição ruim, com aquele papel ralo, que mais parece guardanapo do que folha. Nisso posso me enganar, mas geralmente estou certo quanto a esse pré-julgamento. Título é outra coisa que utilizo para julgar. E aqui os enganos são maiores. Um exemplo é um livro muito legal de um autor francês chamado Pierre Bayard: "Como falar de livros que não lemos?" Título bem safado que leva o leitor a pensar que se trata de um manual para vagabundos que querem se passar por grandes leitores. Grande engano. Aliás, já escrevi sobre esse livro aqui.
Mas continuo a fazer meus pré-julgamentos. A palavra felicidade, por exemplo. É uma das bases dos livros de auto-ajuda. Se essa palavra tá no título, geralmente é porcaria. "Buscando a felic.." ou a variante "como ser feliz...e bláblá"
Mas quero voltar para as capas. Além de julgar um livro pela capa (é claro, eu o folheio também, leio orelhas e etc), eu compro livros pelas capas. Uma edição bonita me apaixona. Uma editora que tem capas maravilhosas é a CosacNaify. É cada capa! À cada dia as editoras capricham mais nas capas. Não precisa ser grandiosa: às vezes, uma bela fotografia (como as capas da editora Alfaguara) ou até uma capa simples, mas com boa escolha de cores e tipos de papel (como a Rocco ou a Record). Enfim, não há um grande segredo. Mas que eu compro livros pela capa, ah eu compro.
Estou falando, especialmente, dessas edições mais recentes, já que a maioria das antigas não tem tanta beleza e tanta variedade.
Mas há um outro lado. O lado das capas ruins. Uma coisa bizarra é aquele livro que tem a cara do autor estampada na capa, como se ele fosse maior do que o livro. Bem, se a capa sugere isso, é certo que a obra não vale nada. Mas não é esse o único tipo de cada ruim. Como eu disse, antigamente não havia essa consciência em todas as editoras, o que resultou no surgimento de capas toscas. Nunca me esqueço de uma vez em que, revirando livros num sebo, deparei-me com um exemplar de "A carne", romance de Júlio Ribeiro escrito lá por 189.. e alguma coisa ou início do século XX. Enfim, esse livro na época chocou uma parte da sociedade por conter referências claras (na verdade, nem tão claras assim, o autor mascara com metáforas. Mas todo mundo entende) à sexualidade da protagonista. Uma cena de sexo aqui, outra de masturbação ali, tudo bem floreado, e pronto. O resto era um romance naturalista/romântico que dá sono no leitor. Mas nesse sebo, chamou-me a atenção a capa do livro (edição da década de 80): uma mulher com os seios de fora. Só isso. Ora, a protagonista do livro não era uma stripper. Era só uma mulher comum. Mas para rotular o livro como "quente" (coisa que não é, só foi naquela época e olhe lá) a editora botou essa capa safada lá.
Outro exemplo paracido de capa safada é de um livro que li há pouco tempo. Escrito pelo estadounidense Henry Miller, chama-se o mundo do sexo. A capa do livro, numa edição de 1975 que eu tenho é essa aqui ó:




Diferentemente de "A carne", este livro tem, sim, o sexo como tema. O autor discorre sobre o sexo: como o homem o vê e o trata. Apesar de ser escrito em outro contexto (EUA e a europa, no início do século XX) o livro tem algumas reflexões bem interessantes do autor. Com um linguajar bem despojado (ou seja, com bastantes palavrões), o autor conta causos de sua vida e faz reflexões bem profundas sobre o sexo, diria até filosóficos, se levarmos o papel da sexualidade na forma de como o homem se enxerga. Enfim, gostei muito. O problema foi essa capa, né. Eu sei que o sexo é o tema central do livro, mas precisa fazer uma edição tão tosca como essa? Bem, acho que isso em 1975 era normal, né, imagino que foi uma década em que havia um desejo de liberdade de expressão (em vários níveis, um deles sexual) daí, esse grande apelo de imagens sexuais que tomou conta das mídias (revistas, livros, programas de tv, filmes, etc.) nessas décadas (70 e 80).
Eu costumo ler em todos os lugares possíveis. Por isso, enquanto lia esse livro, tomei cuidado de ocultar a capa em lugares públicos, num ônibus, por exemplo.
Aí vc pensa: "nossa como o eduardo é fraco, fica se preocupando com o que os outros pensam" Mas ora, a capa do livro dá a entender que estou lendo uma chanchada pornográfica de quinta categoria! A edição velha e amarelada contribui pra isso. Passar por tarado consumidor de baixa literatura? Eu é que não!
Mas já passou, já li o bom livro do Miller. Aliás esse é um livro que pelo título e pela capa engana muitos. Afinal, trata-se de um ótimo livro (para se ter uma ideia, a minha edição conta com um prefácio de um crítico do porte de Otto Maria Carpeaux, analisando a obra de Miller)
Mas é isso, são as capas e títulos no enganando. É da vida.

:D

domingo, 11 de outubro de 2009

querido diário

quando estou fazendo um trabalho acadêmico, uma das coisas que eu faço primeiro (por ser uma das mais deleitosas para mim) são as referências bibliográficas.
tem explicação sim. mas que é uma coisa boba, é.

das antologias

pois é, aniversário. Festinha, presentes, coisa e tal. O presente mais amado foi da mais-amada Daia. Livro, é claro. Ganhei dela "Os melhores contos da américa latina." Por meio dessa antologia, desfila diante do leitor, um painel do pensamento latino-americano. Não queria incitar uma exclusão, mas tirando os nossos amigos Yankes, tem-se um continente, um bloco -muito heterogêneo, é verdade, com culturas riquíssimas e variadas, mas que, ao mesmo tempo, possui muita coisa em comum entre seus países participantes. Somos iguais na tragédia: os processos coloniais que destruíram povos, misturaram outros e fizeram nascer outros ainda. Tais lutas reverberam até hoje em guerras civis em países como Haiti e, mais recentemente, Honduras.
Ainda estou lendo esse livro, que tem 80 contos. Estou no começo, que traz as primeiras narrativas curtas (de cronistas peruanos, venezuelanos e um trecho de um livro místico guatemalteco). O nosso Brasil surgirá mais para frente com Machado de Assis, Arthur Azevedo, Inglês de Souza até chegar nos modernos Trevisan, Rubem Fonseca e C. Lispector. Enfim, é um livro de encher os olhos, organizado pelo escritor Flávio Moreira Costa.
Sou um aficcionado por essas antologias, pois sei que é quase impossível não ser um bom livro. Tenho em casa, os "Cem melhores contos brasileros do século [XX]" e "As cem melhores crônicas bras...." , e agora mais essa. Todos eles maravilhosos. Há textos únicos, magistrais.
Estou namorando, há tempo, outras antologias como As cem melhores histórias eróticas da literatura universal (que tbém é organizada pelo Flávio) e os cem melhores poemas brasileiros do século. Aos poucos, realizo esses meus sonhos de consumo-devoração.


Falando nisso, recentemente saiu pela Letradágua o livro "Poesia para gostar de ler poesia- antologia de poetas joinvilenses", reunindo ótimos poetas joinvilenses (que aqui nasceram, ou que aqui produziram suas obras) como Alcides Buss, Fernando José Karl e Rubens da Cunha. (esse tbém está na lista dos livros que namoro. Tenho que ir atrás dele!)

Agora chega, que vou devorar o presente do meu amor.

^^

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Leia isso porra

Dia desses (semana retrasada, acho) saiu uma reportagem no jornal, com outra polêmica cercando livros didáticos. Agora em MG. Pelo jeito ninguém aprendeu depois do episódio de "censura" aos livros do Cristovão Tezza. Continuam a repetir asneiras.
Trata-se de um livro didático de língua portuguesa que apresenta, em alguns textos literários (não sei quem são os autores dos textos), contendo palavras de baixo calão, ou seja, os bons e velhos palavrões.
O repórter colheu depoimentos de pais, alunos e do professor. Todos condenaram a existência de termos como "filho da puta" e "vai tomar no cú", nas falas de personagens que demonstravam raiva. A fala mais forte (e burra) veio do próprio rofessor: "Eu fiquei indignado. O aluno, por mais que fale esse tipo de palavras, não é na escola que ele deve aprender. Aliás, na minha sala de aula nem o direito de falar isso ele tem"
Ora, se partirmos dessa premissa (de que tudo aquilo que se lê em sala de aula tem intuitos didáticos) chegaremos a absurdos, como não podermos utilizarmos nenhum texto que contenha personagens que fumem, pois assim estaremos ensinando os jovens a fumarem. Nem cenas de sexo. Nem cenas de assassinato. Vejamos.. "O ateneu" com crianças peraltas (e lá tem uma cena de assassinato também)? Não, isso iria incitar as crianças a aprontarem. Que tal "O cortiço", de Aluísio de Azevedo? Nem pensar! Lá tem cenas de sexo! e de crimes! E dom casmurro, o clássico? Não, absurdo! Com um protagonista, o tal do Bentinho, que pensa em matar seu filho com um café envenenado. Oh, céus! Não podemos levar esses maus exemplos para as crianças!
Isso tudo é ridículo!
O que vou dizer é um grande clichê para quem compreende o valor da literatura (e da arte em geral): a literatura não tem compromisso com nada. Ela quer desnudar o homem, mostrar quem ele é. Se é bonito ou não; se é pomposo ou grotesco; isso não importa. A palavra é desnudar. E vem um bando de falsos-moralistas jogar mantas sobre isso: H-i-p-ó-c-r-i-t-a-s.
As pessoas falam palavrões? Falam! E muito. E isso é bom? Ruim? Olha, bonito não é. Se fosse bonito, papo de namorados era assim.

-- Amor, você é tão bonita. Parece uma putinha.
__ Ai, obrigada! Você também, é um grande (um grandíssimo!) merda.

