domingo, 22 de agosto de 2010

BLOG ENCERRADO

Sem intenção de voltar à ativa. Continuarei no O biblio'filo pobre e no Daki-dali .Pouco tempo pra manter esse bendito. Assim que puder, cato os textos que me interessam e aí excluo o blog. abraços!

sábado, 10 de julho de 2010

quem pode, prevért, tua poesia tão simples e mágica?

PARA PINTAR O RETRATO DE UM PÁSSARO
(tradução de Silviano Santiago)

Primeiro pintar uma gaiola
com a porta aberta
pintar depois
algo de lindo
algo de simples
algo de belo
algo de útil
para o pássaro
depois dependurar a tela numa árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem nada dizer
sem se mexer...
Às vezes o pássaro chega logo
mas pode ser também que leve muitos anos
para se decidir
Não perder a esperança
esperar
esperar se preciso durante anos
a pressa ou a lentidão da chegada do pássaro
nada tendo a ver
com o sucesso do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
guardar o mais profundo silêncio
esperar que o pássaro entre na gaiola
e quando já estiver lá dentro
fechar lentamente a porta com o pincel
depois
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar numa única pena do pássaro
Fazer depois o desenho da árvore
escolhendo o mais belo galho
para o pássaro
pintar também a folhagem verde e a frescura do vento
a poeira do sol
e o barulho dos insetos pelo capim no calor do verão
e depois esperar que o pássaro queira cantar
Se o pássaro não cantar
mau sinal
sinal de que o quadro é ruim
mas se cantar bom sinal
sinal de que pode assiná-lo
Então você arranca delicadamente
uma das penas do pássaro
e escreve seu nome num canto do quadro.

domingo, 27 de junho de 2010

Confabulações diversas a respeito do destino do blog Palavras Mortas

Como o blog está capenga, quase fazendo jus à expressão "Palavras Mortas", uma série de personalidades foram convidadas à deixarem suas opiniões quanto ao destino desse blog.

- Nostradamus: dia 10/10/2010 o blog será excluído. Podem escrever!

- Um advogado ruim qualquer: Excelentíssimo colega, segunda a lei blogueiricídia, prevê-se a possibilidade de pedidos de usucapião sobre blogs não atualizados por mais de 1 ano!

- Nero: se eu fosse você, queimava esse blog, e passava a me dedicar só aos outros 3!

- Euricão Engole-Cobra: Ai, a caristia. Ai, a desatualização!

- Emily Dickinson. The question is other, dear eduardo. first, you have to correct the widget, on the right . I don't write in portuguese, eduardo. Who's the translator?

- Mamãe: quiquié blog?

- Um nerd qualquer: isso vai falir. já começa pelo fato de você ainda usar o blogger!

- um poeta ruim qualquer: Mantenha o blog, pois... "nesse mundo quem mais além do peixe posta?/O carteiro e o poeta são a resposta." by poeta ruim qualquer.

- Raul Seixas - Tudo é muito subjetivo, rapaz, postar ou não, sei lá, faz o que tu queres!

- um sacana qualquer - esse blog aqui é tão ruim, e tão sem foco, que nem sua namorada lê!

- (espaço para uma possível manifestação da namorada) - [.................]

- Um matemático qualquer: somando a variante 'o tempo que você tem á disposição para atualização' com o número de blogs que você mantem, multiplicado pela frequencia em que as postagens são elaboradas (uma média de 10 dias), subtraindo desse resultado a porcentagem de vontade de manter esse blog (aqui, representada pela incógnita x), tudo isso divido por 2, chega-se à conclusão que X + Y = 666 , sendo y a chance de o blog continuar existindo. Agora é só aplicar a fórmula!

- Fernandinho Pessoa, relembrando Tio Pompeu - Blogar é preciso. Atualizar não é preciso. Ou seja, mantenha o blog, ó gajo.

