domingo, 22 de agosto de 2010

BLOG ENCERRADO

Sem intenção de voltar à ativa. Continuarei no O biblio'filo pobre e no Daki-dali .Pouco tempo pra manter esse bendito. Assim que puder, cato os textos que me interessam e aí excluo o blog. abraços!

sábado, 10 de julho de 2010

quem pode, prevért, tua poesia tão simples e mágica?

PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO
(tradução de Silviano Santiago)

Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro
depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer...
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
Se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.

domingo, 27 de junho de 2010

Confabulações diversas a respeito do destino do blog Palavras Mortas

Como o blog está capenga, quase fazendo jus à expressão "Palavras Mortas", uma série de personalidades foram convidadas à deixarem suas opiniões quanto ao destino desse blog.

- Nostradamus: dia 10/10/2010 o blog será excluído. Podem escrever!

- Um advogado ruim qualquer: Excelentíssimo colega, segunda a lei blogueiricídia, prevê-se a possibilidade de pedidos de usucapião sobre blogs não atualizados por mais de 1 ano!

- Nero: se eu fosse você, queimava esse blog, e passava a me dedicar só aos outros 3!

- Euricão Engole-Cobra: Ai, a caristia. Ai, a desatualização!

- Emily Dickinson. The question is other, dear eduardo. first, you have to correct the widget, on the right . I don't write in portuguese, eduardo. Who's the translator?

- Mamãe: quiquié blog?

- Um nerd qualquer: isso vai falir. já começa pelo fato de você ainda usar o blogger!

- um poeta ruim qualquer: Mantenha o blog, pois... "nesse mundo quem mais além do peixe posta?/O carteiro e o poeta são a resposta." by poeta ruim qualquer.

- Raul Seixas - Tudo é muito subjetivo, rapaz, postar ou não, sei lá, faz o que tu queres!

- um sacana qualquer - esse blog aqui é tão ruim, e tão sem foco, que nem sua namorada lê!

- (espaço para uma possível manifestação da namorada) - [.................]

- Um matemático qualquer: somando a variante 'o tempo que você tem á disposição para atualização' com o número de blogs que você mantem, multiplicado pela frequencia em que as postagens são elaboradas (uma média de 10 dias), subtraindo desse resultado a porcentagem de vontade de manter esse blog (aqui, representada pela incógnita x), tudo isso divido por 2, chega-se à conclusão que X + Y = 666 , sendo y a chance de o blog continuar existindo. Agora é só aplicar a fórmula!

- Fernandinho Pessoa, relembrando Tio Pompeu - Blogar é preciso. Atualizar não é preciso. Ou seja, mantenha o blog, ó gajo.

domingo, 30 de maio de 2010

40 mulheres



Esse foi o primeiro livro de Clotilde Zingali que eu li. Gostei muito. É o terceiro dela, que tem 2 outros de poemas: “Oco Hálito” e “Bricolages para geladeira” Clotilde é paulista, mas atualmente mora aqui em Joinville. O belo projeto gráfico e o título provocador me atraíram para esse livro de dimensões pequenas. Dimensões gráficas, acrescente-se ( Acho que 15X15 cm.) Pois as dimensões brincam com o infinito logo ao abrimos o livro. E sabe por que? O tema do livro: mulheres. 40 perfis, 40 fotografias, 40 cenas, 40 mulheres, cada um com seu fardo e sua força. Cada mulher é representada num trecho de uma prosa poética muito bem-escrita.
E esse título? “40 maneiras possíveis de se descascar uma mulher” pode ser uma armadilha para um pensamento safado e ingênuo, de que há maneiras fáceis e seguras de penetrar no âmago de uma mulher para devorá-la. Desnudar a mulher como quem vai comer uma fruta: quem toma esse rumo acaba se engasgando com os caroços de humanidade que as mulheres de Clotilde representam. A “Gisele” (minha mulher preferida do livro) é prova disso:

“De tanto desejo nasce uma lucidez estranha. Em árvores, nas pedras do jardim, sob o fundo escuro da noite que prediz manhã de sol. Ela olha a palmeira que se desdobra sob a porta – não diz palavra – tem cachos que despontam do caule, colorações diversas e contornos; ela não, não sabe onde começa, nem sabe onde termina – é mercê de paisagens. Varada e traduzida. No vazio da sala entre tanta gente. Ela segue, se perde e se percebe. Mas quando perguntaram o que a traduzia: a poesia é meu modo de estar doente.”

Entre tantas mulheres diferentes, tem-se o relato perdido de “Angélica”:

“Abdiquei de quase todas as profundidades. Fiquei em bordas de piscinas, orelhas de livros e leituras dinâmicas. Armo estratégias, ponho o despertador sempre para as 7:30. Não necessariamente escuto ou levanto. Deu que o tempo cismou de abraçar a causa, depois se tornou meu aliado. Dias inteiros na rede. Só o farfalhar da preguiça. Parafusos todos espalhados pelo chão e eu sem a menor noção do manual. Desde cedo disseram que manuais eram coisas de meninos.”

Ou ainda, a concisão – paixão na lata - de “Sandra”:

“Nua. Batendo na porta da tua casa às 3 da manhã”

Um trecho que me comoveu é o de “Norma”. E já explico o porquê. Ó:

“Ela usa calça jeans, cintura baixa. A camiseta contorna a cintura e deixa entrever um pedacinho da barriga. Nos pés, sapatilhas. Atravessando o tronco, uma bolsinha. Senta no café ao lado da moça e faz seu pedido: uma garrafinha de chocolate e um pão de queijo. Conversa com a moça, mexe nos cabelos e olha tudo ao redor. Sorve o mundo com seus olhos. Nove anos e alguns dias.”

Assim: Você está lendo vários perfis de mulheres, uma a uma, e, lá no meio, se depara com a Norma. E percebe que se não fosse a narradora contar a idade dela, ao acrescentar a última frase “Nove anos e alguns anos”, não saberia dizer que Norma é uma criança. Uma criança entre tantas mulheres 'maduras'. Passaria batido, creio. Ok, ok, alguém poderia dizer que os diminutivos presentes no texto e a frase “sorve o mundo com seus olhos” são pistas para delinear a infante personagem. Mas ninguém tira de mim essa [estranha] visão de meninas-mulheres, uma cena constante em nossa sociedade.

Norma, Sandra, Gisele e Angélica são 4 exemplos das diversas mulheres apresentadas por Zingali. Se as 40 mulheres carregam dramas, desejos e personalidades muito diferentes entre si, em todas persiste a força de ser mulher, contra todas as barreiras que surgem, todas afirmam seus desejos e suas necessidades. Pudicas ou maníacas, pobres ou requintadas: todas sem vergonha de ser mulher. Todas mulheres de peito? Sim, por que não. De peito, de bunda. Mas também de pulso, de mente, de fibra, de raiva, de amorosidade e paixão. Todas mulheres.

Na epígrafe do livro de Zingali, versos de Manoel de Barros (“eu sou muitas pessoas destroçadas”).
O que me faz arriscar que Norma, Bianca Priscila, Analuci e as outras são pedacinhos de Clotilde.

¹Projeto Gráfico a cargo de Estevão Teuber. A editora é a Nova Letra, de Blumenau/SC.

PS: não se enganem pela foto-cartaz, tá? O livro já foi lançado em 2006 (ou 2007?) enfim.

sábado, 8 de maio de 2010

Com rima e tudo.

Triste a sina daquele poeta medíocre!
No desespero por esculpir o seu máximo soneto
- sua obra-prima -
amarrou sua amada sobre a mesa
- que além de amada, era prima -
e em 14 pedaços fez dela um poema!

sábado, 3 de abril de 2010

-- eduardo, vá atualizar seu blog, eduardo!
-- hummm... peraí...só mais 5 minutinhos...hummm

sábado, 20 de março de 2010

Opa, uma retificação!


Ah, como sou avoado! falei que estava torcendo pelo Roger mello, que concorre na categoria 'Ilustradores' ao Hans Cristian Andersen 2010, e omiti que outro brasileiro está no páreo! O Bartolomeu Campos de Queiros, que é um escritor muito sensível, com seus escritos cheios de poesia, está concorrendo em 'Escritores'.

Logo, temos dois motivos para torcida!

Bom, segue a notícia correta aqui embaixo :)

Bartolomeu Campos de Queirós e Roger Mello estão entre os finalistas do Prêmio Hans Christian Andersen 2010

Pela primeira vez na história do Prêmio Hans Christian Andersen - HCA, criado pelo International Board on Books for Young People – IBBY, dois brasileiros são selecionados como finalistas.

A Fundação Nacional do Livro Infantil e juvenil – FNLIJ, seção brasileira do IBBY, indica, de dois em dois anos, um escritor e um ilustrador para concorrer ao Prêmio. Para a edição de 2010 do HCA, a FNLIJ indicou o escritor Bartolomeu Campos de Queirós e o ilustrador Roger Mello.

A concessão deste prêmio é considerada a distinção máxima internacional dada a um escritor e a um ilustrador vivo cuja obra represente grande contribuição para a literatura infantil. Dentre os 55 candidatos que foram indicados pelas seções nacionais do IBBY, o júri selecionou cinco candidatos finalistas nas categorias escritor e ilustrador. Os vencedores em cada categoria serão anunciados no dia 23 de março, durante a Conferência de Imprensa do IBBY, na Feira de Bolonha, Itália.

Escritores Finalistas
- Ahmad Reza Ahmadi (Irã)
- Bartolomeu Campos de Queiros (Brasil)
- David Almond (Reino Unido)
- Lennart Hellsing (Suécia)
- Louis Jensen (Dinamarca)

Ilustradores Finalistas:
- Carll Cneut (Bélgica)
- Etienne Delessert (Suíça)
- Jutta Bauer (Alemanha)
- Roger Mello (Brasil)
- Svjetlan Junakovic (Croácia)

Os dez membros do júri de 2010, presidido por Zohreh Ghaeni (Irã) foram: Ernest Bond (EUA), Karen Coeman (México), Nadia EL Kholy (Egito), María Jesús Gil (Espanha), Jan Hansson (Suécia), Annemie Leysen (Bélgica), Darja Mezi-Leskovar (Eslovênia), Alicia Salvi (Argentina), Helene Schär (Suíça) e Regina Zilberman (Brasil). Elda Nogueira (Brasil) representou a presidente do IBBY, Patsy Aldana e Liz Page atuou como secretária do júri.

O Brasil já recebeu duas vezes este prêmio com as escritoras Lygia Bojunga (1982) e Ana Maria Machado (2000) e ainda teve como finalista os escritores Joel Rufino dos Santos (2004) e Bartolomeu Campos de Queirós (2008).

Para a FNLIJ é um orgulho ver suas indicações de importantes nomes da Literatura Brasileira Infantil e Juvenil recebendo o reconhecimento do seu trabalho. A qualidade dos livros para crianças e jovens produzidos em nosso país já é destaque no mundo e a cada ano tem ganhado mais espaço. Parabéns a escritores, ilustradores, editores e promotores que acreditam e apostam no livro e na leitura.

Mais informações acesse o site www.ibby.org

*Fonte: http://www.fnlij.org.br/principal.asp

quarta-feira, 17 de março de 2010

Na torcida!