Um palavrão é uma tentativa. Uma fuga. Quando alguém diz um palavrão, fala sabendo que trata-se de uma palavra "ilegal". E fala para "quebrar" essa norma. Um palavrão, nesse sentido, é um ato marginal.
Vou dizer por que vejo um lado positivo no palavrão. Muitas pessoas tem medo das palavras. Se alguém fala "inferno!", ah pronto, abre logo a boca de espanto. Cocô, buceta, inferno: eis aí o resumo. Geralmente o "baixo calão" vem de uma imagem escatológica, sexual ou oriunda de crendices (diabo, demonho, macumba, saravá, etc), mas principalmente dos discursos relacionados ao sexo. Discursos sexuais (existe esse conceito, será? :P)
E é isso. Nossa língua nos reflete. Falamos muito de sexo. Ou melhor, pensamos(há quem não goste dessa generalização -pensamos- mas deixa assim) muito em sexo. Talvez pensamos demais e falemos pouco. Aqui entra o palavrão. Ele tem diversos fins: explicitar raiva, desespero, alegria! (veja o video para o qual coloquei o link abaixo), ou uma ofensa (e aqui, seu uso não é legal). Mas nós falamos. Somos humanos. Humanos com medo da própria língua.
Pelo amor do demonho! (como diria o protagonista de "ensaio do vazio" de C. Henrique Schroeder) Parem de perseguir os textos literários! Se você não fala, eu respeito. Mas que você pensa neles...ah você pensa. (Veja o video, please)
Para ilustrar o valor do palavrão de forma bem-humorada, tem um video muito legal. Mas como estou com preguiça de baixa-lo e depois postar, vou botar só o link para você ver no youtube. Copie e cole. Os comediantes Marcius Melhem e Leandro Hassum estão impagáveis nesse tratado sobre palavrões.
É isso gente. Tem mais não.



Ah, já sei. Você não vai poder ler. Tá com preguiça. Ou melhor, a vida tá corrida, né? Muitas coisas a fazer. Tudo bem, eu entendo.

Entendo nada! Vai tomar no cú!
assista o vídeo lá, seu filho da putaaaah!
pois é bom, garanto!


Ou melhor, clique aqui para ver o video. http://www.youtube.com/watch?v=ADyc_t7qV6s


:D

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

o tal do Skoob

Pois é, depois dos famosíssimos msn e orkut, do recente twitter e do pouco usado facebook, acabo de entrar para mais uma rede social da internet. Aff, mais uma? Pois é, não resisti. Não resisti pois se trata de um assunto que eu adoro: leitura. A proposta do Skoob é criar uma rede de contatos para troca de experiências de leitura.
Cada pessoa tem seu perfil, onde expõe os livros que leu, os que tem, os que vai ler, os que emprestou, os que deseja e os que abandonou. Tenho gostado bastante.
Entretanto, dando uma rápida olhada em perfis diversos, vejo que não é todo mundo que consegue, efetivamente, estabelecer uma rede de contatos. A maioria das pessoas -inclusive eu - tem poucos amigos no skoob, resultado da pouca aderência, aliada à pouca leitura. A princípio o skoob se mostrou para mim como mera exposição das leituras de cada um, ou seja, futilidade. Mas tenho notado como algumas coisas são interessantes. O maior problema é ter saco para achar (há um sistema de buscas) livro por livro para salvar os que vc já leu. É preciso paciência :~
Bem, lá você também dá notas de 1 a 5 para os livros lidos e pode postar resenhas sobre os livros e consultar as resenhas que outras pessoas fizeram para aquele livro que vc leu. Nesse sentido, o skoob é muito interessante. Basta ter gente lendo, produzindo e tendo iniciativa!
Ainda sou um novato no skoob, ainda estou na fase de experimentação. Mas tenho gostado. Antes sair do frio facebook do que do skoob.

É isso aí pessoal, se alguem se interessar, eis o meu perfil no skoob

E se alguém fizer cadastro, me mande um convite. Estou precisando de contatos! haha


Abraço!
=D

domingo, 27 de setembro de 2009

Ultimamente...

...tenho postado poucas coisas sobre literatura...enfim...como eu disse no primeiro post desse blog, aqui eu falo de tudo. Mas isso se deve ao Daki-Dali, o blog em parceria com a Daia. Tenho postado algumas coisas sobre literatura lá. especialmente, da Infanto-Juvenil. Visitem-no.

=D

dos vereadores

Tenho certeza de uma coisa: mil eleições passarão, mas eu nunca ficarei contente (e tranquilo) com a equipe de vereadores da câmara se não houver alterações nas leis que regem a composição desse quadro¹. Hoje, qualquer pessoa pode se tornar um vereador. O que é preciso? popularidade (e isso vale para todas as esferas políticas brasileiras. Chovem candidaturas - e eleições - de "personalidades" toscas como Frank Aguiar (au!), Clodovil Hernandez e por aí vai. Um cantor é facilmente eleito (Sérgio Reis, a propósito, acaba de se filiar ao PV, e planeja sua candidatura). Um senhor de engenho é facilmente eleito (como Sarney e seu cabresto). Enfim, basta ser famoso, ou ter influência (leia-se dinheiro) para conseguir uma vaguinha no poder público.
E o que se deve, então, ser reformado nesse sistema eletivo? Ora, estamos elegendo pessoas para o legislarem em prol da cidade. Pensar em cidade, em todos os seus âmbitos, exije -mais do que uma visão global- conhecimentos básicos de Economia, Geografia, Legislação, História, Medicina e muitas outras áreas.
Eu sei que existem as comissões que auxiliam os vereadores com os conhecimentos técnicos. Mas não basta! Não basta! É óbvio que não estou falando em vereadores P.h.d's, como não estou falando em economistas formados, geólogos formados, médicos formados. Quero dizer que tais legisladores precisam ter a capacidade de pensar os problemas da cidade com um mínimo de inteligência, precisão e lógica. E sem esse referencial técnico (conhecimento na área) não há como. Não basta ele ser um chefe, um líder nato, se não consegue organizar suas ideias e aplicá-las.
Por que não exijir dos candidatos esses conhecimentos? façam uma prova. Nada de mais. Incluam apenas perguntas que qualquer cidadão inteligente saiba responder. Elejamos pessoas decentes, e não um bando de bestas, que só sabem ganhar à custa dos impostos dos otários, nós.


NOTAS INÚTEIS:

¹ O Apocalipse, o infinito, os restos de Atlântida, a última página do Ulysses de Joyce, enfim, tudo me parece mais perto do que a mais-que-necessária reforma política.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

faz parte...é da vida ou ¬¬'

-- Ah, vc faz letras...que legal...sabe, eu estou lendo. Estou lendo A cabana..já leu?
-- já ouvi falar
-- Ah, e vc tá lendo o quê?
-- Um romance. O nome é Boca do Inferno
-- O quê? Boca do Inferno...isso lá é nome...uxi...
-- ¬¬



-- Meu sobrinho querido, olha aqui, comprei pra vc: Conversando com Deus. Olha, a moça da livraria disse que ele é muito bom! Disse até que ele é um dos mais vendidos!
-- mais vendidos,é?...
-- sim! Isso é coisa boa. A menina disse que vende que nem água..
-- ah, deve ser interessante...¬¬



-- que tipo de livro você lê
-- poesia e romances, geralmente
-- Só?
-- bem, acho que sim. Porquê?
-- Só romances...ah, eu sou mais variada. Gosto de aventura, mistérios..livros de drama... diferente de você que só lê histórias românticas e...bláblá
-- ¬¬



(quietinho num canto, lendo)
-- (olhando para a capa do livro)Que é isso rapaz?
-- que foi? estou lendo.
-- e o que é isso que lê? "O mundo do sexo", que chanchada é essa?
-- ¬¬ .Um romance. Henry Miller é o autor. É americano, ele.
-- Mundo do sexo...gente! gente! olha só o que ele tá fazendo: lendo um manual de sexo! o que vc quer descobrir que vc não sabe, hein? humm, rapaz curioso...
-- ¬¬



-- ui, rapaz! você sempre com seus livros! você não cansa, não?
sempre lendo e lendo...eu sei que ler é bom..mas muito assim...sei não... e blá blá
-- ¬¬

Discutindo a língua...

Adoro essas discussões sobre a nossa língua.
Leiam se puder...volta e meia me pego pensando nisso também...

É uma postagem recente do blog da Lola Aronovich (humm, terei acertado?)

Abraço!
=D

sábado, 19 de setembro de 2009

A Marcha para a Diversidade e a Parada de Jesus

Como se sabe, a Marcha para Jesus e a Parada da Diversidade foram dois eventos que movimentaram Joinville nos últimos meses. E, como se sabe, ambos contaram com o apoio da Prefeitura de Joinville, na figura do prefeito Carlito Merss. Para a semana da diversidade, a prefeitura destinou o patrocínio de 25 mil reais. Para a Marcha de Jesus, financiada por pastores da cidade, a prefeitura foi mais modesta: colaborou com a organização e com a divulgação através de panfletos.
Dia desses, lendo o jornal/tablóide Gazeta de Joinville, deparo-me com uma matéria(escapou-me a definição exata, mas vá assim mesmo) contendo 24 trapalhadas do governo Carlito. E eu fui lendo e assentindo, lendo e assentindo.. (afinal, Carlito ainda não cumpriu boa parte de suas promessas)... aí, de repente, me deparo com essa "comparar a Semana da diversidade com a Marcha para jesus".

Ah, pronto. Fechei o jornal/tablóide.