domingo, 30 de maio de 2010

40 mulheres



Esse foi o primeiro livro de Clotilde Zingali que eu li. Gostei muito. É o terceiro dela, que tem 2 outros de poemas: “Oco Hálito” e “Bricolages para geladeira” Clotilde é paulista, mas atualmente mora aqui em Joinville. O belo projeto gráfico e o título provocador me atraíram para esse livro de dimensões pequenas. Dimensões gráficas, acrescente-se ( Acho que 15X15 cm.) Pois as dimensões brincam com o infinito logo ao abrimos o livro. E sabe por que? O tema do livro: mulheres. 40 perfis, 40 fotografias, 40 cenas, 40 mulheres, cada um com seu fardo e sua força. Cada mulher é representada num trecho de uma prosa poética muito bem-escrita.
E esse título? “40 maneiras possíveis de se descascar uma mulher” pode ser uma armadilha para um pensamento safado e ingênuo, de que há maneiras fáceis e seguras de penetrar no âmago de uma mulher para devorá-la. Desnudar a mulher como quem vai comer uma fruta: quem toma esse rumo acaba se engasgando com os caroços de humanidade que as mulheres de Clotilde representam. A “Gisele” (minha mulher preferida do livro) é prova disso:

“De tanto desejo nasce uma lucidez estranha. Em árvores, nas pedras do jardim, sob o fundo escuro da noite que prediz manhã de sol. Ela olha a palmeira que se desdobra sob a porta – não diz palavra – tem cachos que despontam do caule, colorações diversas e contornos; ela não, não sabe onde começa, nem sabe onde termina – é mercê de paisagens. Varada e traduzida. No vazio da sala entre tanta gente. Ela segue, se perde e se percebe. Mas quando perguntaram o que a traduzia: a poesia é meu modo de estar doente.”

Entre tantas mulheres diferentes, tem-se o relato perdido de “Angélica”:

“Abdiquei de quase todas as profundidades. Fiquei em bordas de piscinas, orelhas de livros e leituras dinâmicas. Armo estratégias, ponho o despertador sempre para as 7:30. Não necessariamente escuto ou levanto. Deu que o tempo cismou de abraçar a causa, depois se tornou meu aliado. Dias inteiros na rede. Só o farfalhar da preguiça. Parafusos todos espalhados pelo chão e eu sem a menor noção do manual. Desde cedo disseram que manuais eram coisas de meninos.”

Ou ainda, a concisão – paixão na lata - de “Sandra”:

“Nua. Batendo na porta da tua casa às 3 da manhã”

Um trecho que me comoveu é o de “Norma”. E já explico o porquê. Ó:

“Ela usa calça jeans, cintura baixa. A camiseta contorna a cintura e deixa entrever um pedacinho da barriga. Nos pés, sapatilhas. Atravessando o tronco, uma bolsinha. Senta no café ao lado da moça e faz seu pedido: uma garrafinha de chocolate e um pão de queijo. Conversa com a moça, mexe nos cabelos e olha tudo ao redor. Sorve o mundo com seus olhos. Nove anos e alguns dias.”

Assim: Você está lendo vários perfis de mulheres, uma a uma, e, lá no meio, se depara com a Norma. E percebe que se não fosse a narradora contar a idade dela, ao acrescentar a última frase “Nove anos e alguns anos”, não saberia dizer que Norma é uma criança. Uma criança entre tantas mulheres 'maduras'. Passaria batido, creio. Ok, ok, alguém poderia dizer que os diminutivos presentes no texto e a frase “sorve o mundo com seus olhos” são pistas para delinear a infante personagem. Mas ninguém tira de mim essa [estranha] visão de meninas-mulheres, uma cena constante em nossa sociedade.

Norma, Sandra, Gisele e Angélica são 4 exemplos das diversas mulheres apresentadas por Zingali. Se as 40 mulheres carregam dramas, desejos e personalidades muito diferentes entre si, em todas persiste a força de ser mulher, contra todas as barreiras que surgem, todas afirmam seus desejos e suas necessidades. Pudicas ou maníacas, pobres ou requintadas: todas sem vergonha de ser mulher. Todas mulheres de peito? Sim, por que não. De peito, de bunda. Mas também de pulso, de mente, de fibra, de raiva, de amorosidade e paixão. Todas mulheres.

Na epígrafe do livro de Zingali, versos de Manoel de Barros (“eu sou muitas pessoas destroçadas”).
O que me faz arriscar que Norma, Bianca Priscila, Analuci e as outras são pedacinhos de Clotilde.

¹Projeto Gráfico a cargo de Estevão Teuber. A editora é a Nova Letra, de Blumenau/SC.

PS: não se enganem pela foto-cartaz, tá? O livro já foi lançado em 2006 (ou 2007?) enfim.

sábado, 8 de maio de 2010

Com rima e tudo.