O Roger Mello, grande escritor e ilustrador, é um dos finalistas do Prêmio Hans Christian Andersen 2010, na categoria de ilustradores. Esse prêmio é conhecido como o "Nobel" da Literatura Infantojuvenil. Duas brasileiras já ganharam: Ana Maria Machado e Lygia Bojunga.
E o páreo é duro, só tem concorrentes fantásticos:

Ilustradores Finalistas:
- Carll Cneut (Bélgica)
- Etienne Delessert (Suíça)
- Jutta Bauer (Alemanha)
- Roger Mello (Brasil)
- Svjetlan Junakovic (Croácia)

Na figura acima, tem-se uma ilustração para o livro "Fita verde no cabelo", um conto muito legal do Guimarães Rosa. Apenas um de vários exemplos que comprovam grande talento desse cara.
Então é isso, vamos torcer porque ele é fera. ^^

domingo, 7 de março de 2010

14 cascaes



Adorei o projeto editorial deste livro. Edição muito bem feita, com destaque para os desenhos que ilustram cada conto (fugiu-me o autor agora, mas é catarinense). Quanto aos contos, é interessante observar que a proposta (fazer 13 contos contendo o mesmo personagem, o eterno Franklin Cascaes, artista e estudioso do folclore de Florianópolis) foi muito bem-sucedida. E assim foi pois em cada conto, Cascaes aparece de um ângulo: ora é o protagonista, ora um coadjuvante, que passa por traz da cena, acrescentando pequenos detalhes, mas que mudam muito o curso da narrativa. Ora é passivo, quando sua história é contada; ora é ativo, quando é um personagem em si, com falas expressas. Outro aspecto que aumenta a singularidade de cada conto, é a forma como o personagem é cruzado com os entes místicos que estudava, especialmente as bruxas. Essa relação aparece na maioria dos contos, como não poderia deixar de ser. Enquanto num conto Franklin, que se encontra solteiro por conta da morte de sua esposa Bete, é tentado por uma sensual bruxa; em outro Franklin é chamado para investigar um aparente caso de surgimento bruxólico, como no conto "Minha querida", de Fabio Brüggemann. "Dois bandolins", de Flavio José Cardozo, foi um dos conto de que mais gostei. Pela escolha do tema, e pelo gracioso trabalho com a metalinguagem (o final é demais), gostei muito. Muito bom também é o de Péricles Prade, o conto "talvez a primeira e última carta". Esse exemplo de Prade, é mais um que corrobora aquilo que eu falava lá em cima: a originalidade de cada conto é preservada por seu próprio foco narrativo, além das diferenças de tempo e espaço, bem como, os contos se diferem pelo papel que Cascaes nele desempenha. Essa narrativa de Prade, como sugere seu título, trata-se de uma carta datada um dia antes da morte de Cascaes, assinada por uma mulher que se diz indignada pelo fato de sua pessoa ser associada à figura de uma bruxa, por conta de Francolino (o nome real de Franklin)assim tê-la chamado, em sua obra "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina. Na carta, a mulher tenta tirar de si a fama de bruxa, explicando que a sétima filha mulher nascida em lua cheia (condição para surgir uma bruxa) não fora ela, mas sua irmã gêmea. E Cascaes Acredita? E o leitor acredita? Lembrando que a carta, no qual emerge uma ameaça de morte para que Cascaes corrija seu suposto erro, é datada um dia antes do falecimento dele...
Bem, agora que eu praticamente tirei a graça de um dos contos, resumindo e contando seu final, resta-me tentar ajeitar isso, convidando-os a ler esses 13 cascaes (reparem no número folclórico), sob olhar de 13 autores catarinenses, e mais um 14º, aquele ilustrador, do qual vou ficar devendo o nome. (Começa com T, haha :P) Vale a pena curtir essa bela homenagem ao folclórico Francolino.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Breve diálogo

Dostoiévski: Para escrever bem, é preciso sofrer, sofrer

Eduardo: Opa, estamos aí pra isso, tio



PS: ando meio sumido, culpa da rotina abarrotada de mais rotinas. Mas não vou abandonar meus blogs, espaços que amo. Apenas umas reticências bem largas. Abraço a todos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Pequeno Tratado Poético das Asas

Há algum tempo deparei-me com este belo título aí em cima e quis lê-lo. Uma edição bonita, que comprei no sebo por R$ 1,50 (talvez o dono do sebo não curtisse poesia, eh) de um poeta desconhecido até então por mim. Péricles Prade é catarinense, nasceu em Timbó. Pra quem não sabe, Timbó, essa pequena cidade, também é berço de outro gigante da poesia catarinense (e nacional!): Lindolf Bell.
E foi com muita alegria que concluí a leitura desse livro. Como bem observa Fábio Brüggemann no prefácio, é invejante a capacidade de Prade de construir um projeto poético próprio, ou seja, com unidade. E é bem isso que o leitor encontra neste "Pequeno Tratado poético das asas": uma série de poemas interligados, unidos pela metáfora céu & terra. O título, contendo a acadêmica palavra "tratado", evoca um estudo, uma compilação baseada na observação rigorosa. E não deixa de ser isso: aqui o poeta é um observador delicado, que vasculha os mais íntimos recônditos (do céu, da terra, e da palavra "céu" e da palavra "terra"), a vigiar o pássaro que em breve alçará voo:

PREMONIÇÃO

Na véspera do sacrifício
move-se o pé
da bailarina gigante


Na introdução de seu livro, Prade fala da figura do pássaro como "símbolo perfeito das relações entre o céu e a terra". Fala da infinide do tipo de pássaros, e lembra que eles encantaram muitos homens, citando Buda e o poeta Saint-John Perse, entre outros. A citação de Perse na introdução, bem como utra citação em dos poemas do livro, nos levam a aproximar esses dois poetas. Ambos se apoiaram na mitologia, ambos rompereram em sua poesia a dimensão da realidade, buscando elevar o espírito, transpor dimensões. Poetas transcedentais. Que caminho melhor para transceder do que por meio das palavras? e que metáfora melhor para essa busca do que o voo de um pássaro? Voo que é a transição do céu para terra, como o canto é a transição do silêncio para o som. Céu & Terra; Som & Silêncio: dualismos sobre os quais a alma do poeta se debruça:

SEMELHANÇA

Voo
e _________________ gêmea adivinhação
canto

Acudam-me Saint-John Perse
e sua ancestral intuição

E mais São João da Cruz
Buda
e Tao
que de tão leves
a eles se assemelham



Como Perse, Prade se mostra um poeta místico, busca na mitologia as mil imagens do pássaro. Baseia-se em várias culturas, especialmente as orientais, que tem este animal como sagrado símbolo da transição entre mundos. E essa transição se dá pelo voo, esse movimento de asas, mecanismos indecifráveis. A graça de tudo é o mistério das asas. Um pássaro é apenas uma palavra. Como o amor é apenas uma palavra, a morte, a dor. Palavras. Mas é no voo, na sincronia das asas, que a palavra se expande. E aqui voltamos ao primeiro poema do livro. Ponto de partida. Onde o leitor sai do chão, do silêncio, para contemplar essa definição:

DEFINIÇÃO

Se não supõe o voo
O pássaro é só palavra
Entre o Céu
&
a Terra



Fica a sugestão para que conheçam esse tratado. Alcem esse voo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Momento na Rua do Príncipe

Asfalto molhado, o estrondo no fim da tarde cochichou ao povo: o carro vermelho e seu motorista distraído acertaram o veículo da frente. O homem olhou. A mulher olhou. A menina de rosto magro olhou. As respeitáveis senhoras, também, congeladas, olharam. Olhou motorista, olhou mendigo, olhou pedestre. Farmacêutico abandonou balcão e olhou. Gripado, o homem esqueceu a chuva: parou e olhou. Mil olhos convergendo sedados para um leve arranhão metálico. Olhei para o outro lado da rua e vi um garoto discreto. Um menino, menino poeta, contrariando todos, ignorando os 2 brinquedos e olhando para as pessoas. Olhou para o homem, para a mulher, para as respeitáveis senhoras, passeou pelo jogo de dominós humanos. Girei meu olhar sobre as estátuas rapidamente. Quando quis voltar ao menino, ele já partia. Seus olhos fotógrafos giravam pelas marquises coloridas, perdendo-se no labirinto dos ladrilhos do calçadão central. Deixou as estátuas e saiu correndo, aparando as arestas desse mundo que insiste em ser quadrado.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

sobre a Feira do livro 2010

Li ontem, na coluna Orelhada do Rubens Herbst, que começaram os preparativos para a Feira do Livro de Joinville (mês de Abril). Ruy Castro é o único nome confirmado. Tem gente boa a confirmar, como Marina Colassanti e Roger Mello. A promessa desse ano é aumentar a estrutura, ampliar a programação e o número de stands. Convenhamos, a edição 2009 foi uma porcaria. OK, ok.. comprei umas coisas baratas, (as melhores foram 2 livros de poemas, um do Antônio Cícero e outro do modernista Graça Aranha), conheci o Cristovão Tezza, cara super simpático e inteligente. (e peguei um autógrafo no meu "Filho Eterno" *__*) Mas, ficou a sensação de fraqueza do evento. E as editoras? é preciso chamar mais. Quem já foi à Bienal do livro em Sampa, bocejou no ano passado aqui (burra essa comparação, não? agora deixa).
Bem, Vou confiar na promessa, e ficarei de olho. Assim que tiver mais informações, posto aqui.
:)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Daki-Dali de cara nova

ok ok, a cara nova é coisa simples: eu e a daia trocamos o modelo do Blogger para o fundo do Daki-Dali Mas fez muita diferença: agora está branquinho, límpido, mais gostoso de ler. Todos convidados a darem uma passada lá. Há algumas postagens no forno, quase sempre sobre livros ^^

É isso. Fica o convite. :)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Evangelho segundo Eduardo e Robson [Uma epopéia bíblica] :x