O prefeito Carlito tem decepcionado - e muito - por não cumprir suas promessas de campanha, mas dessa vez estou com ele. Num ato bonito, Carlito publicou um artigo no jornal Notícias do dia defendendo o evento e comparando-o com a marcha para Jesus. Foi o bastante para incendiar a revolta por parte de alguns ignorantes, entre eles, os editores da Gazeta.
A Marcha para Jesus foi um evento religioso, uma confraternização dos cristãos. Ponto. A Parada da diversidade tinha um objetivo bem diferente, social - uma confraternização em prol da liberdade de orientação sexual. Eventos que podem ser comparados, pois são, na teoria, dois eventos pró-liberdade de expressão seja ela sexual ou religiosa.
Mas foi só o prefeito defender a parada, que passaram a chover críticas preconceituosas. Palavras do Carlito:

“Por ter um compromisso com toda a sua gente, a prefeitura de Joinville não poderia se omitir. Se a Maria gosta do João que gosta do Chico que gosta da Ana que não gosta de ninguém porque curte a Maria. O que e importante? E apenas assumir de forma sincera o que acreditamos e viver a vida sem culpas fabricadas por preconceitos”

Primeiro que a fala do prefeito é louvável pelo respeito às diferenças. E segundo que ela lembra (e é bem provável que intencionalmente) o poema "Quadrilha" do Drummond (lembram?).
Preciso lembrar que o preconceito aos gays é imenso em nossa sociedade?
Preciso dizer que a cidade de Joinville é composta principalmente de cristãos?
E preciso dizer que para a religião cristã não há espaço para a homossexualidade?

Aí reclamam da comparação entre os dois. Realmente. Não faz sentido.
Por toda a opressão e preconceito em torno dela e de seus participantes, a parada tem bem mais valor.

domingo, 13 de setembro de 2009

Que anoiteça logo, que amanheça logo...

Meu Deus... sábado passado, no ônibus que voltava de São Paulo, o pessoal resolve assistir Crepúsculo, filme baseado no best-seller de Stephany Meyer (desconfio de que grafei errado, mas vá lá).

Eita, nunca vi filme mais ruim! Tudo bem, confesso, eu já vi piores. Mas ele é muito ruim, ainda mais se lembrarmos o sucesso de bilheteria que ele é.

Sucessão de clichês. Comenta-se a castidez do par protagonista (a tal da Bela e o tal do Edward - o vampiro). Ok, um fato não-clichê. Mas não importa. As outras dezenas de partes do roteiro são ridículas.

Quando começou o filme, jurei pra mim mesmo: verei até o final. Não serei injusto. Mas quando os alunos da escola de Bela começaram a falar nos preparativos para baile de formatura... ah, não...não aguentei e virei-me. Baile de formatura? existem mais ou menos uns (deixa eu ver) 6.568 filmes adolescentes, em que os personagens participam de baile de formatura. Aff!

Não quero nem chegar perto do livro da Meyer.
Preconceito? dane-se.

Não se julga pela capa, mas julgo pela adaptação cinematográfica:
Grande porcaria

Meretíssimos idiotas

É com enorme alegria e filhadaputice que recebo a notícia sobre o aumento dos ministros do Supremo. Lembrando que, quando se aumenta o salário dos Ministros, aumenta-se também centenas de outros salários (executivo, do MP..) que estão ligados a esses primeiros.

É isso aí, gente!
Isso Brasil, mostra a tua cara!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Do dilema das traduções

Há pouco tempo, postei aqui uma lista de dez começos inesquecíveis (não diria "melhores", pois meus gostos são outros). Pois bem, um desses começos é do romance Lolita, de Vladimir Nabokov que conta a trágica história da paixão de um homem maduro por uma menina, muito mais nova que ele.

De fato, o começo de Lolita mereceu seu espaço naquela lista. posto aqui para relembrar:

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade"

Ocorre que, empolgado pelo início bonito, fui atrás do livro para, quem sabe, lê-lo.
Mas eis que abri no primeiro capítulo e me deparo com o seguinte início:

"Lolita, luz da minha vida, fogo de meu lombo"

opa, peraí! É lombo ou virilidade?
A saída para isso seria checar o original, mas como o meu conhecimento em língua estrangeira é medonho (não domino nenhuma outra) é óbvio que isso seria inútil. Bem, resta confiar nas fontes:

A primeira frase, retirei daquela postagem do blog (Bloguefilmes, algo assim). Lembro-me que na postagem original, não havia citação de onde foram retiradas as linhas. Assim, fica difícil saber se foi extraído de um livro, traduzido por alguém competente, ou se o texto foi vertido por um zé-tradutor qualquer.
Quanto ao segundo início de Lolita, retirei-o de uma edição da década de 80, pela Abril Cultural (é de uma coleção de romances bem conhecida do público). A tradução é de Brenno Silveira - desconheço. Mas, enfim, pelo menos tem-se uma editora, um tradutor e certamente um revisor.

Mas fica a dúvida: lombo, virilidade ou os dois servem?

A versão mais confiável, a segunda, é a mais estranha. "Fogo de meu lombo"? Isso não é tão sensual quanto "fogo de minha virilidade". A palavra lombo, no português, remete-nos primeiramente ou à surra (lombo quente, haha) ou a um bom pedaço de carne súina. Mas nada disso importa se não investigarmos a intenção do autor. E como não entendo neca de pitibiriba de nada, chego a esse dilema das traduções.

Uma tradução, por mais cuidadosa que for, nunca será versão fiel do original.
Toda tradução é um ato de criação. Obviamente não se compara o processo de elaboração de um poema ou romance com o processo de tradução do mesmo. Criar é bem mais complexo. Entretanto traduzir é, sim, um ato de criação, pois para adaptarmos certo texto para outra língua, seguindo a observação tantos e tantos quesitos (os significados, os jogos de palavras, o ritmo, etc..) será quase sempre preciso modificar o texto. Adaptar/traduzir é recriar um texto. E uma simples alteração que seja, já é uma grande ação.

Resumindo: ler traduções só é válido se tivermos em mente o real valor delas e a sua posição em relação ao original. (Bom mesmo é ler os autores de língua portuguesa, e aproveitar toda a riqueza da língua)

PS: Ainda sobre isso, dia desses eu conversava com o Juliano sobre a difícil tarefa de traduzir. O problemas começam na tradução de uma única palavra.

Por exemplo: digamos que no meio de um dado poema, conta a palavra Nobody.
A tradução mais óbvia, quase instantânea que se faz é para "ninguém"

Entretanto, é claro que no original - nobody - há uma outra palavra dentro dela (body, que significa "corpo") e que forma seu significado: nenhum corpo, nenhuma pessoa.
E a tradução para o português... ninguém? Contempla toda essa significação? Traz essa ligação com a palavra "corpo"? (que pode apontar para inúmeros outros caminhos de leitura do texto, como por ewxemplo, dar uma carga sensual à frase)

Nada! O ninguém do português apaga todas essas marcas e, consequentemente, desmancha toda uma teia de significação!
O que fazer diante disso? Não sei. Só sei que vida de tradutor não é fácil.
E a de leitor também. Repito: nunca podemos nos esquecer as gigantescas diferenças que há entre os textos original e traduzido.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dicas para escrever, de M. Freire

Olá pessoas,

Nesses tempos de muita preguiça e muitas ocupações (duas coisas que não combinam, mas eu visto as duas)... a maioria das postagens desse blog serão amenidades. Comentários curtos ou "colagens" de coisas que encontro por aí. Mas, para não perder os poucos e bons que por aqui passam, garanto que serão coisas interessantes (pelo menos eu acho =D).

Um exemplo está colado logo abaixo. Extraídas do blog do Marcelino Freire, escritor do qual pouco conheço. Na verdade, nada. Pretendo lê-lo. Quem sabe melhor dele é o Ítalo, que já fez algumas postagens sobre esse escritor em seu blog.

Eis aí, 20 microdicas (nome dado por Freire) desse autor para quem quer escrever.
São ótimas! Leiam.

PARA ESCREVER:

[01] Cortar palavras.
[02] Não usar gravata na hora de escrever.
[03] Nem incensos.
[04] Ouvir, mesmo que baixinho, a própria voz.
[05] Abrir as orelhas para a rua.
[06] Desconfiar daquele texto que sua mãe gostou.
[07] Matar a família.
[08] E ir ao cinema.
[09] Ler muito.
[10] E reler muito.
[11] Reescrever, reescrever, reescrever.
[12] Reescrever, reescrever, reescrever.
[13] Ler os clássicos.
[14] E os novos clássicos (contemporâneos).
[15] Pirar.
[16] Respirar embaixo d'água.
[17] Beber.
[18] Viver.
[19] Não se levar a sério demais.
[20] Muito menos essas dicas, etc. e tais.

Eu adoooorei! Muito bom!

Abraços a todos

domingo, 6 de setembro de 2009

Rap de qualidade

Olá, pessoas

Esse link aqui é o da página no My Space dos SELENITAS, grupo de rap muito bacana aqui de Joinva, do qual meu parceiro Júnior participa.
É pra quem gosta desse ritmo que, como qualquer outro, tem seus lixos e luxos.

São apenas três músicas por enquanto, o primeiro CD está sendo produzido.
As três faixas são bem produzidas e com versos bem legais.

A minha preferida é a mais recente, que leva o nome do Grupo. Recomendo.

Abraço a todos!

=D

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Só faltava essa...

Acabei de ler no blog Exercitando, do Victor Pereira, a notícia de que Fernando Collor (sim, ele mesmo) acaba de ser eleito para a Academia de Letras do Estado de Alagoas. My God! E, ao que parece, foi eleito por possuir nove livros escritos (que ninguém nunca viu).
Senado, Academia de Letras, Prefeituras, Câmaras...olha, nada está salvo. Nada.

Esse é o tipo de coisa para o qual a gente diz: "SEM COMENTÁRIOS!!!"