Triste a sina daquele poeta medíocre!
No desespero por esculpir o seu máximo soneto
- sua obra-prima -
amarrou sua amada sobre a mesa
- que além de amada, era prima -
e em 14 pedaços fez dela um poema!

sábado, 3 de abril de 2010

-- eduardo, vá atualizar seu blog, eduardo!
-- hummm... peraí...só mais 5 minutinhos...hummm

sábado, 20 de março de 2010

Opa, uma retificação!


Ah, como sou avoado! falei que estava torcendo pelo Roger mello, que concorre na categoria 'Ilustradores' ao Hans Cristian Andersen 2010, e omiti que outro brasileiro está no páreo! O Bartolomeu Campos de Queiros, que é um escritor muito sensível, com seus escritos cheios de poesia, está concorrendo em 'Escritores'.

Logo, temos dois motivos para torcida!

Bom, segue a notícia correta aqui embaixo :)

Bartolomeu Campos de Queirós e Roger Mello estão entre os finalistas do Prêmio Hans Christian Andersen 2010

Pela primeira vez na história do Prêmio Hans Christian Andersen - HCA, criado pelo International Board on Books for Young People – IBBY, dois brasileiros são selecionados como finalistas.

A Fundação Nacional do Livro Infantil e juvenil – FNLIJ, seção brasileira do IBBY, indica, de dois em dois anos, um escritor e um ilustrador para concorrer ao Prêmio. Para a edição de 2010 do HCA, a FNLIJ indicou o escritor Bartolomeu Campos de Queirós e o ilustrador Roger Mello.

A concessão deste prêmio é considerada a distinção máxima internacional dada a um escritor e a um ilustrador vivo cuja obra represente grande contribuição para a literatura infantil. Dentre os 55 candidatos que foram indicados pelas seções nacionais do IBBY, o júri selecionou cinco candidatos finalistas nas categorias escritor e ilustrador. Os vencedores em cada categoria serão anunciados no dia 23 de março, durante a Conferência de Imprensa do IBBY, na Feira de Bolonha, Itália.

Escritores Finalistas
- Ahmad Reza Ahmadi (Irã)
- Bartolomeu Campos de Queiros (Brasil)
- David Almond (Reino Unido)
- Lennart Hellsing (Suécia)
- Louis Jensen (Dinamarca)

Ilustradores Finalistas:
- Carll Cneut (Bélgica)
- Etienne Delessert (Suíça)
- Jutta Bauer (Alemanha)
- Roger Mello (Brasil)
- Svjetlan Junakovic (Croácia)

Os dez membros do júri de 2010, presidido por Zohreh Ghaeni (Irã) foram: Ernest Bond (EUA), Karen Coeman (México), Nadia EL Kholy (Egito), María Jesús Gil (Espanha), Jan Hansson (Suécia), Annemie Leysen (Bélgica), Darja Mezi-Leskovar (Eslovênia), Alicia Salvi (Argentina), Helene Schär (Suíça) e Regina Zilberman (Brasil). Elda Nogueira (Brasil) representou a presidente do IBBY, Patsy Aldana e Liz Page atuou como secretária do júri.

O Brasil já recebeu duas vezes este prêmio com as escritoras Lygia Bojunga (1982) e Ana Maria Machado (2000) e ainda teve como finalista os escritores Joel Rufino dos Santos (2004) e Bartolomeu Campos de Queirós (2008).

Para a FNLIJ é um orgulho ver suas indicações de importantes nomes da Literatura Brasileira Infantil e Juvenil recebendo o reconhecimento do seu trabalho. A qualidade dos livros para crianças e jovens produzidos em nosso país já é destaque no mundo e a cada ano tem ganhado mais espaço. Parabéns a escritores, ilustradores, editores e promotores que acreditam e apostam no livro e na leitura.

Mais informações acesse o site www.ibby.org

*Fonte: http://www.fnlij.org.br/principal.asp

quarta-feira, 17 de março de 2010

Na torcida!



