sexta-feira, 16 de outubro de 2009

das capas de livros

Sabe aquela frase "Não julgue um livro pela capa"? Pois é. Eu julgo. Primeiro porque desconfio de todo livro feito numa edição ruim, com aquele papel ralo, que mais parece guardanapo do que folha. Nisso posso me enganar, mas geralmente estou certo quanto a esse pré-julgamento. Título é outra coisa que utilizo para julgar. E aqui os enganos são maiores. Um exemplo é um livro muito legal de um autor francês chamado Pierre Bayard: "Como falar de livros que não lemos?" Título bem safado que leva o leitor a pensar que se trata de um manual para vagabundos que querem se passar por grandes leitores. Grande engano. Aliás, já escrevi sobre esse livro aqui.
Mas continuo a fazer meus pré-julgamentos. A palavra felicidade, por exemplo. É uma das bases dos livros de auto-ajuda. Se essa palavra tá no título, geralmente é porcaria. "Buscando a felic.." ou a variante "como ser feliz...e bláblá"
Mas quero voltar para as capas. Além de julgar um livro pela capa (é claro, eu o folheio também, leio orelhas e etc), eu compro livros pelas capas. Uma edição bonita me apaixona. Uma editora que tem capas maravilhosas é a CosacNaify. É cada capa! À cada dia as editoras capricham mais nas capas. Não precisa ser grandiosa: às vezes, uma bela fotografia (como as capas da editora Alfaguara) ou até uma capa simples, mas com boa escolha de cores e tipos de papel (como a Rocco ou a Record). Enfim, não há um grande segredo. Mas que eu compro livros pela capa, ah eu compro.
Estou falando, especialmente, dessas edições mais recentes, já que a maioria das antigas não tem tanta beleza e tanta variedade.
Mas há um outro lado. O lado das capas ruins. Uma coisa bizarra é aquele livro que tem a cara do autor estampada na capa, como se ele fosse maior do que o livro. Bem, se a capa sugere isso, é certo que a obra não vale nada. Mas não é esse o único tipo de cada ruim. Como eu disse, antigamente não havia essa consciência em todas as editoras, o que resultou no surgimento de capas toscas. Nunca me esqueço de uma vez em que, revirando livros num sebo, deparei-me com um exemplar de "A carne", romance de Júlio Ribeiro escrito lá por 189.. e alguma coisa ou início do século XX. Enfim, esse livro na época chocou uma parte da sociedade por conter referências claras (na verdade, nem tão claras assim, o autor mascara com metáforas. Mas todo mundo entende) à sexualidade da protagonista. Uma cena de sexo aqui, outra de masturbação ali, tudo bem floreado, e pronto. O resto era um romance naturalista/romântico que dá sono no leitor. Mas nesse sebo, chamou-me a atenção a capa do livro (edição da década de 80): uma mulher com os seios de fora. Só isso. Ora, a protagonista do livro não era uma stripper. Era só uma mulher comum. Mas para rotular o livro como "quente" (coisa que não é, só foi naquela época e olhe lá) a editora botou essa capa safada lá.
Outro exemplo paracido de capa safada é de um livro que li há pouco tempo. Escrito pelo estadounidense Henry Miller, chama-se o mundo do sexo. A capa do livro, numa edição de 1975 que eu tenho é essa aqui ó:




Diferentemente de "A carne", este livro tem, sim, o sexo como tema. O autor discorre sobre o sexo: como o homem o vê e o trata. Apesar de ser escrito em outro contexto (EUA e a europa, no início do século XX) o livro tem algumas reflexões bem interessantes do autor. Com um linguajar bem despojado (ou seja, com bastantes palavrões), o autor conta causos de sua vida e faz reflexões bem profundas sobre o sexo, diria até filosóficos, se levarmos o papel da sexualidade na forma de como o homem se enxerga. Enfim, gostei muito. O problema foi essa capa, né. Eu sei que o sexo é o tema central do livro, mas precisa fazer uma edição tão tosca como essa? Bem, acho que isso em 1975 era normal, né, imagino que foi uma década em que havia um desejo de liberdade de expressão (em vários níveis, um deles sexual) daí, esse grande apelo de imagens sexuais que tomou conta das mídias (revistas, livros, programas de tv, filmes, etc.) nessas décadas (70 e 80).
Eu costumo ler em todos os lugares possíveis. Por isso, enquanto lia esse livro, tomei cuidado de ocultar a capa em lugares públicos, num ônibus, por exemplo.
Aí vc pensa: "nossa como o eduardo é fraco, fica se preocupando com o que os outros pensam" Mas ora, a capa do livro dá a entender que estou lendo uma chanchada pornográfica de quinta categoria! A edição velha e amarelada contribui pra isso. Passar por tarado consumidor de baixa literatura? Eu é que não!
Mas já passou, já li o bom livro do Miller. Aliás esse é um livro que pelo título e pela capa engana muitos. Afinal, trata-se de um ótimo livro (para se ter uma ideia, a minha edição conta com um prefácio de um crítico do porte de Otto Maria Carpeaux, analisando a obra de Miller)
Mas é isso, são as capas e títulos no enganando. É da vida.

:D

3 comentários:

  1. I heart Cosac.

    Mas eu ainda julgo muito mais pelo título - e pela primeira frase do livro - do que pela capa. Se eu não for com a cara da primeira frase, não tem santo que me faça ler o livro.

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  2. a cosac faz coisa belíssimas, sim.

    e eu vou também pela capa, não tem jeito.
    mas sendo coerente. folheio, como vc, orelhas, trechos, enfim...

    preciso passar mais por aqui pra dar conta de tudo!
    =D

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