(22:57) Eduardo S.: vamos inventar uma historia!
Era uma vez
(22:57) Robson: no principio deus criou o universo !
(22:59) Eduardo S.: criou a terra, o mar, o céu, a gabriela ( :x )
e viu que era bom
(22:59) Robson: O dia, a noite, os sonhos e os pesadelos.
Viu que faltava algo!
(23:00) Eduardo S.: humm....
mas ele naum sabia o que.
precisava de ajuda
então...
chamou seu vizinho o Diabo =O
(23:01) Robson: =O
(23:01) Eduardo S.: O diabo veio. muito simpático, perguntou qual era o problema
"falta algo no universo. sinto-o vazio, amigo Diabo"
criei o ceu, a terra, a gabriela, todas os animais, incluindo o robson.
naum falta nada!
mas eu sinto no meu S2 que algo falta, diabo
O Diabo parou e pensou.
Mas é claro! disse o diabo
ja sei o que falta:
falta amor, disse o diabo, que no fundo tinha coração
deus parou. refletiu. amor?
olhou pra baixo e viu Adão e Eva fornicando.
de fato. fez os dois. deu-lhes a paixão,
mas faltava mais que isso;
faltava amor
-- mas , amigo diabo, onde encontro amor?
(...)
(23:04) Robson: Eu criei todas as coisas simples, pensando que nelas havia o amor.
Não existe o amor nelas, Diabo?
(23:05) Robson: -Não.
Onde está o amor?, perguntou deus
-Bom, você criou adão, eva, robson e gabriela.
(23:06) Robson: -- Onde está a amizade?
(23:06) Robson: Então, Deus criou mais um homem.
(23:06) Robson: E apareceu o Eduardo.
(23:08) Robson: (...)
(23:08) Eduardo S.:então... deus e o diabo ficaram olhando o éden do céu
lá embaixo, adão (robson) e eva (gabriela)
estavam catando frutas
e fazendo super-heróis ^^
... e nesse momento, entrou pela porta do jardim
eduardo,
aquele que foi enviado para dar início à amizade,
mas de início nada aconteceu
Eva olhou pro adão
adão olhou pro eduardo
eduardo olhou pra eva
eva olhou pro céu
e disse
"vai chover"
"pois é", disse adão
"se pá", completou eduardo
e nada aconteceu
faltava assunto
(23:12) Robson: - Não precisavam de assunto! ...
(23:12) Eduardo S.:... pois logo ele mesmo tratou de surgir... e o assunto se chamava W!
(23:13) Robson: Adão - Não!
(23:13) Eduardo S.: W era a serpente que habitava o éden.
(23:13) Robson: -W não poderá estar entre nós!
(23:13) Eduardo S.: eva ficou indecisa
quis confiar em W
adão ficou irritadinho
e eduardo nada disse
(23:14) Robson: adão ajoelhou-se e disse: Senhor, tu que criaste tudo, por que criou o W?
Enquanto isso o poder persuasivo de W, tentava convencer Eva e Eduardo!
(23:16) Eduardo S.:
estava W discursando para Eva e eduardo, quando adão precisou sair para
fazer suas necessidades fisiológicas
(no mato)
e ficaram os 3
e W começou a discursar
falou sobre jornalismos e maçãs
eva estava gostando
eduardo dizia ahan-ahan-ahan
(23:18) Robson: E o Diabo inteiramente entediado com tudo, disse - W, adão tentou te ajudar, e agora onde está ele? Nem ele quer ouvir-te mais ? Será que mudou seu ponto de vista?
(23:19) Eduardo S.: W não gostou desse comentário
fez cara feia
(fez isso com muita facilidade, é vero)
mas continuou
e disse, erguendo a mão
-- Eva!
-- vc quer ter mais poder que adão?
Eva pensou pensou.
(23:20) Robson: Adão acabando suas necessidade, interveio.
- W, quem és tu ? Não é deus então não pode dar poder as pessoas!
(23:21) Eduardo S.: mas o W revidou:
naum tenho poder, mas logo vou me formar
e deus naum estudou que eu sei!
e todos fizeram
=O
e o diabo disse: BAH
(23:22) Robson: Então, diante desse insulto, Deus apareceu
(23:23) Robson: - Pessoas, criei tudo. Não preciso de estudos. Sou o mais sabio.
(23:23) Robson: Nisso, suas palavras derramavam-se como agua
agua em abundancia
(23:23) Eduardo S.: eduardo interrompeu ele: não exagera tbem
(23:23) Robson: enchendo todos!
inundando tudo.
(23:24) Eduardo S.: e pela porta do jardim....
(23:24) Robson: Sem Noe, nada poderia ser salvo!
(23:24) Eduardo S.: e entao
chegou Noé
(23:24) Robson: e tudo ficou inundado!
chegou atrasado
(23:24) Eduardo S.: oh
e foi um deus nos acuda
(23:24) Robson: Ali pairou a lenda de atlântida!
(23:25) Eduardo S.: era água para todos os lados,
eva e adão subiram num galho
W subiu em outro
(23:25) Robson: braços e pernas.
(23:25) Eduardo S.: pernas & braços
(23:25) Eduardo S.: eduardo, deus e o diabo e noé tbm se abrigaram
o munda mal começou
e já se destruía
Um elefante pediu ajuda
hel help!
estou me afogando
e todos se olharam
quem iriam ajuda-lo
?
(23:26) Robson: e o mundo explodiu!
(23:26) Eduardo S.: calma poha
ainda naum
(23:26) Robson: adão tinha que sair
(23:26) Eduardo S.: affer
HAHAAHAHAA
(23:26) Robson: adão tinha que alimentar seus filhos
(23:27) Eduardo S.: adão era chato
(23:27) Robson: trabalharia no dia seguinte!
(23:27) Eduardo S.:
AHAHHAHA
(23:27) Robson: disse adeus!
(23:27) Eduardo S.: adeus
Ps; adao se foi e eduardo disse: vá
cuido da eva
(23:27) Robson: mas.. . O diabo interveio!
(23:27) Eduardo S.: e adao se foi
oppa
:x
(23:27) Robson: - Sairá, apenas no fim !
(23:27) Eduardo S.: O.O
(23:28) Eduardo S.: e todos boiaram
literalmente
(23:28) Eduardo S.: uma zebra se afogando passou rapido e berrou
xau!
xau, adão
(23:28) Robson: mas adão não iria mais sair.
(23:28) Eduardo S.: e a zebra fez ¬¬
(23:28) Robson: resolvera ficar 15 minutos!
15 minutos para salvar o mundo da destruição total!
(23:29) Robson: E tudo estava nas mãos deles.
(23:29) Robson: Eva e adão. Eduardo e W.
Diabo e Deus!
(23:30) Robson: Elefante e Zebra!
(23:30) Robson: (...)
(23:31) Eduardo S.: entao deus deu um STOP na máquina do mundo
o mundo parou: era enchente, braços e pernas, galhos e bichos pra tudo que é lado
E deus viu que era boa, a sua criação
o diabo disse:
agora? o que faremos?
O diabo queria jogar uno
deus queria limpar a bagunça
eduardo queria que fosse criada a daia logo de uma vez
adão queria chegar em casa pra ler Hp e crepúsculo
e eva queria o amor,
aquele amor do inicio da história,
que deus ainda naum havia conseguido criar
(23:33) Robson: Então, Deus criou o perdão, que era o amor.
Adão resolve perdoar o W!
(23:34) Eduardo S.: o diabo fez cara feia
mas aceitou a criação do perdão
por que se há perdão, é pq há pecado,
então, estava tudo ok
(23:35) Robson: Todos estava felizes, menos o Eduardo!
(23:35) Eduardo S.: sim
(23:35) Robson: Deus - O que há eduardo?
(23:35) Eduardo S.: eduardo - deus? vc tem quantos anos?
vc é solteiro?
(23:35) Robson: - Solteiro.
(23:36) Eduardo S.: hummm
(23:36) Robson: Diabo, percebendo o que faltava
(23:36) Robson: disse - Eduardo sei o que você quer
-mas isso terá um preço!
(23:36) Eduardo S.: eduardo: ui, delicia
(23:36) Robson: Diabo criou a daiane
(23:37) Eduardo S.: eduardo: BAH
(23:37) Robson: e consequentemente criou a profª Taiza!
=o
(23:37) Eduardo S.: eduardo: BAH BAH BAH
(23:37) Eduardo S.: nesse momento, eduardo mudou seu nome e rosto
ele estava morfando
virou Caim
e o mesmo ocorreu com adão
que virou abel
E antes que alguem fizesse algo,
caim tacou um notebook na cabeça de abel
que caiu estatelado
(23:38) Robson: morrendo!
Então, Eva matou caim!
E W. matou eva!
E W. ficou feliz!
ele era então o único habitante da terra!
(23:39) Eduardo S.: e até hoje,
caminhando pelos desertos do Egito
(23:39) Robson: W quer controlar o mundo !
(23:39) Eduardo S.: sim,
(23:40) Robson: mas onde está o mundo?
(23:40) Eduardo S.: restaram destroços
e W decidiu mudar de nome
(23:40) Robson: então percebeu que tudo estava errado!
(23:40) Eduardo S.: BAH
como assim?
(23:41) Robson: Ele queria controlar o mundo
mas que mundo?
não existia mais nada
Matou-se com suas palavras
E o diabo e deus continuaram jogando uno
(23:41) Eduardo S.: eternamente
(23:42) Robson: eternamente eterno...
(23:43) Robson: Deus falou - falta algo. E criou adão!
HAHAH '
(23:43) Robson: - Adão disse - A-deus!
e nunca ninguém entendeu porque adão se sentia feliz com aquilo
(23:43) Eduardo S.: pois é
amén
(23:43) Robson: shallon!
(23:43) Eduardo S.: THE END
Evangelho segundo robson e eduard!
(23:44) Robson: F-I-M!
(23:44) Eduardo S.: E.S.R.E (1. 1-45)
(23:44) Robson: HAHAAHHA'
(23:44) Eduardo S.: HUHUHU
(23:44) Eduardo S.: yeah
(23:44) Robson: vou mimimim!
(23:44) Eduardo S.: xau, negones
(23:44) Robson: :'
(23:44) Eduardo S.: boa historia
;p
(23:45) Robson boa história.

(00:00): Robson e Eduardo ficam offline :x :x

sábado, 16 de janeiro de 2010

a propósito do requinte e da geometria das livrarias

nada como a violência de um sebo desorganizado,
como quem esconde algo muito precioso dentro de si.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A poesia de Affonso Ávila




Affonso Ávila é um poeta mineiro que nas décadas a partir de 50 teve grande importância na renovação da poesia brasileira. Com alguns companheiros fundou o movimento "Tendência", caracterizado pelo nacionalismo crítico. A leitura de uma antologia de seus poemas demonstra que ele seguiu mesmo esse preceito. Especialista da história e cultura barroca (escreveu 2 ensaios sobre o tema), Affonso também trouxe essa temática para sua poesia. Livros como "Cantaria Barroca" e "Código de Minas" são revisitações críticas da história de Minas Gerais: a exploração aurífera, a Inconfidência, a estratificação social, etc. Sempre muito crítico, satírico por muitas vezes. E a maneira pela qual Affonso faz suas críticas é a quase sempre através de paródias. Um tipo de paródia paralela, em que o texto parodiado é contraposto ao novo: um ao lado do outro. Um bom exemplo é o ótimo poema "Antifamília" que entrou, com muito mérito, na antologia "Os cem melhores poemas brasileiros do século XX", organizada por Ítalo Moriconi. No poema há 2 textos: um rebuscado, erudito, que engrande a família mineira (a família como uma instituição sagrada) e outro que se opõe a ele. Frase a frase. Uma frase de um, contra uma frase de outro. Dois textos que se cruzam, criando um jogo de palavras cáustico. Posto aqui um trecho, o final, para terem uma ideia melhor do que falo:

[...]

Com sua retórica
com suas retortas
de diz-que de urge-que
de uísque e uísque
de eis-que de pois-que
de uísque e uísque
o ar degas do deputado
as adegas do deputado

Com sua crosta
com sua crônica
de cera e diamantes
de seriados amantes
de recintados balofos
de reincidentes abortos
as deselegantes senhoras
as dezmaiselegantes senhoras

Com seus opostos
com seus opróbrios
de usura e de abuso
de usurário abuso
de clausura e de uso
de enclausurado uso
a família mineira
a antifamília mineira



Esse esquema parodístico está presente em muitos dos poemas da antologia. Quanto ao estilo de Ávila, o jogo de palavras, que desconstrói um texto para o surgimento de outro, esse predomina em todos os poemas. Por isso, algumas partes do livro podem soar cansativas para o leitor, que tem diante de si um fazer poético relativamente mecânico, ainda que criativo. Ressalto, no entanto, que vale a pena conferir a obra de Ávila. Uma experiência bem interessante. Sobre esse fazer poético, é válido o comentário de E. M de Melo e Castro, no livro "A poesia de vanguarda no Brasil", lançado em Portugal: "Affonso Ávila [...], praticante de uma poesia-referencial de grande poder desmistificador e combativo, a partir de um rigor quase matemático no vocabulário e na sintaxe" . Sobre esse conceito de Poesia-Referencial, é o próprio Ávila que esclarece tal ideia: "incompatível com o exercício aleatório, com o verso inspirado e fortuito da fruição lírico-subjetiva, a poesia referencial exige que o poeta se aplique lucidamente:
1)na opção de temas ou seleção dos estímulos captados de seu mundo existencial.
2)na planificação do poema que ele se impôs com o seu tema;
3)na consulta do material de informação;
4)na articulação da linguagem-síntese;

[...] "


Como se depreende da declaração, Affonso Ávila é bem cônscio de seu fazer poético. Ele rumou por um caminho e, pela leitura de seus poemas, vemos que foi muito feliz nele. Como eu disse no início da postagem, ele foi de grande importância na renovação da poesia brasileira, justamente por experimentar variações em suas criações.
Para fechar, mais um poema de Ávila:

ARTE DE FURTAR

O poeta declarou que toda criação é tributária de outras

criações no permanente processo de linguagem da poesia


O poeta afirmou que todo criador é tributário de outros no

processo de linguagem da poesia


O poeta se confessou um criador tributário de outros na

linguagem de sua poesia


O poeta não esconde que sua poesia é tributária da linguagem

de outros criadores


O poeta não esconde que sua poesia é influenciada pela

linguagem de outros criadores


O poeta não faz segredo de que se utiliza da linguagem de

outros poetas


O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de

outros poetas


O poeta é um deslavado apropriador de linguagens


O POETA É UM PLAGIÁRIO

domingo, 27 de dezembro de 2009

o que estou lendo

Estou lendo Henry & June, livro extraído dos diários da escritora Anaïs Nin. A Thara demonstrou interesse. Então, para ela e para quem mais quiser ler, posto um trechinho do livro. Ainda estou no começo. Está ótimo. Uma vida muito intensa, a de Nin.
Escolhi esse trecho pois é aquele em que ela relata o primeiro encontro com Henry Miller, que logo se tornaria seu parceiro sexual/intelectual. Assim, temos um trecho que cobre esses 2 autores que adoro. Ei-lo:


DEZEMBRO

"Conheci Henry Miller.

Ele veio almoçar com Richard Osborn, um advogado que eu tinha que consultar sobre o contrato para meu livro de D.H. Lawrence.

Quando ele saltou do carro e se dirigiu para a porta onde eu estava esperando, vi um homem de que gostei. Em seus escritos ele é extravagante, viril, animal, opulento. E um homem a quem a vida embriaga, pensei. É como eu.