O Roger Mello, grande escritor e ilustrador, é um dos finalistas do Prêmio Hans Christian Andersen 2010, na categoria de ilustradores. Esse prêmio é conhecido como o "Nobel" da Literatura Infantojuvenil. Duas brasileiras já ganharam: Ana Maria Machado e Lygia Bojunga.
E o páreo é duro, só tem concorrentes fantásticos:

Ilustradores Finalistas:
- Carll Cneut (Bélgica)
- Etienne Delessert (Suíça)
- Jutta Bauer (Alemanha)
- Roger Mello (Brasil)
- Svjetlan Junakovic (Croácia)

Na figura acima, tem-se uma ilustração para o livro "Fita verde no cabelo", um conto muito legal do Guimarães Rosa. Apenas um de vários exemplos que comprovam grande talento desse cara.
Então é isso, vamos torcer porque ele é fera. ^^

domingo, 7 de março de 2010

14 cascaes



Adorei o projeto editorial deste livro. Edição muito bem feita, com destaque para os desenhos que ilustram cada conto (fugiu-me o autor agora, mas é catarinense). Quanto aos contos, é interessante observar que a proposta (fazer 13 contos contendo o mesmo personagem, o eterno Franklin Cascaes, artista e estudioso do folclore de Florianópolis) foi muito bem-sucedida. E assim foi pois em cada conto, Cascaes aparece de um ângulo: ora é o protagonista, ora um coadjuvante, que passa por traz da cena, acrescentando pequenos detalhes, mas que mudam muito o curso da narrativa. Ora é passivo, quando sua história é contada; ora é ativo, quando é um personagem em si, com falas expressas. Outro aspecto que aumenta a singularidade de cada conto, é a forma como o personagem é cruzado com os entes místicos que estudava, especialmente as bruxas. Essa relação aparece na maioria dos contos, como não poderia deixar de ser. Enquanto num conto Franklin, que se encontra solteiro por conta da morte de sua esposa Bete, é tentado por uma sensual bruxa; em outro Franklin é chamado para investigar um aparente caso de surgimento bruxólico, como no conto "Minha querida", de Fabio Brüggemann. "Dois bandolins", de Flavio José Cardozo, foi um dos conto de que mais gostei. Pela escolha do tema, e pelo gracioso trabalho com a metalinguagem (o final é demais), gostei muito. Muito bom também é o de Péricles Prade, o conto "talvez a primeira e última carta". Esse exemplo de Prade, é mais um que corrobora aquilo que eu falava lá em cima: a originalidade de cada conto é preservada por seu próprio foco narrativo, além das diferenças de tempo e espaço, bem como, os contos se diferem pelo papel que Cascaes nele desempenha. Essa narrativa de Prade, como sugere seu título, trata-se de uma carta datada um dia antes da morte de Cascaes, assinada por uma mulher que se diz indignada pelo fato de sua pessoa ser associada à figura de uma bruxa, por conta de Francolino (o nome real de Franklin)assim tê-la chamado, em sua obra "O Fantástico na Ilha de Santa Catarina. Na carta, a mulher tenta tirar de si a fama de bruxa, explicando que a sétima filha mulher nascida em lua cheia (condição para surgir uma bruxa) não fora ela, mas sua irmã gêmea. E Cascaes Acredita? E o leitor acredita? Lembrando que a carta, no qual emerge uma ameaça de morte para que Cascaes corrija seu suposto erro, é datada um dia antes do falecimento dele...
Bem, agora que eu praticamente tirei a graça de um dos contos, resumindo e contando seu final, resta-me tentar ajeitar isso, convidando-os a ler esses 13 cascaes (reparem no número folclórico), sob olhar de 13 autores catarinenses, e mais um 14º, aquele ilustrador, do qual vou ficar devendo o nome. (Começa com T, haha :P) Vale a pena curtir essa bela homenagem ao folclórico Francolino.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Breve diálogo

Dostoiévski: Para escrever bem, é preciso sofrer, sofrer

Eduardo: Opa, estamos aí pra isso, tio



PS: ando meio sumido, culpa da rotina abarrotada de mais rotinas. Mas não vou abandonar meus blogs, espaços que amo. Apenas umas reticências bem largas. Abraço a todos.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Pequeno Tratado Poético das Asas