¬¬


PS: Outro que escreveu sobre essa notícia bizarra foi o Róbson, em seu Bem Amargo. Segundo ele, Collor apenas publicou alguns artigos e discursos: ou seja, nada foi vendido; nada de literatura; nada de livros. Resumindo: mais uma armação.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

10 melhores inícios de romances

Essa lista foi feita pelo American Book Review e publicada no blogue do BiblioFilmes Festival (interessado? Jogue no google, que tô com preguiça de linkar), no qual divulga e apresenta o top 10 das cem "primeiras linhas" em romances que a revista considera as melhores (mais o escritor e livro):

1. Chamai-me Ismael. — Herman Melville, Moby Dick (1851)

2. É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa” —Jane Austen, Orgulho e Preconceito (1813)

3. Um grito atravessa o céu. —Thomas Pynchon, O Arco-Íris da Gravidade (1973)

4. Muitos anos depois, em frente ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou a conhecer o gelo. —Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão (1967)

5. Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. —Vladimir Nabokov, Lolita (1955)

6. Todas as famílias felizes se assemelham; mas cada família infeliz é infeliz a seu modo. —Leo Tolstoy, Anna Karenina (1877)

7. Rio que corre após Eva e Adão, do súbito desvio da costa até a curva da baía, nos conduz a um círculo vicioso de recirculação que retorna ao Castelo de Howth e Proximidades. — James Joyce, Finnegans Wake (1939)

8. Era um dia frio e ensolarado de Abril, e os relógios batiam as treze horas. —George Orwell, 1984 (1949)

9. Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da imbecilidade, foi a época de acreditar, foi a época da descrença, foi a época da Luz, foi a época da Escuridão. —Charles Dickens, A História de Duas Cidades (1859)

10. Sou um homem invisível. —Ralph Ellison, O Homem Invisível (1952)


************


Gostei bastante dessa lista. À exceção daquele início do Orwell (não me sensibilizou tanto quanto os outro 9), achei esses começos incríveis.
Pensando nessa lista, comecei a procurar um bom começo de romance brasileiro. Ocorreu-me de citar o "Memórias Sentimentais de João Miramar", do Oswald. Entretanto trata-se uma prosa futurista que não se parece com nenhum dos 10 romances acima. A linguagem de Oswald é rápida, concisa ao extremo, e o primeiro capítulo mais parece um poema.
Talvez o exemplo mais interessante seja Mário de Andrade e seu "Macunaíma"(deveria constar nessa lista, né? Mas creio que Macunaíma nunca foi traduzido para outra língua... dificilmente). Pois bem, eis o mais-que-original início:

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite."

Fala sério! Esse começo -como o livro todo - é sensacional!

=D

PS: A vontade de botar o Oswald aqui era grande. Vou deixar para um postagem mais adiante. :P

sábado, 29 de agosto de 2009

Sessão das Dez

Recentemente (dia 21 de Agosto) completou-se 20 anos da morte de Raul Seixas, o maior roqueiro do Brasil na minha opinião. Bem, há quem discorde, outorgando esse título para Renato Russo. Como nota-se nas palavras de Sérgio Martins (em artigo para a Veja do dia 10/06/09): "Foi como letrista e vocalista dessa banda que Renato Russo se tornou o maior nome da história do rock brasileiro."

Ok, Let's go.

Sou fã também de Renato e sua banda. Admiro -e muito- suas letras: Renato é, sem dúvida, um dos "poetas" do rock brasileiro ao lado de nomes como Cazuza e o próprio Raul. Agora... o maior nome do rock brasileiro é, indubitavelmente, o Raulzito. E é fácil provar isso.

Renato tem letras maravilhosas, sempre com muita sensibilidade na composição dos seus versos. Posso dizer que suas letras são mais poéticas (mais concisas, mais jogos com a ambiguidade das palavras, mais metáforas amargas e imagéticas)do que as de Raul, mas Renato não tem todo o leque criativo que Raul apresentou. Renato fez seu rock "marginal", contestador (lembremos também do CD "Equilíbrio distante", com músicas lentas, todas em italiano - uma obra à parte). Enquanto Raul, além de popularizar no Brasil o Rock'n roll de Elvis, Jerry Lee Lewis e outros, também soube fundir os mais diversos ritmos ao rock, conseguindo canções inesquecíveis. Renato foi um grande roqueiro: Raul, um grande músico. Fez sobretudo rock, mas sempre rodeado por outros ritmos. Além disso, no "currículo" de Raul, está sua posição contestadora e agressiva frente à ditadura militar, o que lhe rendeu um "convite" a deixar o país. Sem falar em dezenas de canções censuradas.

Mas enfim, eu - que sou um fã inveterado (inveterado... o que significa isso, né?).
Bem, eu que sou um grande fã do Raulzito deixo aqui embaixo uma lista de 10 sucessos de Raul Seixas (isso não é um Top 10), que comprovam as multifaces desse genial músico brasileiro, que - assim como Elvis - não morreu.

1- Ouro de Tolo - Essa é mais-que clássica. Foi escolhida como uma (a única de Raul citada na lista) das 100 melhores composições da MPB, numa lista da revista "Bravo!". Em primeira pessoa, a canção fala da banalidade, do vazio de uma vida (ah, mas que sujeito chato que sou /Não acho nada engraçado / macaco, carro, praia, jornal, tobogã/ Eu acho tudo isso um saco. Essa letra contém os imagéticos versos (no limite da sinestesia):
"Eu que não me sento no trono de um apartamento/com a boca escancarada cheia de dentes/ esperando a morte chegar/ porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais/ no cume calmo do meu olho que vê/ assenta a sombra sonora de um disco voador"

2- Sessão das Dez - Essa é pouco conhecida da maioria. Aqui temos uma música puramente brega, à moda de Waldick Soriano, ou até Vicente Celestino. Mas brega mesmo. Num ritmo lento e arrastado, a letra conta a história (adivinha!) de uma desilusão amorosa. Letra bem simples, melodramática, ("Curtiu com o meu corpo por mais de dez anos/foi tamanho o desengano/que o cinema incendiou"), letra que mostra mais uma das facetas de Raul, ou melhor, Raulzito¹.

3- É fim de mês - Está música também é pouco conhecida, talvez por aparecer somente no álbum Documento, lançado somente após a morte de Raul. Considero uma das músicas mais legais de Raul: tanto letra quanto ritmo. Aliás, o clip dessa música (Multishow) é muito legal, está no Youtube (recomendo!). Nessa música, Raul funde o rock ao forró, à percurssão baiana (ritmo do candomblé). A letra contém algumas críticas à massificação das mídias e à publicidade excessiva, e critica principalmente o comodismo, mal que afeta muitos.

4-Metrô linha 743- Essa aqui é sensacional! Nessa Raul vira um prosador e conta uma história surreal, sempre com uma crítica nas entrelinhas. Melhor mesmo do que eu contar a história, é dar uma olhada na própria letra dessa música, que não é cantada; dá pra dizer que contada por Raul. Eis a letra de Metrô linha 743

5- Eu sou egoísta - essa é uma das minhas favoritas, senão a favorita. A letra é ótima. O Raul Seixas desnuda o seu egoísmo e provoca "Eu sou ego/Eu sou ista/Eu sou egoísta/Eu sou, eu sou egoísta/ Por que não?/ Por que não?/ Por que não!")

6- Pagando Brabo- Outra das "desconhecidas" do Raul, constante no álbum "Mata Virgem". Uma letra bem sensual, que destaco pelo fato de que o sexo não é um tema muito recorrente nas músicas de Raul. O ritmo é muito bom, com a guitarra distorcidas, enquanto o baixo dá o tom sensual à música. Recomendo!

7- D.D.I Discagem Direta Interestelar - Nessa música muito bem-humorada e criativa, deus liga (de um orelhão) para o povo da Terra a fim de criticá-lo. Afinal, o povo está sempre descontente, e tudo que ele (deus) faz, nunca fica perfeito aos olhos dos homens. Ao final, deus avisa: "Mas se alguém ligar/ Dizendo ser eu/ Pode ser um trote do diabo/ Que já desceu/ Que já desceu!". O tema das religiões é muito recorrente nas letras de Raul. Quase sempre com o tom despreocupado e paródico, como é o caso de D.D.I e também de "Judas", em que o apóstolo apresenta sua defesa.

8- Sapato 36 - Letra muita bonita. A canção é uma metáfora para a difícil relação enre o pai e o filho, em que este resiste à imposição de idéias pelo pai. ("Eu calço é 37/ meu pai me dá 36/Dói mas no dia seguinte/Aperto meu pé outra vez")

9- Let me sing, Let me sing - Música síntese da arte de Raul: aqui o roqueiro baiano mistura o rock'n roll antigo ("que não tem perigo de assustar ninguém") com o baião, ao melhor estilo Gonzaguinha. Entre os versos de baião (fala coloquial, malandra), com a sanfona e o triãngulo, o refrão com guitarra e piano: "Let me sing, Let me sing/ Let me sing my rock'n roll"/ Let me sing, Let me sing/ Let me sing my blues and go")

10- Senhora Dona Persona - Essa, assim como Metrô 743, exigia a reprodução da letra para um melhor entendimento. Trata-se uma metáfora muito louca para a morte - a tal Senhora Dona Persona. ("Eu queria ver tua cara/ Não encontrei nenhuma cara/ Qualé, tá pensando que é deus?!"). Nessa letra, Raul cunha a frase "Os homens passam, as músicas ficam.", que é uma grande verdade - ele mesmo prova isso.


E detalhe: apesar dessa lista recheada de sucessos, ainda há muitas letras ótimas de Raul. Lembremos de "Meu amigo Pedro" "Metamorfose Ambulante" "Tente outra vez" "Maluco Beleza", entre muitas outras.

E então,
Raul é ou não é o maior roqueiro do Brasil?

=D

NOTAS INÚTEIS:

¹ No disco em que a canção "Sessão das dez" aparece ("Se o rádio não toca"), ao invés do nome Raul Seixas - como está nos créditos das demais músicas - esta tem o nome Raulzito. Como se Raulzito fosse um outro lado de Raul, lado mais romântico e brega. Aliás, há uma referência a essa "persona" de Raul em outra de suas músicas: "As aventuras de raul Seixas na cidade de Thor", que é toda composta por repentes (mais um ritmo aproveitado por Raul):

"Raul Seixas e Raulzito/
Sempre foram o mesmo hôme/
Que para aprender o jogo dos ratos/
Transou com Deus e o Lobisomem"

O menino Saramago

“Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras.”