No meio do almoço, quando estávamos discutindo livros seriamente, e Richard passara a um longo discurso, Henry começou a rir. Ele disse:
-- Eu não estou rindo de você, Richard, mas simplesmente não consigo evitar. Não ligo a mínima, nem um pouco para quem está certo. Estou feliz demais nesse exato momento com todas as cores à minha volta, o vinho. O momento é tão maravilhoso, tão maravilhoso - Ele ria quase a ponto de chorar. Estava bêbado. Eu estava bêbada, também, por completo. Sentia-me aquecida, tonta e feliz.
Conversamos durante horas. Henry disse as coisas mais verdadeiras e profundas, e ele tem um jeito de dizer "mmmm" enquanto divaga por sua viagem introspectiva”


Bem, é um livraço. :)

Extraído de NIN, Anaïs. "Henry & June". Editora L&PM POCKET, 2007.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

um pouco de tietagem

75. NATAL

"Minha sogra ficou avó"



Calma, isso não é mensagem de natal. Mas é um trecho propício para eu declarar, mais uma vez, o meu apreço pela literatura de Oswald de Andrade. A única frase em questão é um capítulo de "Memórias Sentimentais de João Miramar", obra-chave da literatura oswaldiana. Trata-se de um dos meus livros preferidos. Oswald é um dos poucos demolidores da literatura nacional. Ela sempre se renovou, é verdade. Mas poucos foram os momentos de grande ruptura com os modelos vigentes. Talvez os concretistas fizeram isso. Mas o grande papel coube a Oswald e seus colegas de modernismo.
Esse livro rompe com quase todos os esquemas tradicionais. Além disso, o enredo é uma grande risada frente a cara da burguesia paulista da década de 20: uma sociedade de aparências, num jogo de influências e falsidades. É o que mostra esse trechinho natalino. O narrador, João Miramar, avisa que no Natal, sua sogra foi avó. Poderia dizer "fiquei pai". Mas na sociedade patriarcal, afundada em moralismos, ganhar um neto é uma das poucas alegrias óbvias dos patriarcas das famílias. Dar um neto era, pois, mais uma obrigação do contrato familiar da boa família paulistana
Devo dizer que não é uma leitura fácil: muito da obra de Oswald hoje soa estranha para os leitores, que desconhecem as muitas referências à pessoas e fatos da época do autor. O sarcasmo e bom humor de Oswald são, no entanto, universais. Não há como não rir da piada que João Miramar lança na última linha de suas memórias.
É um livro que causa estranhamento, controverso, hilário por vezes, pedante por outros.
É uma obra com a cara do autor.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Soletre, com bufos e suspiros, o silêncio que há entre nós

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

algumas palavras

na fila do banco, lá está eu com meu livrinho na mão. No meio de "Um copo de cólera", do Raduan Nassar, num trecho em que os dois personagens principais estão no auge de uma discussão acaloradíssima, recheada de palavrões e tals, sou interrompido por um senhor com olhar bonachão:

-- você, rapaz, que gosta de ler..

Fecho o livro no ato e vejo o que ele me oferece. Trata-se de uma caixinha pequena, com alguns papéis coloridos dentro. Ele pede para que eu retire um e leia.

"Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Gl. 5.14)

Li e devolvi a folhinha para o senhor, que sorriu e continuou a abordar as demais pessoas da fila. Acho a Bíblia um livraço. Li algumas passagens dela, em diversos momentos. São muitos os escritores que já manifestaram a grandeza dela. Exemplo? Olha só, palavras de Dalton Trevisan, extraídas da orelha de um livro de contos dele que tenho aqui em casa (na orelha, ele fala de si mesmo, uma espécie de auto-biografia. ótimo!)

"Bíblia. O único livro que a gente não pode deixar de ler. Nele você encontra Homero, Mil e uma Noites, Fanny Hill, soneto de Camões, grito epilético de Dostoiévski, barata leprosa de Kafka, anúncio de 914, elegia de Rilke, etc"

Para rebater isso, posto um trecho de uma entrevista com Oswald de Andrade em 1954. Ei-lo:

– "Quais os livros essenciais à humanidade"?
Oswald: "Não são, nem a Bíblia, nem o Alcorão, nem Margarida La Rocque."


Apesar de ser um fã do Oswald, dessa vez estou com Trevisan. É um livro riquíssimo que inspirou e ainda inspiro a safra de escritores. É um livro contraditório. partes ótimas, partes execráveis. Olha só, que coisa mais linda esse verso que o senhor mostrou! Intriga-me o fato de se referir à máxima do amor ao próximo como uma "única palavra". Intrigante, que nos faz pensar, como faz toda a boa poesia.
Pensei tudo isso na fila do banco. Por conta de um simples senhor com sua caixinha de versos bíblicos, que mostrava-os pelo simples prazer de levar tais palavras além.
Depois dizem que a vida não é bonita.

PS: veja como a bíblia inspira um ocioso sem veia literária, mas com varizes literárias.... como disse alguem ontem no twiter. (vc que retwittou, ítalo! ha-ha)
Eis aí minha brincadeira, um trecho do Evangelho Segundo Judas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Revolta

Bem, tenho deixado para falar sobre minhas leituras lá no Daki-Dali... algumas exponho aqui, mas a maioria está indo pra lá. Assim, falo do quê? Bah, ando sem criatividade.
Eu queria mesmo era reclamar. Tanta coisa errada e mal feita no bairro, na cidade, no país, no mundo. Hoje eu estava pensando numa dessas coisas inexplicáveis: todo ano, na época de pagamento do PIS, surgem aquelas reportagens lugar-comum:

"Hoje cerca de blablá milhões de reais deixarão de serem sacados por seus donos, pois os beneficiados do PIS, não atentaram aos prazos e bláblá"

Isso é clássico. Todo ano essa reportagem surge na internet, nos jornais, e às vezes, nos telejornais. Bah (estou usando "bah" ultimamente, como opção para as versões mais religiosas como "céus" ou "god" ou "jesus!"), será que o pessoal que não saca esse dinheiro não quer o beneficio? É claro que não! A questão é outra, e é muito clara: a forma de distribuição do PIS, que é um direito trabalhista, é extremamente mal-organizada. É confusa. O dinheiro é liberado ao longo do ano: dependendo do mês de nascimento da pessoa (acho que é isso, mas não tenho certeza..mas enfim), ela tem um certo mês para sacar o valor. Extremamente complexo? Não. NO entanto, para a maioria dos cidadãos que vivem numa correria diária, esse sistema é incoerente. Além disso, não é todo mundo que consegue aconpanhar o raciocínio desse sistema. É preciso algo mais simples, algo mais claro. Além disso, o governo não move uma palha para facilitar isso. Por que não fazem uma campanha, uma simples propaganda na TV, como fazem nas eleições por exemplo, esclarecendo as datas? Simples, pois há interesse em que esses valores não sejam sacados. Que os benefícios morram na Caixa Ecônomica.
Bem, eu não tenho direito a esse benefício ainda. Nem falo isso por conhecer alguém que perdeu. Falo, por que me incomoda, todo ano ouvir a mesma reportagem...

"Hoje cerca de blablá milhões de reais deixarão de serem sacados por seus donos, pois os beneficiados do PIS, não atentaram aos prazos e bláblá"

... Sabendo que poderia ser bem diferente.

Mas enfim, bom-senso por aqui é raridade.
Vou é ler um livro.

fui!


PS: falando em reporatagem lugar-comum (puta merda, como se faz isso no plural, será?)... qualquer dia vou escrever sobre isso. É um saco, tem certas reportagens que se repetem todo ano. Só copiam e colam, acho. Eu, hein. Acham que a gente é trouxa. (somos)

PS do PS: as férias estão chegando! Não vejo a hora...

domingo, 29 de novembro de 2009

Desculpas e um convite

olá, pessoas. Por motivo de falta de tempo, não poderei postar nada aqui nesse fim de semana. No entanto, faço o convite a todos para que leiam a postagem "Marco e as três Marias", que é minha, e está no blog Daki-Dali, parceria com a Daia. Uma impressão do "Livro de Marco", de Flávio Carneiro, e de "Marco", sua adaptação para o teatro feita pela Cia Rústico de Teatro (Joinville).
É isso gente, deem uma conferida

abraços!

sábado, 21 de novembro de 2009

Rosebud



Recentemente, li "Rosebud", livro de poemas de Luis Augusto Cassas que, até então, era desconhecido por mim.
Rosebud (que significa botão de rosa, em inglês) é a famosa palavra dita por Kane, o célebre personagem do filme Cidadão Kane(1943), de Orson Welles. No filme, a palavra tem uma grandeza enorme> trata-se de uma metáfora ao orgão sexual feminino, mas vai bem além disso. Boa relação faz Vitor Junior ao dizer que "(...) “Rosebud” simboliza aquilo que há de mais íntimo, de mais misterioso, mais escondido, mais particular, mais encoberto". Quanto ao livro de Cassas, publicado no início da década de 90, um período de grande desastabilidade econômica, em que reinava uma péssima distribuição econômica, este tem muito de crítica social. Cassas é agressivo, como se cuspisse nos atos fúteis da classe média, que esbanja dinheiro enquanto a maior parte da população vive na miséria. Cassas é crítico, mas não cai em lugares-comuns (deslize constante entre aqueles que enviesam por esses caminhos). Então o que é o "Rosebud" sugerido por Cassas? Seria o desnudamento do homem, esse homem que se esconde em falsos-moralismo e vive sua vida pacata e besta? Bem, é só uma ideia.
Fato é que este livro é muito interessante. Adorei.
Cassas faz uma coisa muito legal: brinca com o cotidiano, usando os diversos "gêneros" (não estritamente de linguagem. Quero dizer que ele brinca com os sentidos das palavras e com as imagens que estas compõem). Em "Obituário dos poetas" descreve o falecimento de vários "poetas" com muito humor-negro e à maneira dos jornais. Outro exemplo é "Condomínio Sophia": Cassas divide o poema como a estrutura de um prédio: térreo, primeiro andar, segundo andar...cobertura. Mais um exemplo, que eu reproduzo abaixo é "Cronologia":


CRONOLOGIA


I Nasce o poema em papel de cigarros carlton.
II O poema frequenta bibliotecas, universidades e bares e trava conhecimento com outros poemas.
III O poema prega a revolução permanente e arma os versos com o fuzil do amor.
IV É editado, elogiado nos suplemetos culturais e vira embrulho de tomate.
VI Internado com o esgotamento nervoso e crise de identidade.
VII Morre o poema.

Quem define bem as características da poesia de Cassas é Moacyr Félix, no prefácio do livro, quando diz: " (...)irônicos e revoltados, sofridos, às vezes gozadores e às vezes amargos, todos eixados em torno de uma visão-de-mundo revoltada-mente estruturada e religando os atos e coisas mais simples do cotidiano com importantes nomes e fatos da história e culturas mundiais, os versos de Luís Augusto Cassas são como facas atiradas contra e estourando os balões coloridos - inflados de mentiras e hipocrisias e desumanizações - com que as nossas elites econômicas alardeiam as suas riquezas sobre a pobreza moral e física de mais de cem milhões de brasileiros. (...)"
Outra característica da poesia de Cassas é a intertextualidade. O poeta faz muitas referências, estabelecendo diálogos com textos conhecidos (num dos poemas, utiliza um trecho de "Versos Íntimos", de A. dos Anjos). Poema legal, pois cheio de humor, para exemplificar isso é este "Indesejada", em que Cassas cita Baudelaire e brinca com os sobrenomes de Edgar Allan Poe e Ezra Pound, que viram interjeição e onomatopéia, respectivamente:


A INDESEJADA

3 da manhã. pound! pound! pound!
a poesia baixa em mim
como um santo em seu cavalo
mas eu não sou baudelaire
que o mundo ama e ninguém quer.
nem sou coronel
pra sustentar bordel.
te sai dessa, menina.
poesia e vaselina
só em festa de grã-fina.
escrita fina.
estou meio deprê.
depois a gente se vê.
edgar allan, pô, que tralha,
vê se enxota essa gralha!

Com muito bom humor, Cassas põe ao longo do seu livro os poemas prefácio, mesofácio e pósfacio, um espaço de contato cara a cara entre o poeta e o leitor. Assim ele fecha o livro:

posfácio

ou onde o leitor (não) necessariamente
expõe o seu desagrado
sobre o lido e o re-vivido
com um sonoro elogio à mãe do poeta


-------------------------------------------------------------------------------------

É mesmo.
Filho da puta, que livro bom!

REFERÊNCIAS:

CASSAS, Luis Augusto. Rosebud.Massao Ohno Editor, 1990.

JUNIOR, Vítor. ROSEBUD - Resenha crítica sobre o filme “Cidadão Kane”, de Orson Welles. Disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdefilmes

domingo, 15 de novembro de 2009

ditos pouco populares

I

Em terra de cegos
caolho não vira rei
e é perseguido
até que perfurem seu olho bom

II

Se a ocasião faz o ladrão
o instante faz o poeta?
mas e a poesia
(o latrocínio dos transeuntes cotidianos)
onde entra nesse dito?

III

menino deus escreveu certo por linhas tortas
e tirou zero na prova

IV

pau que nasce torto, nunca se endireita:
vive sempre na sombra da esquerda

V

-- pai, como deus ajuda quem cedo madruga?
-- dá o amanhecer de presente

VI

sol e chuva sol e chuva
céu e terra fecharam-se nos olhos da viúva
as venezianas calaram-se
e não houve festa alguma

VII

faça bem ao próximo,
mas lembre-se que o inimigo mora ao lado

VIII

diga-me com quem andas
e quem amas
e quem temes
e o que fazes, queres e o que és
e ainda sim, não saberei nada de ti

IX

larga de mentira: um pássaro na mão não vale nada!