Há algum tempo deparei-me com este belo título aí em cima e quis lê-lo. Uma edição bonita, que comprei no sebo por R$ 1,50 (talvez o dono do sebo não curtisse poesia, eh) de um poeta desconhecido até então por mim. Péricles Prade é catarinense, nasceu em Timbó. Pra quem não sabe, Timbó, essa pequena cidade, também é berço de outro gigante da poesia catarinense (e nacional!): Lindolf Bell.
E foi com muita alegria que concluí a leitura desse livro. Como bem observa Fábio Brüggemann no prefácio, é invejante a capacidade de Prade de construir um projeto poético próprio, ou seja, com unidade. E é bem isso que o leitor encontra neste "Pequeno Tratado poético das asas": uma série de poemas interligados, unidos pela metáfora céu & terra. O título, contendo a acadêmica palavra "tratado", evoca um estudo, uma compilação baseada na observação rigorosa. E não deixa de ser isso: aqui o poeta é um observador delicado, que vasculha os mais íntimos recônditos (do céu, da terra, e da palavra "céu" e da palavra "terra"), a vigiar o pássaro que em breve alçará voo:

PREMONIÇÃO

Na véspera do sacrifício
move-se o pé
da bailarina gigante


Na introdução de seu livro, Prade fala da figura do pássaro como "símbolo perfeito das relações entre o céu e a terra". Fala da infinide do tipo de pássaros, e lembra que eles encantaram muitos homens, citando Buda e o poeta Saint-John Perse, entre outros. A citação de Perse na introdução, bem como utra citação em dos poemas do livro, nos levam a aproximar esses dois poetas. Ambos se apoiaram na mitologia, ambos rompereram em sua poesia a dimensão da realidade, buscando elevar o espírito, transpor dimensões. Poetas transcedentais. Que caminho melhor para transceder do que por meio das palavras? e que metáfora melhor para essa busca do que o voo de um pássaro? Voo que é a transição do céu para terra, como o canto é a transição do silêncio para o som. Céu & Terra; Som & Silêncio: dualismos sobre os quais a alma do poeta se debruça:

SEMELHANÇA

Voo
e _________________ gêmea adivinhação
canto

Acudam-me Saint-John Perse
e sua ancestral intuição

E mais São João da Cruz
Buda
e Tao
que de tão leves
a eles se assemelham



Como Perse, Prade se mostra um poeta místico, busca na mitologia as mil imagens do pássaro. Baseia-se em várias culturas, especialmente as orientais, que tem este animal como sagrado símbolo da transição entre mundos. E essa transição se dá pelo voo, esse movimento de asas, mecanismos indecifráveis. A graça de tudo é o mistério das asas. Um pássaro é apenas uma palavra. Como o amor é apenas uma palavra, a morte, a dor. Palavras. Mas é no voo, na sincronia das asas, que a palavra se expande. E aqui voltamos ao primeiro poema do livro. Ponto de partida. Onde o leitor sai do chão, do silêncio, para contemplar essa definição:

DEFINIÇÃO

Se não supõe o voo
O pássaro é só palavra
Entre o Céu
&
a Terra



Fica a sugestão para que conheçam esse tratado. Alcem esse voo.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Momento na Rua do Príncipe

Asfalto molhado, o estrondo no fim da tarde cochichou ao povo: o carro vermelho e seu motorista distraído acertaram o veículo da frente. O homem olhou. A mulher olhou. A menina de rosto magro olhou. As respeitáveis senhoras, também, congeladas, olharam. Olhou motorista, olhou mendigo, olhou pedestre. Farmacêutico abandonou balcão e olhou. Gripado, o homem esqueceu a chuva: parou e olhou. Mil olhos convergendo sedados para um leve arranhão metálico. Olhei para o outro lado da rua e vi um garoto discreto. Um menino, menino poeta, contrariando todos, ignorando os 2 brinquedos e olhando para as pessoas. Olhou para o homem, para a mulher, para as respeitáveis senhoras, passeou pelo jogo de dominós humanos. Girei meu olhar sobre as estátuas rapidamente. Quando quis voltar ao menino, ele já partia. Seus olhos fotógrafos giravam pelas marquises coloridas, perdendo-se no labirinto dos ladrilhos do calçadão central. Deixou as estátuas e saiu correndo, aparando as arestas desse mundo que insiste em ser quadrado.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