Essa frase é de José Saramago, e foi extraída do romance "O homem duplicado", que ainda não li (:P).
Mas lendo, reparei que ela contradiz a frase que botei no no topo do meu blog.

Afinal, se tudo é palavra, como pode haver coisas que não podem ser explicadas por ela?
Aliás, o que quero dizer com "tudo é palavra"? (momento de questionar-se)

Preciso pensar mais a língua. Chegar a uma conclusão e postá-la aqui.
Mas talvez seja Saramago quem esteja errado.
Claro! Saramago é um menino ainda, pouco vivido, tem muito a aprender.

PS: O Saramago mantem uma página pessoal (não é um blog) há algum tempo.
Quem tiver interesse, há o link para ela no canto direito do meu blog. (em "Interessantes")

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Distração e Castigo

Leben, Leben, Mist Leben.

Ontem à noite aconteceu uma comigo... estava eu no ônibus, sentadinho, indo para a faculdade. Ao meu lado a Daiane, com quem eu conversava. Ofereci-me a carregar no colo, além da minha mala, a bolsa de uma outra pessoa desconhecida. Aí decidi ouvir um sonzinho no MP3. E para completar, abri o meu recente xodó: Crime e Castigo, clássico entre os clássicos, de autoria de Fiódor Dostoiévski. Ele é russo (ah é! jura!) Mas é lógico, eu estava lendo uma versão traduzida, numa edição bem bonita. (Uma coleção da Folha de S. Paulo). Enfim: um bom livro - foi um achado encontrá-lo no sebo - numa boa edição.
Se você me conhece o suficiente, já imagina a leben leben que fiz. Cheguei ao ponto final. Devolvi a mala, desliguei o Mp3 e desci. Fui para a facu. Tive aquelas aulas chatérrimas e ao final delas, ao arrumar minha mala... notei a falta da criança: Crime e Castigo -- já era. Deixei no ônibus!!

leben, leben, Mist Leben! (sim, isso é um refrão)

E olha: eu estava na segunda parte (o livro é dividido em cinco) e estava gostando muito. O livro conta a história de Raskólhnikov, um jovem estudante, que no início do livro, está pobre, sem um tostão e sem emprego. Vive num pensionato, sem pagar aluguel, sob pressão da senhoria. Poucos amigos (ele se afastou dos colegas), o jovem anda como um maltrapilho, mal vestido e despreocupado com tudo e com si mesmo. No início do livro o leitor já é apresentado ao "projeto" de Raskólhnikov: matar e roubar Alena Ivanóva, uma velha senhora usurária (empresta dinheiro, sob penhora de objetos, pra cobrar juros depois)

Até onde li, a cena em que o jovem mata a senhora (e a irmã dela também - não estava nos planos) já havia se passado. Raskólhnikov estava com a saúde debilitada, de cama, sendo ajudado por um amigo seu e pela empregada do pensionato. Na cidade, corria a investigação dos assassinatos. Até então, ninguém seguia as pistas que levavam a ele.

O livro estava muito bom, agora vou tratar de achar em alguma biblioteca pra terminá-lo e, quem sabe, voltar aqui para falar desse livro.

Leben, leben, Mist Leben!

Mas, céus! Perder um livro!! Isso, pra mim, é como perder um filho!
Estou desolado!

Leben, leben, Mist Leben!


PS: Se vc desconhece a tradução desse meu belíssimo verso, meu amigo Jumbriano explica em uma de suas recentes postagens. E explica sob uma perspectiva diacrônica! hahaha

=D

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

TESTE

LÁLAMDKLSAMDFLMSDKFMNSDK EDUARDO

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A onomatopéia na poesia

Ainda me lembro dos exemplos da professora (ensino fundamental) quando o assunto era onomatopéia.

Au-au, do cachorro.
Miau, do gato
fom-fom, da buzina... e por aí continuavam.

Coisa boba isso, né?

Mas dia desses, lendo o prefácio do livro "Desenhos mínimos de rios", do poeta joinvilense Fernando José Karl, reparei no quanto o recurso onomatopéia pode ser bem mais rico, especialmente para a poesia.

Aí vc se pergunta: só agora vc descobriu isso? pois é, só agora reparei.
O exemplo é retirado do prefácio do livro de Karl, escrito pelo também poeta Carlos Nejar:

OBSERVANDO UM SINO EM OSAKA

Sino de pedra
e nenhum pássaro
no sino de pedra.

Trinta anos o sino no pórtico do templo.

Um monge lava o sino de pedra,
depois lava-se observando o sino,
depois dança em torno do sino

e faz de suas mãos
pássaros

que pousam no sino de pedra.

Sino de pedra
e alguns pássaros
no sino de pedra.

Nesse exemplo, A repetição de "sino de pedra" marca o ritmo de um sino a bater, como bem observa Nejar. Essa onomatopéia é bem mais ampla do que as comuns, pois é realizada ao longo de todo o poema. Além disso, ela não é uma simples imitação de um som: Karl aproprio-se estritamento da ideia de "ritmo", sem se preocupar com o "som" de um sino. O resultado é essa composição excelente que vemos aí acima.
Outro exemplo diferente e muito legal de onomatopéia para sinos é esse pequeno poema de Oswald de Andrade, extraído do livro "Pau-Brasil":

BONDE

O transatlântico mesclado
Dlendlena e esguicha luz
Postretutas e famias sacolejam

Aqui, Oswald brinca com a tradicional imitação do som de sinos.(lembrando que os bondes possuem sinos acoplados em sua estrutura para anunciar sua passagem) Mas o criativo Oswald não isola a reprodução do som (dlen-dlen), ao invés disso, cria uma palavra (dlendlena) a partir da onomatopéia. Demais!
(Particularmente, acho esse poema maravilhoso. Com três linhas, Oswald apresenta um punhado de ideias e imagens)

Enfim, olhando para esses exemplos de uso inteligente da onomatopéia, reforçou-se a ideia de que todo recurso (seja ele linguístico, temático, estilístico, etc) pode ser usado com criatividade, desde que se faça um uso inteligente deles. Não há recursos gastos: o que há são autores gastos, que não ousam e ficam a repetir velhos modelos do bi-bi fom-fom.

:P

domingo, 23 de agosto de 2009

Convite!

A todos os que visitam esse blog, convido a darem uma conferida em outro:

www.daki-dali.blogspot.com

Uma parceria Eduardo-Daiane. Vamos postar de tudo, especialmente cositas relativas à cultura da cidade.
Recentemente, postamos "um tour pelos sebos de Joinville", com dicas para quem visita o comércio de livros da cidade.

Dê uma conferida!

Beijo para as raparigas e abraços para os rapagões!

Read or not read? That is the question

Seguindo à risca um costume meu, fui esse mês à livraria gastar boa parte do meu dinheiro em livros. Gosto de ler. E leio muito. Pra mim, a leitura serve para várias coisas. Muitas coisas. A mais famosa função é adquirir conhecimentos. Mas o que aprendo, por exemplo, lendo um poema-piada de Oswald? Desculpem-me a sinceridade, mas a resposta é nada. Estou falando de literatura, e quando o assunto é esse, a última coisa que penso é adquirir conhecimentos. Então por que ler? Como sou malandro e não sei responder isso, usarei uma velha técnica que consiste em desviar o foco do papo com outra questão. Por que afinal, meus caros leitores inexistentes, o que é leitura? Você sabe?
Acho que esse questionamento estava no meu inconsciente na semana passada, quando entrei na livraria e comprei "Como falar de livros que não lemos", do psicanalista e professor francês Pierre Bayard. Pelo título, depreende-se que se trata de um novo manual para vagabundos que não gostam de ler...correto? Errado. É sim um livro que demonstra como falar de livros que não lemos, ou que folheamos, ou que lemos e esquecemos. Mas, acima de tudo, é um livro que pretende provar que o não-ler não é sinal de preguiça ou falta de cultura, muito pelo contrário, para Bayard há inúmeras vantagens em não ler um livro em sua totalidade.
Eu sei, você está curioso e quer que eu conte tudinho sobre essas técnicas. Até conto, mas aviso: farei isso ao modo Bayard, ou seja, seguindo os princípios que o próprio autor expôs em sua obra. Assim, decidi escrever esse texto logo que folheei as suas páginas. Para ser sincero, li linearmente todo o primeiro capítulo, e boa parte do segundo. Foi o suficiente pra depreender as idéias centrais de Bayard que, tenho certeza, permearão todo o restante do livro. Sendo assim, poderia deixar como está: li poucas páginas e já disponho de todo o material necessário para emitir um juízo a respeito do livro. Não farei isso, pois Bayard é um ótimo escritor. Seu texto é coerente muito instigante, por isso procurarei ler mais trechos de sua obra. A leitura de seu livro é fácil, o que não quer dizer que não seja rica: a obra está cheia de alusões e paralelos interessantíssimos. (E detalhe, alguns deles feitos a partir de obras que Bayard nem sequer leu.)
O título de meu texto é uma provocação ao modo como a sociedade em geral trata o ato de ler. Pierre denuncia a ideologia da sociedade que predomina em todos os locais: desde o meio acadêmico, até uma descontraída discussão entre amigos leitores. Hoje, a leitura é vista como algo obrigatório. Há listas e listas de "livros essenciais". Aquele que lê um livro do modo tradicional, ou seja, de forma linear e aprofundada é visto como intelectual, como "entendido". Bayard questiona essa idéia. Para ele, é muito mais interessante ter-se uma visão de conjunto, ou seja, uma visão ampla que capacite alguém a situar um livro dentro de um conjunto. Nesse sentido, o mais interessante não é dominar profundamente uma única obra, pois ao fazer isso, está se ignorando tantas outras obras. O importante, pois, é identificar na obra uma idéia que possibilite compreender sua importância e sua originalidade em meio de tantos outros livros. O que autor diz é que é possível folhear livros, ler excertos, ou até ficar ouvindo o que outros dizem sobre certo livro que você não leu, e disso depreender a essência fundamental do texto para fazer juízos de valor, associações com outras obras, e situá-las em diversos contextos, sejam eles de cunhos editoriais, literários, filosóficos, políticos, econômicos, históricos e etc.
Essa é a visão de Pierre Bayard. O que penso disso tudo? Bem, a leitura desse livro foi muito interessante, pois me identifiquei com muitos dos preceitos do escritor francês. Costumo ler profundamente muitas obras literárias¹. Na visão de Bayard isso é um pouco perigoso, à medida que nos dedicamos demais às estruturas da obra e esquecemos o exterior dela, que é talvez o mais importante. Mas eu também pratico a não-leitura: há muitos livros que folheio, ou ouço falar, e que utilizo em meus artigos ou em minhas explanações no cotidiano. Tudo isso sem cara-de-pau, mas sim com a consciência de que isso é mais que possível: é recomendado. Lembrando que não-leitura não significa não abrir um livro. Podemos folhear, ler trechos aleatoriamente, e ouvir outros falarem da obra visada. Dessas formas, não estamos lendo a obra, entretanto, estamos aprendendo (e muito!). O que Bayard traça em seu livro, do começo ao fim, é a forma com que devemos fazer isso. De um modo sábio, e não vagabundo e aproveitador como pensam muitos que se deparam com o título duvidoso do livro de Bayard. Mas como já disse, o livro é muito interessante, diria até maravilhoso, se pensar que ajuda a reformar o papel da leitura na aquisição e manutenção da cultura, e principalmente, ajuda a reformar a idéia de leitura.
Enfim, quero encerrar esse texto retornando ao título desse post. A frase acima é uma questionamento que alude à uma questão erigida por Bayard: há muito mais entre o ato de não ler um livro, e o ato de lê-lo de forma tradicional, profunda e linearmente. Muito mais. Talvez prova disso seja esse modesto e safado título, que brinca com o livro de Bayard, ao mesmo tempo que recorda uma famosa frase constante no manifesto antropofágico de autoria de Oswald de Andrade ("Tupi or not tupi. That is the question"), frase esta que nada mais é, do que uma alusão à famosa frase dita por Hamlet, segurando a caveira de Iorick², na famosa peça de Shakespeare.
O Detalhe: li só um capítulo de Bayard, li o manifesto antropofágico há muito tempo e já me esqueci dele, e nunca, nunca li Hamlet.
Visse, minha nega? Talvez o nosso amigo Bayard tenha razão...