X

se conselho fosse ruim, não se dava
vendia-se

XI

e filho de peixe
poeta é

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Devoração

Amo esta palavra. Às vezes penso que todo o mundo cabe dentro dela.

sábado, 7 de novembro de 2009

Querido diário

Semanas atrás, me viram lendo "O mundo do sexo", de Henry Miller e caçoaram por conta do título. Hoje, quando alguém viu que eu estava lendo "A greve do sexo", comédia grega de autoria de Aristófanes, comentou-se: "Acho que você, Eduardo, é meio pervertido"
Fiquei feliz: sou um leitor pervertido! Uhulll

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um verso

consegui uma Antologia Poética do Cassiano Ricardo, e estou encantado. Bela poesia.

eis um verso dele, que adorei. Extraído do poema "Dizes tantas coisas":


"quanto mais falamos, mais silêncios nascem"


*__*

domingo, 1 de novembro de 2009

os namorados

os namorados desencontrados decidem "dar um tempo"
imagem triste essa. esse tempo descolorido e sem forma.
antes dessem uma distância!

sábado, 31 de outubro de 2009

Mais um convite

Acabo de postar no meu outro blog, o Sujeito Oculto, os "poemas para ler escondido do seu chefe"
Deem uma lida lá. Eu achei que ficou bem legal. ^^

Inspiração não faltou! (trabalho num escritório)

Valeu!
:P

Joinville Literária

olá pessoas, quero fazer um convite.

Estou participando do projeto joinville literária, que consiste num site que reúne a produção de escritores contemporâneos, da cidade de Joinville. Não são todos. Boa parte. É uma iniciativa bem legal de divulgar os textos de joinva, especialmente aos estudantes. lá no site tenho 6 poemas cadastrados. Ainda estou lendo as outras produções, mas tenho gostado muito do que já li. A cidade está muito bem servida. ^^
Obviamente, sou um novato no meio dessa turma a anos-luz das grandes feras como o Rubens da Cunha e o Caco de OLiveira. Mas não estou tão sozinho, ao lado dos experientes há outros jovens como o Ítalo e a Gabriela Cristina Carvalho.
Enfim, fica o convite para que todos deem uma passada pelo site (que está com um design gráfico muito bom), para a leitura dos textos.

Eis o link para o Joinville Literária

Abraço!

PS: essa semana, estive no sebo e comprei 3 livros do Fernando José Karl, que é um ótimo poeta joinvilense, e que desfalca o site. Agora, tenho 4 pois estes se juntaram ao meu "Desenhos mínimos de rios", que é um bom livro. Em breve, mergulharei fundo na poesia de Karl.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Meus favoritos

Mexendo no meu skoob, encontrei isso aqui.
esses são alguns de meus livros favoritos.
Se botasse todos os meus 30 favoritos, ia ficar feio.
Bem... isso é meio inútil, mas que é bonitinho, é. ^^

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um conto semiológico

Era uma vez um homem infeliz.
Trabalhava num pequeno jornal. Era responsável pela seção de horóscopo.
Seu nome era Barthes, Roland Barthes.
Ele gostava muito de signos. Áries, Câncer, Capricórnio, ele gostava de todos os signos.
Mas era um homem infeliz.
Um dia - do nada - ele decidiu elaborar a Teoria Semiológica.
E tornou-se feliz.
E ele vive rindo, até hoje, da cara dos acadêmicos de Letras...


Nota:
este conto foi publicado originalmente na última carteira da fila do meio da sala 109A, da Univille, por ocasião de uma animadíssima (sim, isso é uma ironia) aula de Teoria da Literatura.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Querido diário

Hoje encontrei mais uma criança perdida. Há alguns dias senti a falta do meu "Solte os cachorros", da Adélia Prado, que eu acabava de ter iniciado a leitura. E nem imaginava onde poderia estar. Achei que estivesse lá em casa, em algum canto da bagunça. Mas hoje, fui aos correios (a trabalho) e a funcionária se lembrou de mim e me entregou. Tava lá, o maledeto. Vou retomar a leitura dele, agora. Menos um problema né. (Ainda não esqueço o trágico episódio do dia em que perdi meu "Crime e Castigo").
Mas enfim.. agora só me resta um mistério: para onde terão ido os meus "Poemas Completos de Alberto Caeiro"?

:P

sábado, 24 de outubro de 2009

Um poeta e seu leitor

É noite de sexta e eu estou no terminal de ônibus. O carro chega. Encontro um lugar ao fim dele para sentar-me. Acomodo-me, distraído. Então, entra pela porta de trás do ônibus um homem. Um mendigo. Alto e magro, pele negra. Uma barba grande e grisalha. Traz consigo um saco de plástico contendo latinhas de cerveja vazias e um cheiro forte de mundo (enquanto tomo banho todo dia, não deixando o mundo fixar-se em mim por muito tempo). O homem senta-se nos degraus do ônibus. A porta se fecha e o carro segue seu rumo. Continuo distraído percorrendo os olhos pelos passageiros e pela paisagem noturna que derrete lá fora. De repente, uma voz familiar:

-- E aí, Miguel, como é que tá?

Miguel é o homem das latinhas, sentado no degrau. Quem pergunta é um homem de cabelos grisalhos, óculos, e que traja um paletó azul. Está sentado de frente ao degrau do homem, do Miguel. Reconheço, então, que o senhor de paleto azul é o Caco, o poeta Caco de Oliveira, aquele das várias intervenções pela cidade, da poesia carimbada, dos haicais, enfim, aquele da boa poesia. Não o conheço muito bem. Abordei-o uma vez na rua, para tirar uma dúvida sobre um de seus livros. Nessa ocasião, impressionou-me a simpatia e a singularidade de Caco. Muito espontâneo e educado: coisa rara de se ver. Espontâneo e educado também é Miguel, que responde às perguntas de Caco com muita graça. À pergunta inicial de Caco, ele diz que está tudo bem. Diz que a vida está corrida "muitas empresas, sabe?". Começo a sentir uma grande felicidade, embora ainda não consiga explicá-la. A piada de Miguel foi boa, mas nem tanto para me deixar tão sorridente. Por que a felicidade, então? Bem, só penso nisso agora, pois ontem, no ônibus, só queria acompanhar o diálogo dos dois. Creio que Caco o conheceu pelas suas andanças no centro da cidade. Miguel tem um rosto familiar: todos que frequentam o centro já o viram. Mas poucos conversam com ele.
Respondendo o poeta, Miguel falou de como tem se alimentado, e das suas andanças pela cidade. Uma conversa pacata e gostosa, a dos dois. (E eu, que no início estava louco para trocar de lugar, sentar ao lado do Caco e lhe perguntar sobre outra coisa - uma antologia recém lançada - fiquei no meu canto, só ouvindo, sem atrapalhar)
Em cada ponto, desceu um pouco de tempo. A viagem passou rápida. Quando me dei conta, o poeta estava se preparando para descer. Aí ele disse:

-- Eu vou te dar um livro, Miguel

Miguel continuou com o ar grave, uma característica sua. Olhou para Caco e ficou vendo o poeta abrir sua bolsa (vejam que figura: uma mochila escolar azul e vermelha, do homem-aranha) e retirar um exemplar de um de seus livros. Livro bonito, novinho. Trata-se do último lanaçamento de Caco, o livro Cardume de Nuvens. "São haicais", explica o poeta ao leitor intrigado. Caco estende o livro para Miguel fazendo uma brincadeira com ele: abre as abas do livro ("as orelhas") e, com um momvimento de asas batendo, faz com que Miguel receba um livro-pássaro em suas mãos.
Miguel, muito humilde, agradece o presente e acolhe o pássaro entre as mãos. Logo que entrega o presente, o poeta se despede do companheiro e desce em sua parada. O ônibus segue sua rota, Miguel segue sentado no degrau, e eu sigo em meu rodízio de olhares, distraindo-me principalmente naquele figura de camisa e calça toda suja e chinelos velhos. Miguel fica silencioso. Ouço um breve rumor sair de sua boca, mas é muito discreto, indecifrável. Então, Miguel levanta-se do degrau e vai sentar-se na mesma poltrona que o poeta até então havia usado. Botou o livro (que tem uma capa muito bonita) no colo e começou a folheá-lo. Não sei se Miguel sabia ler ou se era um grande leitor. Sei que ele percorreu as páginas com aquele seu ar grave, de como quem está intrigado: um leitor intrigado. Uma imagem muito bonita, que fotografei na memória e agora colo aqui. Logo Miguel fecharia o livro, não por desinteresse, tenho certeza. Talvez inquietação. Ou talvez por perceber que a viagem chegava ao fim.
Logo, surgiu o terminal do bairro: parada final. Sou o último a descer (em parte pelo desejo de observar os outros, principalmente o Miguel). Este, assim que sai aproxima-se da lixeira do terminal e vasculha com o braço seu interior. Com pressa, passo por Miguel rumo à catraca que é a saída do terminal. Enquanto passo por ela, observo que Miguel vem logo atrás. Espero um pouco, com uma enorme vontade de conhecer um pouco mais dessa figura. Olho pra ele e digo:

-- O Caco é um cara muito gente-boa, né?

Ainda com seu ar grave (que é simpático) ele confirma minha opinião e completa:

-- É assim que a gente aprende, velho.

Dito isso, desejou-me um bom fim de semana e tomou um rumo contrário ao meu.
Também tomei meu caminho rumo à casa, pensando que a minha felicidade numa descoberta (eu quero descobrí-la todo dia): Viver Livre.
Viver Viver Viver
Viver, velho.
É assim que a gente aprende.

domingo, 18 de outubro de 2009

mente-suja

o mente suja é aquele que escorrega no duplo sentido.
Quase sempre, o duplo sentido tem uma conotação sexual
E, geralmente, o resultado desse escorregão é uma gafe.

Volta-e-meia eu tenho os meus momentos mente-suja.
Pois é, e hj descobri mais uma.
Gosto muitos dos mutantes, aquela banda da década de 60, que sobrevive até hj, uma das maiores (a maior?) do Brasil.
Pois então, tem uma música deles, que eu adoro, chamada Top Top.
escuto direto. ja escutei dezenas de vezes ela.
e eu sempre achei que a letra dela era assim

Eu vou sabotar
Vou casar com ele
Vou trepar na escada
vou pintar seu nome no céu


ou seja, ela ia casar com o cara
ia trepar na escada, ou seja, ia foder na escada, fazer sexo, um coito, tanto faz o nome.
a questão é que a letra não é assim.
descobri isso dias atrás. Na centésima vez que ouvi a letra, reparei que ela era diferente.
eis a forma correta do trecho, composição de mutantes e Arnolpho Lima Filho:

"Eu vou sabotar
Você vai se azarar
O que eu não ganho eu leso
Ninguém vai me gozar, não jamais !!

Eu vou sabotar
Vou casar com ele
Vou trepar na escada
Pra pintar seu nome no céu
"


Ou seja, a santa moça, ia subir numa escada - o objeto
para, romanticamente, pintar o nome do cara no céu.
E eu maliciando a menina!

ai, ai, mente-suja é foda.
foda nos dois sentidos.

:P

intimidade

eu não sou poeta
(bem que eu queria)
eu só tenho palavras demais.

ah, que mentira!
Palavras demais..
tenho as mesmas palavras de todo mundo
sou apenas mais safado com elas

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

das capas de livros

Sabe aquela frase "Não julgue um livro pela capa"? Pois é. Eu julgo. Primeiro porque desconfio de todo livro feito numa edição ruim, com aquele papel ralo, que mais parece guardanapo do que folha. Nisso posso me enganar, mas geralmente estou certo quanto a esse pré-julgamento. Título é outra coisa que utilizo para julgar. E aqui os enganos são maiores. Um exemplo é um livro muito legal de um autor francês chamado Pierre Bayard: "Como falar de livros que não lemos?" Título bem safado que leva o leitor a pensar que se trata de um manual para vagabundos que querem se passar por grandes leitores. Grande engano. Aliás, já escrevi sobre esse livro aqui.
Mas continuo a fazer meus pré-julgamentos. A palavra felicidade, por exemplo. É uma das bases dos livros de auto-ajuda. Se essa palavra tá no título, geralmente é porcaria. "Buscando a felic.." ou a variante "como ser feliz...e bláblá"
Mas quero voltar para as capas. Além de julgar um livro pela capa (é claro, eu o folheio também, leio orelhas e etc), eu compro livros pelas capas. Uma edição bonita me apaixona. Uma editora que tem capas maravilhosas é a CosacNaify. É cada capa! À cada dia as editoras capricham mais nas capas. Não precisa ser grandiosa: às vezes, uma bela fotografia (como as capas da editora Alfaguara) ou até uma capa simples, mas com boa escolha de cores e tipos de papel (como a Rocco ou a Record). Enfim, não há um grande segredo. Mas que eu compro livros pela capa, ah eu compro.
Estou falando, especialmente, dessas edições mais recentes, já que a maioria das antigas não tem tanta beleza e tanta variedade.
Mas há um outro lado. O lado das capas ruins. Uma coisa bizarra é aquele livro que tem a cara do autor estampada na capa, como se ele fosse maior do que o livro. Bem, se a capa sugere isso, é certo que a obra não vale nada. Mas não é esse o único tipo de cada ruim. Como eu disse, antigamente não havia essa consciência em todas as editoras, o que resultou no surgimento de capas toscas. Nunca me esqueço de uma vez em que, revirando livros num sebo, deparei-me com um exemplar de "A carne", romance de Júlio Ribeiro escrito lá por 189.. e alguma coisa ou início do século XX. Enfim, esse livro na época chocou uma parte da sociedade por conter referências claras (na verdade, nem tão claras assim, o autor mascara com metáforas. Mas todo mundo entende) à sexualidade da protagonista. Uma cena de sexo aqui, outra de masturbação ali, tudo bem floreado, e pronto. O resto era um romance naturalista/romântico que dá sono no leitor. Mas nesse sebo, chamou-me a atenção a capa do livro (edição da década de 80): uma mulher com os seios de fora. Só isso. Ora, a protagonista do livro não era uma stripper. Era só uma mulher comum. Mas para rotular o livro como "quente" (coisa que não é, só foi naquela época e olhe lá) a editora botou essa capa safada lá.
Outro exemplo paracido de capa safada é de um livro que li há pouco tempo. Escrito pelo estadounidense Henry Miller, chama-se o mundo do sexo. A capa do livro, numa edição de 1975 que eu tenho é essa aqui ó:




Diferentemente de "A carne", este livro tem, sim, o sexo como tema. O autor discorre sobre o sexo: como o homem o vê e o trata. Apesar de ser escrito em outro contexto (EUA e a europa, no início do século XX) o livro tem algumas reflexões bem interessantes do autor. Com um linguajar bem despojado (ou seja, com bastantes palavrões), o autor conta causos de sua vida e faz reflexões bem profundas sobre o sexo, diria até filosóficos, se levarmos o papel da sexualidade na forma de como o homem se enxerga. Enfim, gostei muito. O problema foi essa capa, né. Eu sei que o sexo é o tema central do livro, mas precisa fazer uma edição tão tosca como essa? Bem, acho que isso em 1975 era normal, né, imagino que foi uma década em que havia um desejo de liberdade de expressão (em vários níveis, um deles sexual) daí, esse grande apelo de imagens sexuais que tomou conta das mídias (revistas, livros, programas de tv, filmes, etc.) nessas décadas (70 e 80).
Eu costumo ler em todos os lugares possíveis. Por isso, enquanto lia esse livro, tomei cuidado de ocultar a capa em lugares públicos, num ônibus, por exemplo.
Aí vc pensa: "nossa como o eduardo é fraco, fica se preocupando com o que os outros pensam" Mas ora, a capa do livro dá a entender que estou lendo uma chanchada pornográfica de quinta categoria! A edição velha e amarelada contribui pra isso. Passar por tarado consumidor de baixa literatura? Eu é que não!
Mas já passou, já li o bom livro do Miller. Aliás esse é um livro que pelo título e pela capa engana muitos. Afinal, trata-se de um ótimo livro (para se ter uma ideia, a minha edição conta com um prefácio de um crítico do porte de Otto Maria Carpeaux, analisando a obra de Miller)
Mas é isso, são as capas e títulos no enganando. É da vida.

:D

domingo, 11 de outubro de 2009

querido diário

quando estou fazendo um trabalho acadêmico, uma das coisas que eu faço primeiro (por ser uma das mais deleitosas para mim) são as referências bibliográficas.
tem explicação sim. mas que é uma coisa boba, é.

das antologias

pois é, aniversário. Festinha, presentes, coisa e tal. O presente mais amado foi da mais-amada Daia. Livro, é claro. Ganhei dela "Os melhores contos da américa latina." Por meio dessa antologia, desfila diante do leitor, um painel do pensamento latino-americano. Não queria incitar uma exclusão, mas tirando os nossos amigos Yankes, tem-se um continente, um bloco -muito heterogêneo, é verdade, com culturas riquíssimas e variadas, mas que, ao mesmo tempo, possui muita coisa em comum entre seus países participantes. Somos iguais na tragédia: os processos coloniais que destruíram povos, misturaram outros e fizeram nascer outros ainda. Tais lutas reverberam até hoje em guerras civis em países como Haiti e, mais recentemente, Honduras.
Ainda estou lendo esse livro, que tem 80 contos. Estou no começo, que traz as primeiras narrativas curtas (de cronistas peruanos, venezuelanos e um trecho de um livro místico guatemalteco). O nosso Brasil surgirá mais para frente com Machado de Assis, Arthur Azevedo, Inglês de Souza até chegar nos modernos Trevisan, Rubem Fonseca e C. Lispector. Enfim, é um livro de encher os olhos, organizado pelo escritor Flávio Moreira Costa.
Sou um aficcionado por essas antologias, pois sei que é quase impossível não ser um bom livro. Tenho em casa, os "Cem melhores contos brasileros do século [XX]" e "As cem melhores crônicas bras...." , e agora mais essa. Todos eles maravilhosos. Há textos únicos, magistrais.
Estou namorando, há tempo, outras antologias como As cem melhores histórias eróticas da literatura universal (que tbém é organizada pelo Flávio) e os cem melhores poemas brasileiros do século. Aos poucos, realizo esses meus sonhos de consumo-devoração.


Falando nisso, recentemente saiu pela Letradágua o livro "Poesia para gostar de ler poesia- antologia de poetas joinvilenses", reunindo ótimos poetas joinvilenses (que aqui nasceram, ou que aqui produziram suas obras) como Alcides Buss, Fernando José Karl e Rubens da Cunha. (esse tbém está na lista dos livros que namoro. Tenho que ir atrás dele!)

Agora chega, que vou devorar o presente do meu amor.

^^

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Leia isso porra

Dia desses (semana retrasada, acho) saiu uma reportagem no jornal, com outra polêmica cercando livros didáticos. Agora em MG. Pelo jeito ninguém aprendeu depois do episódio de "censura" aos livros do Cristovão Tezza. Continuam a repetir asneiras.
Trata-se de um livro didático de língua portuguesa que apresenta, em alguns textos literários (não sei quem são os autores dos textos), contendo palavras de baixo calão, ou seja, os bons e velhos palavrões.
O repórter colheu depoimentos de pais, alunos e do professor. Todos condenaram a existência de termos como "filho da puta" e "vai tomar no cú", nas falas de personagens que demonstravam raiva. A fala mais forte (e burra) veio do próprio rofessor: "Eu fiquei indignado. O aluno, por mais que fale esse tipo de palavras, não é na escola que ele deve aprender. Aliás, na minha sala de aula nem o direito de falar isso ele tem"
Ora, se partirmos dessa premissa (de que tudo aquilo que se lê em sala de aula tem intuitos didáticos) chegaremos a absurdos, como não podermos utilizarmos nenhum texto que contenha personagens que fumem, pois assim estaremos ensinando os jovens a fumarem. Nem cenas de sexo. Nem cenas de assassinato. Vejamos.. "O ateneu" com crianças peraltas (e lá tem uma cena de assassinato também)? Não, isso iria incitar as crianças a aprontarem. Que tal "O cortiço", de Aluísio de Azevedo? Nem pensar! Lá tem cenas de sexo! e de crimes! E dom casmurro, o clássico? Não, absurdo! Com um protagonista, o tal do Bentinho, que pensa em matar seu filho com um café envenenado. Oh, céus! Não podemos levar esses maus exemplos para as crianças!
Isso tudo é ridículo!
O que vou dizer é um grande clichê para quem compreende o valor da literatura (e da arte em geral): a literatura não tem compromisso com nada. Ela quer desnudar o homem, mostrar quem ele é. Se é bonito ou não; se é pomposo ou grotesco; isso não importa. A palavra é desnudar. E vem um bando de falsos-moralistas jogar mantas sobre isso: H-i-p-ó-c-r-i-t-a-s.
As pessoas falam palavrões? Falam! E muito. E isso é bom? Ruim? Olha, bonito não é. Se fosse bonito, papo de namorados era assim.

-- Amor, você é tão bonita. Parece uma putinha.
__ Ai, obrigada! Você também, é um grande (um grandíssimo!) merda.

Um palavrão é uma tentativa. Uma fuga. Quando alguém diz um palavrão, fala sabendo que trata-se de uma palavra "ilegal". E fala para "quebrar" essa norma. Um palavrão, nesse sentido, é um ato marginal.
Vou dizer por que vejo um lado positivo no palavrão. Muitas pessoas tem medo das palavras. Se alguém fala "inferno!", ah pronto, abre logo a boca de espanto. Cocô, buceta, inferno: eis aí o resumo. Geralmente o "baixo calão" vem de uma imagem escatológica, sexual ou oriunda de crendices (diabo, demonho, macumba, saravá, etc), mas principalmente dos discursos relacionados ao sexo. Discursos sexuais (existe esse conceito, será? :P)
E é isso. Nossa língua nos reflete. Falamos muito de sexo. Ou melhor, pensamos(há quem não goste dessa generalização -pensamos- mas deixa assim) muito em sexo. Talvez pensamos demais e falemos pouco. Aqui entra o palavrão. Ele tem diversos fins: explicitar raiva, desespero, alegria! (veja o video para o qual coloquei o link abaixo), ou uma ofensa (e aqui, seu uso não é legal). Mas nós falamos. Somos humanos. Humanos com medo da própria língua.
Pelo amor do demonho! (como diria o protagonista de "ensaio do vazio" de C. Henrique Schroeder) Parem de perseguir os textos literários! Se você não fala, eu respeito. Mas que você pensa neles...ah você pensa. (Veja o video, please)
Para ilustrar o valor do palavrão de forma bem-humorada, tem um video muito legal. Mas como estou com preguiça de baixa-lo e depois postar, vou botar só o link para você ver no youtube. Copie e cole. Os comediantes Marcius Melhem e Leandro Hassum estão impagáveis nesse tratado sobre palavrões.
É isso gente. Tem mais não.



Ah, já sei. Você não vai poder ler. Tá com preguiça. Ou melhor, a vida tá corrida, né? Muitas coisas a fazer. Tudo bem, eu entendo.

Entendo nada! Vai tomar no cú!
assista o vídeo lá, seu filho da putaaaah!
pois é bom, garanto!


Ou melhor, clique aqui para ver o video. http://www.youtube.com/watch?v=ADyc_t7qV6s


:D

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

o tal do Skoob

Pois é, depois dos famosíssimos msn e orkut, do recente twitter e do pouco usado facebook, acabo de entrar para mais uma rede social da internet. Aff, mais uma? Pois é, não resisti. Não resisti pois se trata de um assunto que eu adoro: leitura. A proposta do Skoob é criar uma rede de contatos para troca de experiências de leitura.
Cada pessoa tem seu perfil, onde expõe os livros que leu, os que tem, os que vai ler, os que emprestou, os que deseja e os que abandonou. Tenho gostado bastante.
Entretanto, dando uma rápida olhada em perfis diversos, vejo que não é todo mundo que consegue, efetivamente, estabelecer uma rede de contatos. A maioria das pessoas -inclusive eu - tem poucos amigos no skoob, resultado da pouca aderência, aliada à pouca leitura. A princípio o skoob se mostrou para mim como mera exposição das leituras de cada um, ou seja, futilidade. Mas tenho notado como algumas coisas são interessantes. O maior problema é ter saco para achar (há um sistema de buscas) livro por livro para salvar os que vc já leu. É preciso paciência :~
Bem, lá você também dá notas de 1 a 5 para os livros lidos e pode postar resenhas sobre os livros e consultar as resenhas que outras pessoas fizeram para aquele livro que vc leu. Nesse sentido, o skoob é muito interessante. Basta ter gente lendo, produzindo e tendo iniciativa!
Ainda sou um novato no skoob, ainda estou na fase de experimentação. Mas tenho gostado. Antes sair do frio facebook do que do skoob.

É isso aí pessoal, se alguem se interessar, eis o meu perfil no skoob

E se alguém fizer cadastro, me mande um convite. Estou precisando de contatos! haha


Abraço!
=D

domingo, 27 de setembro de 2009

Ultimamente...

...tenho postado poucas coisas sobre literatura...enfim...como eu disse no primeiro post desse blog, aqui eu falo de tudo. Mas isso se deve ao Daki-Dali, o blog em parceria com a Daia. Tenho postado algumas coisas sobre literatura lá. especialmente, da Infanto-Juvenil. Visitem-no.