sobre a Feira do livro 2010

Li ontem, na coluna Orelhada do Rubens Herbst, que começaram os preparativos para a Feira do Livro de Joinville (mês de Abril). Ruy Castro é o único nome confirmado. Tem gente boa a confirmar, como Marina Colassanti e Roger Mello. A promessa desse ano é aumentar a estrutura, ampliar a programação e o número de stands. Convenhamos, a edição 2009 foi uma porcaria. OK, ok.. comprei umas coisas baratas, (as melhores foram 2 livros de poemas, um do Antônio Cícero e outro do modernista Graça Aranha), conheci o Cristovão Tezza, cara super simpático e inteligente. (e peguei um autógrafo no meu "Filho Eterno" *__*) Mas, ficou a sensação de fraqueza do evento. E as editoras? é preciso chamar mais. Quem já foi à Bienal do livro em Sampa, bocejou no ano passado aqui (burra essa comparação, não? agora deixa).
Bem, Vou confiar na promessa, e ficarei de olho. Assim que tiver mais informações, posto aqui.
:)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Daki-Dali de cara nova

ok ok, a cara nova é coisa simples: eu e a daia trocamos o modelo do Blogger para o fundo do Daki-Dali Mas fez muita diferença: agora está branquinho, límpido, mais gostoso de ler. Todos convidados a darem uma passada lá. Há algumas postagens no forno, quase sempre sobre livros ^^

É isso. Fica o convite. :)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Evangelho segundo Eduardo e Robson [Uma epopéia bíblica] :x