NOTAS INÚTEIS:

¹Se pensarmos que Pierre Bayard estudou muito para ser professor universitário de literatura francesa, é óbvio que o jovem estudante Bayard leu muitas obras da forma tradicional. E "Mme. Bovary", então?

² Acabo de me lembrar de onde sei que o nome da caveira antológica de Hamlet é Iorick. A famosa cena, com o nome da caveira, é citado no ótimo romance "Encontro Marcado", de Fernando Sabino, que li alguns anos atrás, e do qual pouco lembro. Hehehe.

Oswald de Andrade

DITIRAMBO

Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade


Este poema é um dos mais conhecidos de Oswald de Andrade, poeta brasileiro que participou da famosa Semana de 22, em SP. Figura polêmica, que não pensava duas vezes antes de dizer o que pensava. Além de escritor, foi professor, sociólogo (por que não?) crítico teatral e jornalista (brilhante, por sinal). Oswald é autor de ensaios, peças, romances, contos e poemas. Todos, desde o seu início, com um estilo único. Como vemos na belíssima obra acima.
É curioso pensar que Oswald, agitador do modernismo - movimento de exaltação da brasilidade- sorveu muito da cultura européia para organizar o modernismo brasileiro. Da viagem que fez à frança, trouxe uma bagagem literária, que formou seu estilo. Trouxe mais do que isso, também:


CONTRABANDO

Os alfandegueiros de Santos
Examinaram minhas malas
Minhas roupas
Mas se esqueceram de ver
Que eu trazia no coração
Uma saudade feliz
De Paris


O estilo de Oswald é apaixonante pela mistura de sua grande capacidade sintética com o seu humor ácido. Em pouquíssima palavras, ele construiu belos poemas. Soma-se a isso uma linguagem única, composta por neologismos vertiginosos e pela exaltação da linguagem cotidiana. Isso fica muito claro em Obras como "Pau- Brasil", onde Oswald nos apresenta fotografias da história brasileira, desde o descobrimento, passando pelo época colonial até o fervoroso século XX. Como vemos aqui:

BONDE

O transatlântico mesclado
Dlendlena e esguicha luz
Postretutas e famias sacolejam

_____________________________________________________________________
FIM E COMEÇO

A noite caiu com licença da Câmara
Se a noite não caísse
Que seriam dos lampiões?



Não consigo esconder a minha enorme paixão por Oswald. Para mim, o mais original dos artistas de 22. O melhor? não. Bandeira, por exemplo, criou uma obra bem mais profunda e bonita. Mas ninguém tira de Oswald seu estilo ousado e despreocupado, tão raro nos dias atuais. Apesar da influência européia, pensar em Oswald é pensar em Brasil. Pensar em poesia. Pensar na descoberta das coisas que a gente nunca viu.
Este texto não tem nada de crítico. É somente um elogio desmedido de um aficcionado por Oswald. Je t'aime, Oswald!

Do jornalismo

Eu sempre achei que todo jornalismo deveria ser neutro: imparcial, transmitindo só e puramente a notícia, sem qualquer objetivo ou intenção que não fosse informar. Mas a realidade vem me mostrando que não existe esse modo de fazer jornalismo: não há como "isolar" a informação. Quem a transmite (o veículo, seja ele um jornal impresso, televisivo, uma revista, etc.) sempre imprime algo a mais na simples notícia. Toda notícia é manipulada. Manipulação vai aqui no seu primeiro sentido: manipular - antes do ato vulgar de "distorcer" uma informação - significa mexer em determinada estrutura, trabalhar sobre ela. Hoje em dia, ganhou tons de vulgaridade, toque esse retocado pelo jornalismo. Daí a mal-fadada expressão "manipulação das notícias".

E é verdade. Toda ação sobre uma certa notícia é um ato de manipulação. Os redatores da imprensa, ao definirem suas pautas, estão manipulando amplo corpus de notícias (são milhares, precisam escolher) e escolhendo aquelas que são de seus interesses. Interesses dos receptores (leitores e telespectadores), alguém poderia dizer. Não: são interesses de quem transmite, que tenta reproduzir a notícia de modo que chame a atenção de seus receptadores, gerando, assim, o lucro.

E esse exemplo das pautas é um dos mais gritantes para observarmos a manipulação; há outros bem mais discretos. Por exemplo, imaginem um âncora de um telejornal apresentando a seguinte notícia:

"O presidente Lula, em discurso na cidade de São Bernardo do Campo, declarou que não vai comentar as acusações contra o senador Sarna-Sarney, por que não pode emitir juízo, já que não sabe de nada"

Esse exemplo é fictício. Mas quem assiste telejornal sabe que esse tipo de chamada é corriqueira. Mas imaginemos, ainda, que o âncora, ao falar tal texto, dê uma ênfase à última fala do presidente: "não sabe de nada", quem sabe erguendo uma sobrancelha ou então, mudando o tom de voz ao pronunciar essa parte. Com tal atitude, o âncora pode sugerir muitas coisas: que Lula deveria saber; que Lula sabe mas não quer falar, que Lula vive afirmando que não sabe de nada, etc.

Não há instrumento mais flexível para a manipulação de pessoas do que a palavra. Mas sabemos também que um simples gesto, ou uma entonação diferenciada é capaz de dar outro rumo à notícia, imprimindo nela a marca de quem a veicula.

Onde quero chegar com isso? Não sei. A princípio, penso que cheguei num beco sem-saída. Não vejo como transmitir algo com total imparcialidade. A questão talvez resida - mais uma vez - na capacidade crítica dos receptores: leitores e telespectadores, consumidores de mídias. Cabe a todos receber a notícia e dela extrair somente a informação (se é que isso é possível) e julgá-la conforme nossas concepções, ao invés de simplesmente assentir ante a notícia "retocada" pelo veículo de imprensa. Tarefa difícil, seu sei. Utópica, eu diria.

Esse texto, na verdade, serve como uma introdução para uma série de comentários - somente comentários já que não sou jornalista, sou um consumidor de mídias - sobre alguns temas (a maioria, polêmicos) que tem me enervado nesses últimos dias. Jornalismo joinvilense, nacional, mundial: falarei de várias coisas. Falarei de revistas, jornais, programas de rádio e TV, e - óbvio - de jornalistas que fazem qualquer coisa, menos jornalismo.

Até Breve!

Tens sede?

Há pouco tempo, adquiri num sebo aqui de Joinville uma coletânea de poesias eróticas intitulada "Erotismo e Sensualidade em versos". O livro pretende ser uma antologia - organizada por Renata Cordeiro - de poesias eróticas da "antiguidade até nossos dias". Há uma ressalva a ser feita: a antologia traz sim muitos poemas antigos do Egito, um trecho dos "Cânticos dos cânticos" da Bíblia e outros poemas que sequer possuem datas precisas de seu feitio; porém apresenta poucos poemas da atualidade, e para em autores famosos como Fernando Pessoa, Ana Hatherly e António Leitão (o último poema é de Layla (1973), autora que desconheço. Ou seja, quem lê se pergunta: cadê os poemas dos nossos dias? Além de Layla, não há autores produzindo poesia erótica?
Mas como disse, é apenas uma ressalvas. Deixemos de lado o capricho deste leitor chato. O que importa é que se tomarmos tal livro como uma antologia da poesia erótica feita em todo o mundo, desde as primeiras civilizaçãoes, iremos nos maravilhar.
Um dos poemas, dos mais curtos (e antigos):

"Tens sede?
Toma meu seio,
Exuberante."