=D

dos vereadores

Tenho certeza de uma coisa: mil eleições passarão, mas eu nunca ficarei contente (e tranquilo) com a equipe de vereadores da câmara se não houver alterações nas leis que regem a composição desse quadro¹. Hoje, qualquer pessoa pode se tornar um vereador. O que é preciso? popularidade (e isso vale para todas as esferas políticas brasileiras. Chovem candidaturas - e eleições - de "personalidades" toscas como Frank Aguiar (au!), Clodovil Hernandez e por aí vai. Um cantor é facilmente eleito (Sérgio Reis, a propósito, acaba de se filiar ao PV, e planeja sua candidatura). Um senhor de engenho é facilmente eleito (como Sarney e seu cabresto). Enfim, basta ser famoso, ou ter influência (leia-se dinheiro) para conseguir uma vaguinha no poder público.
E o que se deve, então, ser reformado nesse sistema eletivo? Ora, estamos elegendo pessoas para o legislarem em prol da cidade. Pensar em cidade, em todos os seus âmbitos, exije -mais do que uma visão global- conhecimentos básicos de Economia, Geografia, Legislação, História, Medicina e muitas outras áreas.
Eu sei que existem as comissões que auxiliam os vereadores com os conhecimentos técnicos. Mas não basta! Não basta! É óbvio que não estou falando em vereadores P.h.d's, como não estou falando em economistas formados, geólogos formados, médicos formados. Quero dizer que tais legisladores precisam ter a capacidade de pensar os problemas da cidade com um mínimo de inteligência, precisão e lógica. E sem esse referencial técnico (conhecimento na área) não há como. Não basta ele ser um chefe, um líder nato, se não consegue organizar suas ideias e aplicá-las.
Por que não exijir dos candidatos esses conhecimentos? façam uma prova. Nada de mais. Incluam apenas perguntas que qualquer cidadão inteligente saiba responder. Elejamos pessoas decentes, e não um bando de bestas, que só sabem ganhar à custa dos impostos dos otários, nós.


NOTAS INÚTEIS:

¹ O Apocalipse, o infinito, os restos de Atlântida, a última página do Ulysses de Joyce, enfim, tudo me parece mais perto do que a mais-que-necessária reforma política.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

faz parte...é da vida ou ¬¬'

-- Ah, vc faz letras...que legal...sabe, eu estou lendo. Estou lendo A cabana..já leu?
-- já ouvi falar
-- Ah, e vc tá lendo o quê?
-- Um romance. O nome é Boca do Inferno
-- O quê? Boca do Inferno...isso lá é nome...uxi...
-- ¬¬



-- Meu sobrinho querido, olha aqui, comprei pra vc: Conversando com Deus. Olha, a moça da livraria disse que ele é muito bom! Disse até que ele é um dos mais vendidos!
-- mais vendidos,é?...
-- sim! Isso é coisa boa. A menina disse que vende que nem água..
-- ah, deve ser interessante...¬¬



-- que tipo de livro você lê
-- poesia e romances, geralmente
-- Só?
-- bem, acho que sim. Porquê?
-- Só romances...ah, eu sou mais variada. Gosto de aventura, mistérios..livros de drama... diferente de você que só lê histórias românticas e...bláblá
-- ¬¬



(quietinho num canto, lendo)
-- (olhando para a capa do livro)Que é isso rapaz?
-- que foi? estou lendo.
-- e o que é isso que lê? "O mundo do sexo", que chanchada é essa?
-- ¬¬ .Um romance. Henry Miller é o autor. É americano, ele.
-- Mundo do sexo...gente! gente! olha só o que ele tá fazendo: lendo um manual de sexo! o que vc quer descobrir que vc não sabe, hein? humm, rapaz curioso...
-- ¬¬



-- ui, rapaz! você sempre com seus livros! você não cansa, não?
sempre lendo e lendo...eu sei que ler é bom..mas muito assim...sei não... e blá blá
-- ¬¬

Discutindo a língua...

Adoro essas discussões sobre a nossa língua.
Leiam se puder...volta e meia me pego pensando nisso também...

É uma postagem recente do blog da Lola Aronovich (humm, terei acertado?)

Abraço!
=D

sábado, 19 de setembro de 2009

A Marcha para a Diversidade e a Parada de Jesus

Como se sabe, a Marcha para Jesus e a Parada da Diversidade foram dois eventos que movimentaram Joinville nos últimos meses. E, como se sabe, ambos contaram com o apoio da Prefeitura de Joinville, na figura do prefeito Carlito Merss. Para a semana da diversidade, a prefeitura destinou o patrocínio de 25 mil reais. Para a Marcha de Jesus, financiada por pastores da cidade, a prefeitura foi mais modesta: colaborou com a organização e com a divulgação através de panfletos.
Dia desses, lendo o jornal/tablóide Gazeta de Joinville, deparo-me com uma matéria(escapou-me a definição exata, mas vá assim mesmo) contendo 24 trapalhadas do governo Carlito. E eu fui lendo e assentindo, lendo e assentindo.. (afinal, Carlito ainda não cumpriu boa parte de suas promessas)... aí, de repente, me deparo com essa "comparar a Semana da diversidade com a Marcha para jesus".

Ah, pronto. Fechei o jornal/tablóide.

O prefeito Carlito tem decepcionado - e muito - por não cumprir suas promessas de campanha, mas dessa vez estou com ele. Num ato bonito, Carlito publicou um artigo no jornal Notícias do dia defendendo o evento e comparando-o com a marcha para Jesus. Foi o bastante para incendiar a revolta por parte de alguns ignorantes, entre eles, os editores da Gazeta.
A Marcha para Jesus foi um evento religioso, uma confraternização dos cristãos. Ponto. A Parada da diversidade tinha um objetivo bem diferente, social - uma confraternização em prol da liberdade de orientação sexual. Eventos que podem ser comparados, pois são, na teoria, dois eventos pró-liberdade de expressão seja ela sexual ou religiosa.
Mas foi só o prefeito defender a parada, que passaram a chover críticas preconceituosas. Palavras do Carlito:

“Por ter um compromisso com toda a sua gente, a prefeitura de Joinville não poderia se omitir. Se a Maria gosta do João que gosta do Chico que gosta da Ana que não gosta de ninguém porque curte a Maria. O que e importante? E apenas assumir de forma sincera o que acreditamos e viver a vida sem culpas fabricadas por preconceitos”

Primeiro que a fala do prefeito é louvável pelo respeito às diferenças. E segundo que ela lembra (e é bem provável que intencionalmente) o poema "Quadrilha" do Drummond (lembram?).
Preciso lembrar que o preconceito aos gays é imenso em nossa sociedade?
Preciso dizer que a cidade de Joinville é composta principalmente de cristãos?
E preciso dizer que para a religião cristã não há espaço para a homossexualidade?

Aí reclamam da comparação entre os dois. Realmente. Não faz sentido.
Por toda a opressão e preconceito em torno dela e de seus participantes, a parada tem bem mais valor.

domingo, 13 de setembro de 2009

Que anoiteça logo, que amanheça logo...

Meu Deus... sábado passado, no ônibus que voltava de São Paulo, o pessoal resolve assistir Crepúsculo, filme baseado no best-seller de Stephany Meyer (desconfio de que grafei errado, mas vá lá).

Eita, nunca vi filme mais ruim! Tudo bem, confesso, eu já vi piores. Mas ele é muito ruim, ainda mais se lembrarmos o sucesso de bilheteria que ele é.

Sucessão de clichês. Comenta-se a castidez do par protagonista (a tal da Bela e o tal do Edward - o vampiro). Ok, um fato não-clichê. Mas não importa. As outras dezenas de partes do roteiro são ridículas.

Quando começou o filme, jurei pra mim mesmo: verei até o final. Não serei injusto. Mas quando os alunos da escola de Bela começaram a falar nos preparativos para baile de formatura... ah, não...não aguentei e virei-me. Baile de formatura? existem mais ou menos uns (deixa eu ver) 6.568 filmes adolescentes, em que os personagens participam de baile de formatura. Aff!

Não quero nem chegar perto do livro da Meyer.
Preconceito? dane-se.

Não se julga pela capa, mas julgo pela adaptação cinematográfica:
Grande porcaria

Meretíssimos idiotas

É com enorme alegria e filhadaputice que recebo a notícia sobre o aumento dos ministros do Supremo. Lembrando que, quando se aumenta o salário dos Ministros, aumenta-se também centenas de outros salários (executivo, do MP..) que estão ligados a esses primeiros.

É isso aí, gente!
Isso Brasil, mostra a tua cara!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Do dilema das traduções

Há pouco tempo, postei aqui uma lista de dez começos inesquecíveis (não diria "melhores", pois meus gostos são outros). Pois bem, um desses começos é do romance Lolita, de Vladimir Nabokov que conta a trágica história da paixão de um homem maduro por uma menina, muito mais nova que ele.

De fato, o começo de Lolita mereceu seu espaço naquela lista. posto aqui para relembrar:

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade"

Ocorre que, empolgado pelo início bonito, fui atrás do livro para, quem sabe, lê-lo.
Mas eis que abri no primeiro capítulo e me deparo com o seguinte início:

"Lolita, luz da minha vida, fogo de meu lombo"

opa, peraí! É lombo ou virilidade?
A saída para isso seria checar o original, mas como o meu conhecimento em língua estrangeira é medonho (não domino nenhuma outra) é óbvio que isso seria inútil. Bem, resta confiar nas fontes:

A primeira frase, retirei daquela postagem do blog (Bloguefilmes, algo assim). Lembro-me que na postagem original, não havia citação de onde foram retiradas as linhas. Assim, fica difícil saber se foi extraído de um livro, traduzido por alguém competente, ou se o texto foi vertido por um zé-tradutor qualquer.
Quanto ao segundo início de Lolita, retirei-o de uma edição da década de 80, pela Abril Cultural (é de uma coleção de romances bem conhecida do público). A tradução é de Brenno Silveira - desconheço. Mas, enfim, pelo menos tem-se uma editora, um tradutor e certamente um revisor.

Mas fica a dúvida: lombo, virilidade ou os dois servem?

A versão mais confiável, a segunda, é a mais estranha. "Fogo de meu lombo"? Isso não é tão sensual quanto "fogo de minha virilidade". A palavra lombo, no português, remete-nos primeiramente ou à surra (lombo quente, haha) ou a um bom pedaço de carne súina. Mas nada disso importa se não investigarmos a intenção do autor. E como não entendo neca de pitibiriba de nada, chego a esse dilema das traduções.

Uma tradução, por mais cuidadosa que for, nunca será versão fiel do original.
Toda tradução é um ato de criação. Obviamente não se compara o processo de elaboração de um poema ou romance com o processo de tradução do mesmo. Criar é bem mais complexo. Entretanto traduzir é, sim, um ato de criação, pois para adaptarmos certo texto para outra língua, seguindo a observação tantos e tantos quesitos (os significados, os jogos de palavras, o ritmo, etc..) será quase sempre preciso modificar o texto. Adaptar/traduzir é recriar um texto. E uma simples alteração que seja, já é uma grande ação.

Resumindo: ler traduções só é válido se tivermos em mente o real valor delas e a sua posição em relação ao original. (Bom mesmo é ler os autores de língua portuguesa, e aproveitar toda a riqueza da língua)

PS: Ainda sobre isso, dia desses eu conversava com o Juliano sobre a difícil tarefa de traduzir. O problemas começam na tradução de uma única palavra.

Por exemplo: digamos que no meio de um dado poema, conta a palavra Nobody.
A tradução mais óbvia, quase instantânea que se faz é para "ninguém"

Entretanto, é claro que no original - nobody - há uma outra palavra dentro dela (body, que significa "corpo") e que forma seu significado: nenhum corpo, nenhuma pessoa.
E a tradução para o português... ninguém? Contempla toda essa significação? Traz essa ligação com a palavra "corpo"? (que pode apontar para inúmeros outros caminhos de leitura do texto, como por ewxemplo, dar uma carga sensual à frase)

Nada! O ninguém do português apaga todas essas marcas e, consequentemente, desmancha toda uma teia de significação!
O que fazer diante disso? Não sei. Só sei que vida de tradutor não é fácil.
E a de leitor também. Repito: nunca podemos nos esquecer as gigantescas diferenças que há entre os textos original e traduzido.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Dicas para escrever, de M. Freire

Olá pessoas,

Nesses tempos de muita preguiça e muitas ocupações (duas coisas que não combinam, mas eu visto as duas)... a maioria das postagens desse blog serão amenidades. Comentários curtos ou "colagens" de coisas que encontro por aí. Mas, para não perder os poucos e bons que por aqui passam, garanto que serão coisas interessantes (pelo menos eu acho =D).

Um exemplo está colado logo abaixo. Extraídas do blog do Marcelino Freire, escritor do qual pouco conheço. Na verdade, nada. Pretendo lê-lo. Quem sabe melhor dele é o Ítalo, que já fez algumas postagens sobre esse escritor em seu blog.