(22:57) Eduardo S.: vamos inventar uma historia!
Era uma vez
(22:57) Robson: no principio deus criou o universo !
(22:59) Eduardo S.: criou a terra, o mar, o céu, a gabriela ( :x )
e viu que era bom
(22:59) Robson: O dia, a noite, os sonhos e os pesadelos.
Viu que faltava algo!
(23:00) Eduardo S.: humm....
mas ele naum sabia o que.
precisava de ajuda
então...
chamou seu vizinho o Diabo =O
(23:01) Robson: =O
(23:01) Eduardo S.: O diabo veio. muito simpático, perguntou qual era o problema
"falta algo no universo. sinto-o vazio, amigo Diabo"
criei o ceu, a terra, a gabriela, todas os animais, incluindo o robson.
naum falta nada!
mas eu sinto no meu S2 que algo falta, diabo
O Diabo parou e pensou.
Mas é claro! disse o diabo
ja sei o que falta:
falta amor, disse o diabo, que no fundo tinha coração
deus parou. refletiu. amor?
olhou pra baixo e viu Adão e Eva fornicando.
de fato. fez os dois. deu-lhes a paixão,
mas faltava mais que isso;
faltava amor
-- mas , amigo diabo, onde encontro amor?
(...)
(23:04) Robson: Eu criei todas as coisas simples, pensando que nelas havia o amor.
Não existe o amor nelas, Diabo?
(23:05) Robson: -Não.
Onde está o amor?, perguntou deus
-Bom, você criou adão, eva, robson e gabriela.
(23:06) Robson: -- Onde está a amizade?
(23:06) Robson: Então, Deus criou mais um homem.
(23:06) Robson: E apareceu o Eduardo.
(23:08) Robson: (...)
(23:08) Eduardo S.:então... deus e o diabo ficaram olhando o éden do céu
lá embaixo, adão (robson) e eva (gabriela)
estavam catando frutas
e fazendo super-heróis ^^
... e nesse momento, entrou pela porta do jardim
eduardo,
aquele que foi enviado para dar início à amizade,
mas de início nada aconteceu
Eva olhou pro adão
adão olhou pro eduardo
eduardo olhou pra eva
eva olhou pro céu
e disse
"vai chover"
"pois é", disse adão
"se pá", completou eduardo
e nada aconteceu
faltava assunto
(23:12) Robson: - Não precisavam de assunto! ...
(23:12) Eduardo S.:... pois logo ele mesmo tratou de surgir... e o assunto se chamava W!
(23:13) Robson: Adão - Não!
(23:13) Eduardo S.: W era a serpente que habitava o éden.
(23:13) Robson: -W não poderá estar entre nós!
(23:13) Eduardo S.: eva ficou indecisa
quis confiar em W
adão ficou irritadinho
e eduardo nada disse
(23:14) Robson: adão ajoelhou-se e disse: Senhor, tu que criaste tudo, por que criou o W?
Enquanto isso o poder persuasivo de W, tentava convencer Eva e Eduardo!
(23:16) Eduardo S.:
estava W discursando para Eva e eduardo, quando adão precisou sair para
fazer suas necessidades fisiológicas
(no mato)
e ficaram os 3
e W começou a discursar
falou sobre jornalismos e maçãs
eva estava gostando
eduardo dizia ahan-ahan-ahan
(23:18) Robson: E o Diabo inteiramente entediado com tudo, disse - W, adão tentou te ajudar, e agora onde está ele? Nem ele quer ouvir-te mais ? Será que mudou seu ponto de vista?
(23:19) Eduardo S.: W não gostou desse comentário
fez cara feia
(fez isso com muita facilidade, é vero)
mas continuou
e disse, erguendo a mão
-- Eva!
-- vc quer ter mais poder que adão?
Eva pensou pensou.
(23:20) Robson: Adão acabando suas necessidade, interveio.
- W, quem és tu ? Não é deus então não pode dar poder as pessoas!
(23:21) Eduardo S.: mas o W revidou:
naum tenho poder, mas logo vou me formar
e deus naum estudou que eu sei!
e todos fizeram
=O
e o diabo disse: BAH
(23:22) Robson: Então, diante desse insulto, Deus apareceu
(23:23) Robson: - Pessoas, criei tudo. Não preciso de estudos. Sou o mais sabio.
(23:23) Robson: Nisso, suas palavras derramavam-se como agua
agua em abundancia
(23:23) Eduardo S.: eduardo interrompeu ele: não exagera tbem
(23:23) Robson: enchendo todos!
inundando tudo.
(23:24) Eduardo S.: e pela porta do jardim....
(23:24) Robson: Sem Noe, nada poderia ser salvo!
(23:24) Eduardo S.: e entao
chegou Noé
(23:24) Robson: e tudo ficou inundado!
chegou atrasado
(23:24) Eduardo S.: oh
e foi um deus nos acuda
(23:24) Robson: Ali pairou a lenda de atlântida!
(23:25) Eduardo S.: era água para todos os lados,
eva e adão subiram num galho
W subiu em outro
(23:25) Robson: braços e pernas.
(23:25) Eduardo S.: pernas & braços
(23:25) Eduardo S.: eduardo, deus e o diabo e noé tbm se abrigaram
o munda mal começou
e já se destruía
Um elefante pediu ajuda
hel help!
estou me afogando
e todos se olharam
quem iriam ajuda-lo
?
(23:26) Robson: e o mundo explodiu!
(23:26) Eduardo S.: calma poha
ainda naum
(23:26) Robson: adão tinha que sair
(23:26) Eduardo S.: affer
HAHAAHAHAA
(23:26) Robson: adão tinha que alimentar seus filhos
(23:27) Eduardo S.: adão era chato
(23:27) Robson: trabalharia no dia seguinte!
(23:27) Eduardo S.:
AHAHHAHA
(23:27) Robson: disse adeus!
(23:27) Eduardo S.: adeus
Ps; adao se foi e eduardo disse: vá
cuido da eva
(23:27) Robson: mas.. . O diabo interveio!
(23:27) Eduardo S.: e adao se foi
oppa
:x
(23:27) Robson: - Sairá, apenas no fim !
(23:27) Eduardo S.: O.O
(23:28) Eduardo S.: e todos boiaram
literalmente
(23:28) Eduardo S.: uma zebra se afogando passou rapido e berrou
xau!
xau, adão
(23:28) Robson: mas adão não iria mais sair.
(23:28) Eduardo S.: e a zebra fez ¬¬
(23:28) Robson: resolvera ficar 15 minutos!
15 minutos para salvar o mundo da destruição total!
(23:29) Robson: E tudo estava nas mãos deles.
(23:29) Robson: Eva e adão. Eduardo e W.
Diabo e Deus!
(23:30) Robson: Elefante e Zebra!
(23:30) Robson: (...)
(23:31) Eduardo S.: entao deus deu um STOP na máquina do mundo
o mundo parou: era enchente, braços e pernas, galhos e bichos pra tudo que é lado
E deus viu que era boa, a sua criação
o diabo disse:
agora? o que faremos?
O diabo queria jogar uno
deus queria limpar a bagunça
eduardo queria que fosse criada a daia logo de uma vez
adão queria chegar em casa pra ler Hp e crepúsculo
e eva queria o amor,
aquele amor do inicio da história,
que deus ainda naum havia conseguido criar
(23:33) Robson: Então, Deus criou o perdão, que era o amor.
Adão resolve perdoar o W!
(23:34) Eduardo S.: o diabo fez cara feia
mas aceitou a criação do perdão
por que se há perdão, é pq há pecado,
então, estava tudo ok
(23:35) Robson: Todos estava felizes, menos o Eduardo!
(23:35) Eduardo S.: sim
(23:35) Robson: Deus - O que há eduardo?
(23:35) Eduardo S.: eduardo - deus? vc tem quantos anos?
vc é solteiro?
(23:35) Robson: - Solteiro.
(23:36) Eduardo S.: hummm
(23:36) Robson: Diabo, percebendo o que faltava
(23:36) Robson: disse - Eduardo sei o que você quer
-mas isso terá um preço!
(23:36) Eduardo S.: eduardo: ui, delicia
(23:36) Robson: Diabo criou a daiane
(23:37) Eduardo S.: eduardo: BAH
(23:37) Robson: e consequentemente criou a profª Taiza!
=o
(23:37) Eduardo S.: eduardo: BAH BAH BAH
(23:37) Eduardo S.: nesse momento, eduardo mudou seu nome e rosto
ele estava morfando
virou Caim
e o mesmo ocorreu com adão
que virou abel
E antes que alguem fizesse algo,
caim tacou um notebook na cabeça de abel
que caiu estatelado
(23:38) Robson: morrendo!
Então, Eva matou caim!
E W. matou eva!
E W. ficou feliz!
ele era então o único habitante da terra!
(23:39) Eduardo S.: e até hoje,
caminhando pelos desertos do Egito
(23:39) Robson: W quer controlar o mundo !
(23:39) Eduardo S.: sim,
(23:40) Robson: mas onde está o mundo?
(23:40) Eduardo S.: restaram destroços
e W decidiu mudar de nome
(23:40) Robson: então percebeu que tudo estava errado!
(23:40) Eduardo S.: BAH
como assim?
(23:41) Robson: Ele queria controlar o mundo
mas que mundo?
não existia mais nada
Matou-se com suas palavras
E o diabo e deus continuaram jogando uno
(23:41) Eduardo S.: eternamente
(23:42) Robson: eternamente eterno...
(23:43) Robson: Deus falou - falta algo. E criou adão!
HAHAH '
(23:43) Robson: - Adão disse - A-deus!
e nunca ninguém entendeu porque adão se sentia feliz com aquilo
(23:43) Eduardo S.: pois é
amén
(23:43) Robson: shallon!
(23:43) Eduardo S.: THE END
Evangelho segundo robson e eduard!
(23:44) Robson: F-I-M!
(23:44) Eduardo S.: E.S.R.E (1. 1-45)
(23:44) Robson: HAHAAHHA'
(23:44) Eduardo S.: HUHUHU
(23:44) Eduardo S.: yeah
(23:44) Robson: vou mimimim!
(23:44) Eduardo S.: xau, negones
(23:44) Robson: :'
(23:44) Eduardo S.: boa historia
;p
(23:45) Robson boa história.