-Poema de Amor do Egito Antigo


Renata Cordeiro, no prefácio do livro (o livro foi editado em 2005), chama a atenção para "a atual ausência de pornógrafos talentosos", o que responderia minhas perguntas iniciais. Mas confesso que fiquei com a pulga atrás da orelha... como pode haver ausência de atuais poemas eróticos? Dificilmente... é preciso procurar.
Recordo-me que em 1992 foi publicada a obra "O amor natural", de Drummond. Este livro só foi publicado após a morte do poeta. Adivinhe por que? Por timidez do Drummond, que até então só havia mostrado o conteúdo do livro para amigos próximos. Eu não li esse livro ainda, apenas alguns dos poemas, e disso já concluí que Renata Cordeiro poderia ter muito bem incluído o nosso gauche. E podemos muito bem dizer que, mais do que eróticos, os poemas de Amor Natural são pornográficos.
Olha só:

A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.



É preciso lembrar que o erotismo e a pornografia estão presentes em toda a obra de Drummond, como bem observou Antônio Houaiss, num estudo que fez das primeiras obras do poeta. Um exemplo é esse recorte do famosíssimo "Poema de sete faces"

"O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas
Para que tanta perna, meus Deus, pergunta o meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada."



Mas espere, deixa eu voltar para a Antologia!!!! Afinal, é esse o tema desse post.

A edição é uma graça. Algumas páginas dentro do livro são desenhos de nu feitos por Rodin (aquele do "Pensador"): uma beleza só.

É interessante colar aqui a diferenciação entre Pornografia e Erotismo, no prefácio de Cordeiro:

"A pornografia seria o relato, a narração ou a encenação de relações sexuais"
"O erotismo é tudo o que os humanos inventaram para transformam o coito reprodutor periódico dos animais numa prática infinitamente mais rica e variada..."

Bem, aí começa um problema. Então o poema do Drummond, "A língua lambe" não é pornográfico, é erótico? Então pornográfico são somente aqueles filmes de quinta categoria, cujo único conteúdo são cenas de sexo?

Difícil de acreditar. É claro que há poemas eróticos e há poemas pornográficos. É preciso um conceito mais amplo do que este. Ainda no prefácio, Cordeiro diz algo que é bem mais interessante:

"Tudo, no âmbito do erotismo é sugerido, ao passo que no da pornografia, é mostrado, é mostrado ou descrito"

Bem, basear-se nessa frase é melhor, é mais abstrato e menos limitador. Nesse sentido o erotismo é como se fosse a ironia: o dizer não dizendo. Aí, podemos dizer que o poema drummondiano é pornográfico. Por que não?

Voltando mais uma vez para o livro... ele contém poetas famosos como Fernando Pessoa, Goethe, Florbela Espanca, até desconhecidos para mim como Liberto Cruz, David Mourão-Ferreira, e Miki Rofu (qual a nacionalidade? :P), que é o autor do poema a seguir exposto:

DEPOIS DO BEIJO

"Adormeceste?"
"Não", dizes.

Flores em Maio
Florindo ao meio-dia

Na relva junto ao lago,
Ao sol,

"Podia fechar os olhos
e morrer aqui", dizes.


Bem, a maior parte dos poemas são românticos. E maior parte são eróticos, repletos de sugestões, bem longe dos poemas pornográficos de Drummond. É uma bela coleção de poemas.

=D

P.S: estou me lembrando... dia desses vi num sebo uma outra antologia (dessa vez bem mais volumosa) de poemas pornográficos (agora sim) e eróticos. Não me lembro se o organizador era o Glauco Mattoso ou a Ana Miranda (puzt, minha memória é uma M.). Só me lembro que nele constavam autores interessantes e sem papas na língua como o Gregório de Matos. Acho (preguiça de ir no google...) que é da Ana Miranda a seleção. Mas só acho! Na época tava sem dinheiro pra comprar. Ô pobreza!
Mas outra hora vou atrás desse livro!

E vou também atrás da poesia erótica e contemporânea da atualidade.
Posto nesse blog mais para a frente.


Abraço!

sábado, 22 de agosto de 2009

Evangelho segundo Judas (1:34-50)

Naquele tempo, Jesus estava numa festa de bodas de um certo comerciante da região. Os convivas cantavam e festejavam, regozijando-se com muito vinho. Mas eis que um dos anfitriões aproxima-se de Jesus.
Anfitrião (preocupado): Jesus, o que faço? O vinho está acabando e há muita festa pela frente!
Jesus (sereno): O que queres, amigo? Não faço milagres por minha vontade. O milagre não é espontâneo, depende da vontade divina de meu pai. Aconselho-o a solicitar a um de teus meninos que vá até a bodega mais próxima e compre mais garrafões para seguirmos com os festejos.
Anfitrião: Mas, senhor, hoje é Domingo. "Guardai domingos de festas como dias de guarda...". não te lembras? O único local aberto para comprar o vinho é o templo, com os vendilhões.
Jesus: Oh, é vero. Pois, então, compre o vinho no templo, oras.
Anfitrião: Mas, senhor, os vendilhões não querem palavra conosco depois daquele último "rapa". O senhor os expulsou do templo na semana passada, te lembras?
Jesus (impaciente): Ó, céus. Ok, vocês venceram. Tragam um tonel cheio de água. E rápido, antes que eu desista!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Conselho do Tio Ernesto

"Não que me repugne o extenso: repugna-me o estendido, que não é o mesmo."

Frase de Ernesto Sábato, pensador e escritor argentino, em seu mais-que-interessante livro "Heteredoxia".
Um bom toque para todos que escrevem. Em especial para aqueles que escrevem muito, e dizem pouco.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O início, o fim e o meio

Fim. Essa palavra está no imaginário de muitas pessoas. Foi ela que sempre encerrou os contos clássicos e, até hoje, encerra filmes, romances, histórias populares, etc. Na literatura, geralmente, essa palavra significa o fim da história, o desenlace das intrigas, o desfecho.
Por muito tempo, assim se comportaram as narrativas. Mas a Literatura é viva: sempre em constante movimento. Criam-se novas estruturas, novas linguagens, subvertem-se padrões, até então inabaláveis. O pensamento do homem está sempre se modificando, modernizando-se, e isso acarreta em inúmeras mudanças no modo de se pensar e fazer a arte. A Literatura é viva: eterna metamorfose. Hoje em dia, as boas histórias desafiam cada vez mais seus leitores. O tradicional esquema começo, meio e fim agora convive com muitos outros modelos narrativos. Os exemplos são fartos. Um dois mais oportunos é "História meio ao contrário", de Ana Maria Machado, cujo título já prepara o leitor para uma narrativa diferente, em que surge, logo no ínício, a clássica frase "(...) e foram felizes para sempre".
Exemplo muito interessante também é o filme "A História Sem Fim", de Wolfgang Petersen. Assim como o livro de Machado atiça o futuro leitor, esse filme traz um título que provoca o futuro espectador, afinal, como pode haver uma história sem fim? Há sim. Aliás, a história que esse filme conta é justamente sobre a Literatura: o casamento, o jogo entre o leitor e o livro. O filme todo é uma grande metáfora para essa relação forte, na qual um não existe sem o outro.
O protagonista é o menino Bastian que, convivendo num ambiente angustiante (um ambiente familiar frágil), se refugia na fantasia para poder, enfim, sonhar. E o instrumento para mergulhar no mundo fantástico é o livro. A história que o menino lê é a saga de outro jovem: Atreyu, menino corajoso que aceita a missão de salvar o seu reino (o reino de Fantasia) do terrível "nada" que o assola. Bastian vai, aos poucos, se identificando com Atreyu: compartilha suas angústias, seus medos, suas alegrias. Luta com ele, pensa com ele. Na verdade, Bastian é Atreyu (e isso é mostrado numa belíssima cena em que um é reflexo do outro). Nessa cena, é curioso o estranhamento que tal constatação causa: Bastian se recusa a acreditar que participa da história. Esse estranhamento é marca da Literatura: ela nos mostra as coisas por outro ângulo e isso, à primeira vista, assusta. Ela nos desnuda: joga luz sobre nossos desejos e medos mais íntimos. Por isso estranhamos e fugimos. Mas não demora muito, e voltamos ao texto, pois nele nos reconhecemos. E Bastian se reconhece na figura de Atreyu. A missão de Atreyu é uma tentativa de resgatar a fantasia que as pessoas insistem em deixar adormecida, permitindo que o "nada" invada o reino - o mundo - e destrua quase tudo. O nada, longe de ser algo concreto,
é bemo que sugere seu nome: a ausência de imaginação, da criatividade, do sonho, da esperança. E tudo isso Bastian vai percebendo ao correr as páginas do livro, que lê com cada vez mais vontade, até que chega o momento em que o menino se descobre dentro da história. Ele, o leitor, é quem tem o poder de salvar o reino da fantasia, basta acreditar nisso. E Bastian acredita.
Mais que uma metáfora da relação leitor/livro, o filme é um brinde à imaginação. A história de Bastian tem, sim, um desfecho. Mas não um fim. Trata-se de um ciclo. Atreyu/Bastian lutou, caminhou para chegar ao mesmo local de partida: a si próprio. Ao longo da missaão, Atreyu/Bastian percorre muitas milhas, mas a verdadeira caminhada foi dentro de sua própria consciência.
A fantasia precisa de liberdade. Como tantas outras boas história, esse filme vem nos lembrar que a literatura -e a arte em geral-, com seu espírito inquieto e questionador, é um veículo sem-igual para as pessoas embarcarem. Lembra-nos que a palavra é capaz de traduzir toda a nossa humanidade. A palavra comporta tudo: o mundo todo.

domingo, 16 de agosto de 2009

De repente, uma idéia idiota

Pilatos, se fosse vivo, não pegaria gripe suína. Porque ele sempre lavava as mãos.

=D

sábado, 15 de agosto de 2009

Os 100 melhores covers do rock

Essa é a lista feita pelo jornal The New York post que elegeu as 100 melhores regravações do rock. Essa lista é de 2007, mas como sou um blogueiro muito atualizado, só estou postando ela hoje.