Eis aí, 20 microdicas (nome dado por Freire) desse autor para quem quer escrever.
São ótimas! Leiam.

PARA ESCREVER:

[01] Cortar palavras.
[02] Não usar gravata na hora de escrever.
[03] Nem incensos.
[04] Ouvir, mesmo que baixinho, a própria voz.
[05] Abrir as orelhas para a rua.
[06] Desconfiar daquele texto que sua mãe gostou.
[07] Matar a família.
[08] E ir ao cinema.
[09] Ler muito.
[10] E reler muito.
[11] Reescrever, reescrever, reescrever.
[12] Reescrever, reescrever, reescrever.
[13] Ler os clássicos.
[14] E os novos clássicos (contemporâneos).
[15] Pirar.
[16] Respirar embaixo d'água.
[17] Beber.
[18] Viver.
[19] Não se levar a sério demais.
[20] Muito menos essas dicas, etc. e tais.

Eu adoooorei! Muito bom!

Abraços a todos

domingo, 6 de setembro de 2009

Rap de qualidade

Olá, pessoas

Esse link aqui é o da página no My Space dos SELENITAS, grupo de rap muito bacana aqui de Joinva, do qual meu parceiro Júnior participa.
É pra quem gosta desse ritmo que, como qualquer outro, tem seus lixos e luxos.

São apenas três músicas por enquanto, o primeiro CD está sendo produzido.
As três faixas são bem produzidas e com versos bem legais.

A minha preferida é a mais recente, que leva o nome do Grupo. Recomendo.

Abraço a todos!

=D

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Só faltava essa...

Acabei de ler no blog Exercitando, do Victor Pereira, a notícia de que Fernando Collor (sim, ele mesmo) acaba de ser eleito para a Academia de Letras do Estado de Alagoas. My God! E, ao que parece, foi eleito por possuir nove livros escritos (que ninguém nunca viu).
Senado, Academia de Letras, Prefeituras, Câmaras...olha, nada está salvo. Nada.

Esse é o tipo de coisa para o qual a gente diz: "SEM COMENTÁRIOS!!!"

¬¬


PS: Outro que escreveu sobre essa notícia bizarra foi o Róbson, em seu Bem Amargo. Segundo ele, Collor apenas publicou alguns artigos e discursos: ou seja, nada foi vendido; nada de literatura; nada de livros. Resumindo: mais uma armação.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

10 melhores inícios de romances

Essa lista foi feita pelo American Book Review e publicada no blogue do BiblioFilmes Festival (interessado? Jogue no google, que tô com preguiça de linkar), no qual divulga e apresenta o top 10 das cem "primeiras linhas" em romances que a revista considera as melhores (mais o escritor e livro):

1. Chamai-me Ismael. — Herman Melville, Moby Dick (1851)

2. É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna necessita de uma esposa” —Jane Austen, Orgulho e Preconceito (1813)

3. Um grito atravessa o céu. —Thomas Pynchon, O Arco-Íris da Gravidade (1973)

4. Muitos anos depois, em frente ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o seu pai o levou a conhecer o gelo. —Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão (1967)

5. Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. —Vladimir Nabokov, Lolita (1955)

6. Todas as famílias felizes se assemelham; mas cada família infeliz é infeliz a seu modo. —Leo Tolstoy, Anna Karenina (1877)

7. Rio que corre após Eva e Adão, do súbito desvio da costa até a curva da baía, nos conduz a um círculo vicioso de recirculação que retorna ao Castelo de Howth e Proximidades. — James Joyce, Finnegans Wake (1939)

8. Era um dia frio e ensolarado de Abril, e os relógios batiam as treze horas. —George Orwell, 1984 (1949)

9. Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos, foi a idade da sabedoria, foi a idade da imbecilidade, foi a época de acreditar, foi a época da descrença, foi a época da Luz, foi a época da Escuridão. —Charles Dickens, A História de Duas Cidades (1859)

10. Sou um homem invisível. —Ralph Ellison, O Homem Invisível (1952)


************


Gostei bastante dessa lista. À exceção daquele início do Orwell (não me sensibilizou tanto quanto os outro 9), achei esses começos incríveis.
Pensando nessa lista, comecei a procurar um bom começo de romance brasileiro. Ocorreu-me de citar o "Memórias Sentimentais de João Miramar", do Oswald. Entretanto trata-se uma prosa futurista que não se parece com nenhum dos 10 romances acima. A linguagem de Oswald é rápida, concisa ao extremo, e o primeiro capítulo mais parece um poema.
Talvez o exemplo mais interessante seja Mário de Andrade e seu "Macunaíma"(deveria constar nessa lista, né? Mas creio que Macunaíma nunca foi traduzido para outra língua... dificilmente). Pois bem, eis o mais-que-original início:

"No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite."

Fala sério! Esse começo -como o livro todo - é sensacional!

=D

PS: A vontade de botar o Oswald aqui era grande. Vou deixar para um postagem mais adiante. :P

sábado, 29 de agosto de 2009

Sessão das Dez

Recentemente (dia 21 de Agosto) completou-se 20 anos da morte de Raul Seixas, o maior roqueiro do Brasil na minha opinião. Bem, há quem discorde, outorgando esse título para Renato Russo. Como nota-se nas palavras de Sérgio Martins (em artigo para a Veja do dia 10/06/09): "Foi como letrista e vocalista dessa banda que Renato Russo se tornou o maior nome da história do rock brasileiro."

Ok, Let's go.

Sou fã também de Renato e sua banda. Admiro -e muito- suas letras: Renato é, sem dúvida, um dos "poetas" do rock brasileiro ao lado de nomes como Cazuza e o próprio Raul. Agora... o maior nome do rock brasileiro é, indubitavelmente, o Raulzito. E é fácil provar isso.

Renato tem letras maravilhosas, sempre com muita sensibilidade na composição dos seus versos. Posso dizer que suas letras são mais poéticas (mais concisas, mais jogos com a ambiguidade das palavras, mais metáforas amargas e imagéticas)do que as de Raul, mas Renato não tem todo o leque criativo que Raul apresentou. Renato fez seu rock "marginal", contestador (lembremos também do CD "Equilíbrio distante", com músicas lentas, todas em italiano - uma obra à parte). Enquanto Raul, além de popularizar no Brasil o Rock'n roll de Elvis, Jerry Lee Lewis e outros, também soube fundir os mais diversos ritmos ao rock, conseguindo canções inesquecíveis. Renato foi um grande roqueiro: Raul, um grande músico. Fez sobretudo rock, mas sempre rodeado por outros ritmos. Além disso, no "currículo" de Raul, está sua posição contestadora e agressiva frente à ditadura militar, o que lhe rendeu um "convite" a deixar o país. Sem falar em dezenas de canções censuradas.

Mas enfim, eu - que sou um fã inveterado (inveterado... o que significa isso, né?).
Bem, eu que sou um grande fã do Raulzito deixo aqui embaixo uma lista de 10 sucessos de Raul Seixas (isso não é um Top 10), que comprovam as multifaces desse genial músico brasileiro, que - assim como Elvis - não morreu.

1- Ouro de Tolo - Essa é mais-que clássica. Foi escolhida como uma (a única de Raul citada na lista) das 100 melhores composições da MPB, numa lista da revista "Bravo!". Em primeira pessoa, a canção fala da banalidade, do vazio de uma vida (ah, mas que sujeito chato que sou /Não acho nada engraçado / macaco, carro, praia, jornal, tobogã/ Eu acho tudo isso um saco. Essa letra contém os imagéticos versos (no limite da sinestesia):
"Eu que não me sento no trono de um apartamento/com a boca escancarada cheia de dentes/ esperando a morte chegar/ porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais/ no cume calmo do meu olho que vê/ assenta a sombra sonora de um disco voador"

2- Sessão das Dez - Essa é pouco conhecida da maioria. Aqui temos uma música puramente brega, à moda de Waldick Soriano, ou até Vicente Celestino. Mas brega mesmo. Num ritmo lento e arrastado, a letra conta a história (adivinha!) de uma desilusão amorosa. Letra bem simples, melodramática, ("Curtiu com o meu corpo por mais de dez anos/foi tamanho o desengano/que o cinema incendiou"), letra que mostra mais uma das facetas de Raul, ou melhor, Raulzito¹.

3- É fim de mês - Está música também é pouco conhecida, talvez por aparecer somente no álbum Documento, lançado somente após a morte de Raul. Considero uma das músicas mais legais de Raul: tanto letra quanto ritmo. Aliás, o clip dessa música (Multishow) é muito legal, está no Youtube (recomendo!). Nessa música, Raul funde o rock ao forró, à percurssão baiana (ritmo do candomblé). A letra contém algumas críticas à massificação das mídias e à publicidade excessiva, e critica principalmente o comodismo, mal que afeta muitos.

4-Metrô linha 743- Essa aqui é sensacional! Nessa Raul vira um prosador e conta uma história surreal, sempre com uma crítica nas entrelinhas. Melhor mesmo do que eu contar a história, é dar uma olhada na própria letra dessa música, que não é cantada; dá pra dizer que contada por Raul. Eis a letra de Metrô linha 743

5- Eu sou egoísta - essa é uma das minhas favoritas, senão a favorita. A letra é ótima. O Raul Seixas desnuda o seu egoísmo e provoca "Eu sou ego/Eu sou ista/Eu sou egoísta/Eu sou, eu sou egoísta/ Por que não?/ Por que não?/ Por que não!")

6- Pagando Brabo- Outra das "desconhecidas" do Raul, constante no álbum "Mata Virgem". Uma letra bem sensual, que destaco pelo fato de que o sexo não é um tema muito recorrente nas músicas de Raul. O ritmo é muito bom, com a guitarra distorcidas, enquanto o baixo dá o tom sensual à música. Recomendo!

7- D.D.I Discagem Direta Interestelar - Nessa música muito bem-humorada e criativa, deus liga (de um orelhão) para o povo da Terra a fim de criticá-lo. Afinal, o povo está sempre descontente, e tudo que ele (deus) faz, nunca fica perfeito aos olhos dos homens. Ao final, deus avisa: "Mas se alguém ligar/ Dizendo ser eu/ Pode ser um trote do diabo/ Que já desceu/ Que já desceu!". O tema das religiões é muito recorrente nas letras de Raul. Quase sempre com o tom despreocupado e paródico, como é o caso de D.D.I e também de "Judas", em que o apóstolo apresenta sua defesa.

8- Sapato 36 - Letra muita bonita. A canção é uma metáfora para a difícil relação enre o pai e o filho, em que este resiste à imposição de idéias pelo pai. ("Eu calço é 37/ meu pai me dá 36/Dói mas no dia seguinte/Aperto meu pé outra vez")

9- Let me sing, Let me sing - Música síntese da arte de Raul: aqui o roqueiro baiano mistura o rock'n roll antigo ("que não tem perigo de assustar ninguém") com o baião, ao melhor estilo Gonzaguinha. Entre os versos de baião (fala coloquial, malandra), com a sanfona e o triãngulo, o refrão com guitarra e piano: "Let me sing, Let me sing/ Let me sing my rock'n roll"/ Let me sing, Let me sing/ Let me sing my blues and go")

10- Senhora Dona Persona - Essa, assim como Metrô 743, exigia a reprodução da letra para um melhor entendimento. Trata-se uma metáfora muito louca para a morte - a tal Senhora Dona Persona. ("Eu queria ver tua cara/ Não encontrei nenhuma cara/ Qualé, tá pensando que é deus?!"). Nessa letra, Raul cunha a frase "Os homens passam, as músicas ficam.", que é uma grande verdade - ele mesmo prova isso.


E detalhe: apesar dessa lista recheada de sucessos, ainda há muitas letras ótimas de Raul. Lembremos de "Meu amigo Pedro" "Metamorfose Ambulante" "Tente outra vez" "Maluco Beleza", entre muitas outras.

E então,
Raul é ou não é o maior roqueiro do Brasil?

=D

NOTAS INÚTEIS:

¹ No disco em que a canção "Sessão das dez" aparece ("Se o rádio não toca"), ao invés do nome Raul Seixas - como está nos créditos das demais músicas - esta tem o nome Raulzito. Como se Raulzito fosse um outro lado de Raul, lado mais romântico e brega. Aliás, há uma referência a essa "persona" de Raul em outra de suas músicas: "As aventuras de raul Seixas na cidade de Thor", que é toda composta por repentes (mais um ritmo aproveitado por Raul):

"Raul Seixas e Raulzito/
Sempre foram o mesmo hôme/
Que para aprender o jogo dos ratos/
Transou com Deus e o Lobisomem"