1. "Stairway to heaven," Dolly Parton (Led Zeppelin)
2. "Baby got back," Jonathan Coulton (Sir Mix-A-Lot)
3. "Hazy shade of winter," the Bangles (Simon and Garfunkel)
4. "Nothing compares 2 U," Sinead O'Connor (Prince)
5. "Showroom dummies," Señor Coconut & His Orchestra (Kraftwerk)
6. "Smooth criminal," Alien Ant Farm (Michael Jackson)
7. "Personal Jesus," Johnny Cash (Depeche Mode)
8. "Against all odds," the Postal Service (Phil Collins)
9. "Easy (like sunday morning)," Faith No More (the Commodores)
10. "Tainted love," Soft Cell (Gloria Jones)
11. "Tainted love," Marilyn Manson (Gloria Jones)
12. "Under pressure," My Chemical Romance and the Used (Queen and David Bowie)
13. "Mah na mah na," Cake (Piero Umiliani)
14. "Wicked game," H.I.M. (Chris Isaak)
15. "Please, Ppease, please let me get what I want," Muse (the Smiths)
16. "Blue monday," Orgy (New Order)
17. "Satisfaction," Devo (the Rolling Stones)
18. "I want candy," Good Charlotte (the Strangeloves)
19. "How soon is now," Love Spit Love (the Smiths)
20. "Smells like teen spirit," Paul Anka (Nirvana)
21. "Walk," Avenged Sevenfold (Pantera)
22. "Let down," Radiodread (Radiohead)
23. "Crazy train," Bullet for My Valentine (Ozzy Osbourne)
24. "All along the watchtower," Jimi Hendrix (Bob Dylan)
25. "Helpless," k.d. lang (Neil Young)
26. "Louie Louie," the Kingsmen (Richard Berry)
27. "Alabama song , (Whiskey Bar)," The Doors (Weill/Brecht)
28. "Wonderwall," Ryan Adams (Oasis)
29. "Take me to the river," Talking Heads (Al Green)
30. "Walk this way," Run DMC (Aerosmith)
31. "Me and Bobby McGee," Janis Joplin (Kris Kristofferson)
32. "Gloria," Patti Smith (Van Morrison's Them)
33. "I fought the law," the Clash (Bobby Fuller Four)
34. "Star-spangled banner," Jimi Hendrix (Francis Scott Key)
35. "Only love can break your heart," Saint Etienne (Neil Young)
36. "Bring tha noize," Anthrax (Public Enemy)
37. "Satisfaction," Cat Power (Rolling Stones)
38. "You're no good," Linda Ronstadt (Betty Everett)
39. "Another brick in the wall Parts 1, 2, 3," Korn (Pink Floyd)
40. "Hallelujah," Jeff Buckley (Leonard Cohen)
41. "My way," Sid Vicious (Frank Sinatra)
42. "Always on my mind," Pet Shop Boys (Brenda Lee)
43. "Oh, Pretty woman," Van Halen (Roy Orbison)
44. ". . . Baby one more time," Travis (Britney Spears)
45. "Boys of summer," the Ataris (Don Henley)
46. "Eight miles high," Roxy Music (the Byrds)
47. "Superstar," Sonic Youth (the Carpenters)
48. "John the revelator," Depeche Mode (spiritual)
49. "My favorite things," John Coltrane (Mary Martin)
50. "If you leave," Nada Surf (OMD)
51. "Everybody's talking," Harry Nilsson (Fred Neil)
52. "Respect," Aretha Franklin (Otis Redding)
53. "Crazy Mary," Pearl Jam (Victoria Williams)
54. "Working class hero," Green Day (John Lennon)
55. "Comfortably numb," Scissor Sisters (Pink Floyd)
56. "Jolene," the White Stripes (Dolly Parton)
57. "Darling Nikki," Foo Fighters (Prince)
58. "Spider-Man," the Ramones (for 1967 TV cartoon series)
59. "I Will always love you," Whitney Houston (Dolly Parton)
60. "It was a very good year," William Shatner (Frank Sinatra)
61. "Sweet child o' mine," Luna (Guns N' Roses)
62. "Landslide," Dixie Chicks (Fleetwood Mac)
63. "King of the road," R.E.M. (Roger Miller)
64. "Nobody does it better," Radiohead (Carly Simon)
65. "(What's so funny 'bout) peace, love & understanding," Elvis Costello and the Attractions (Nick Lowe)
66. "Stop your sobbing," the Pretenders (the Kinks)
67. "I shall be released," The Band (Bob Dylan)
68 . "Chelsea hotel," Lloyd Cole (Leonard Cohen)
69. "Proud Mary," Ike and Tina Turner (Creedence Clearwater Revival)
70. "Just," Mark Ronson with Alex Greenwald (Radiohead)
71. "Jimmy loves MaryAnn," Josie Cotton (Looking Glass)
72. "Lucy in the sky with diamonds," Elton John (The Beatles)
73. "Venus," Bananarama (Shocking Blue)
74. "Jackie Blue," Smashing Pumpkins (Ozark Mountain Daredevils)
75. "Love hurts," Nazareth (the Everly Brothers)
76. "Blinded by the light," Manfred Mann's Earth Band (Bruce Springsteen)
77. "Baker street," Foo Fighters (Gerry Rafferty)
78 "Ain't that a shame," Cheap Trick (Fats Domino)
79. "By the time I get to Phoenix," Isaac Hayes (Glen Campbell)
80. "Dear Prudence," Siouxsie and the Banshees (The Beatles)
81. "Twist and shout," The Beatles (the Isley Brothers)
82. "Helter Skelter," U2 (The Beatles)
83. "Imagine," A Perfect Circle (John Lennon)
84. "Eleanor Rigby," Thrice (The Beatles)
85 "Live and let die," Guns N' Roses (Wings)
86. "With a little help from my friends," Joe Cocker (The Beatles)
87. "Hurt," Johnny Cash (Nine Inch Nails)
88. "Enjoy the silence," Lacuna Coil (Depeche Mode)
89. "I will survive" Cake (Gloria Gaynor)
90. "Rock el casbah," Rachid Taha (the Clash)
91. "Sex (I'm a)," Peaches (Berlin)
92. "Caldonia," Mos Def (Cab Calloway)
93. "Wasted," Camper Van Beethoven (Black Flag)
94. "Low rider," Drunken Boat (War)
95. "Turn, turn, turn," the Byrds (Pete Seeger)
96. "Don't give up," Willie Nelson & Sinead O'Connor (Peter Gabriel & Kate Bush)
97. "Glamorous life," the Fever (Sheila E.)
98. "Stairway to heaven," Rodrigo y Gabriela (Led Zeppelin)
99. "Since U been gone," Ted Leo (Kelly Clarkson)
100. "Star wars theme", Bill Murray (John Williams)

Essas listas, todos sabemos, sempre geram os tradicionais pitacos. Todo mundo faria ela diferente, é claro. Não posso comentar muito essa lista, pois dezenas desses covers eu nunca ouvi. Farei isso agora e, quem sabe, volto a comentar essa lista.

Mas peraí, deixa eu ver se tenho alguns pitacos aqui no bolso...


# Estou reparando que a versão de Ramones para "Spiderman" é citada. Outra deles que eu acho bem legal é "What a wonderful world", canção mais-que-clássica de Louis Armstrong. Não ousaram muito, mas verter para o punk a canção de Armstrong já é um grande feito. Cabia nessa lista.

# Bom de ver essas listas é fazer descobertas. Como nunca fui atrás, descobri algumas músicas que eu jurava que fossem originalmente de certas bandas, mas que na realidade são regravações. Love Hurts não é do Nazareth! God, isso é uma revelação. haha. E tem outras: sempre jurei que "I will always love you" fosse da W. Houston. Fiquei de cara, haha.

#O nº 61 foi dado para um cover de "Sweet Child O'Mine", do Guns, feita por Luna - que desconheço. Preciso ouvir. Mas desde já lembro que há uma regravação dessa música feita por Sílvia Machete, cantora brasileira de MPB recém surgida. Uma pegada bem mais leve, bossa. Interessante, eu diria.

#Cover perfeito é aquele que supera o original, ou dá um novo caminho para ele (nesse caso, uma releitura), como por exemplo a adição de novos ritmos ou então a troca total dele, como fizeram os Ramones com What a wonderful world.

#Bem, já que a lista é de 2007... atualizações são permitidas e necessárias. Pena que meu conhecimento musical não seja tão amplo. Não estou me recordando de covers recentes para entrar nessa lista. Apenas um: recentemente o Franz Ferdinand (aliás, preciso escrever sobre eles em breve) regravou "Call me", clássico da banda Blondie. Ficou muito bom: o Franz atualizou a música, atualizou o ritmo dando mais velocidade à musica (aquele ritmo meio lento de algumas dos anos 80, sabe?). E fizeram mantendo algumas características do Blondie, como aqueles "riffs" meio soturnos que costumam iniciar as músicas do Blondie. O Franz Ferdinand também fez um cover para "Womanizer", single recente da Britney Spears (sim, é isso mesmo). E pasmem: fiquei com saudade da Spears. Tem gente que gostou, mas pra mim nessa o Franz bobeou.

# Outra coisa que sempre vem à nossa mente quando lemos as listas, é lembrar das injustiças. Aqueles que foram esquecidos. Tem um cover que tinha que estar aqui, e nas primeiras posições! "I heard It through the grapevine", originalmente de Marvin Gaye, na regravação pelo Creedence. PÔ, é uma versão e tanto! Tão sensual quanto o original de Gaye e com um toque moderno. Essa é a síntese do bom cover! Bobearam nessa!

# E putz, como é que eu posto uma lista e não comento nada da primeira colocada, o cover da música original do Led? Putz, preciso ouvir e voltar aqui logo.

Bem, era isso.
Se eu lembrar de mais alguma coisa, volto aqui.

=D