(00:00): Robson e Eduardo ficam offline :x :x

sábado, 16 de janeiro de 2010

a propósito do requinte e da geometria das livrarias

nada como a violência de um sebo desorganizado,
como quem esconde algo muito precioso dentro de si.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A poesia de Affonso Ávila




Affonso Ávila é um poeta mineiro que nas décadas a partir de 50 teve grande importância na renovação da poesia brasileira. Com alguns companheiros fundou o movimento "Tendência", caracterizado pelo nacionalismo crítico. A leitura de uma antologia de seus poemas demonstra que ele seguiu mesmo esse preceito. Especialista da história e cultura barroca (escreveu 2 ensaios sobre o tema), Affonso também trouxe essa temática para sua poesia. Livros como "Cantaria Barroca" e "Código de Minas" são revisitações críticas da história de Minas Gerais: a exploração aurífera, a Inconfidência, a estratificação social, etc. Sempre muito crítico, satírico por muitas vezes. E a maneira pela qual Affonso faz suas críticas é a quase sempre através de paródias. Um tipo de paródia paralela, em que o texto parodiado é contraposto ao novo: um ao lado do outro. Um bom exemplo é o ótimo poema "Antifamília" que entrou, com muito mérito, na antologia "Os cem melhores poemas brasileiros do século XX", organizada por Ítalo Moriconi. No poema há 2 textos: um rebuscado, erudito, que engrande a família mineira (a família como uma instituição sagrada) e outro que se opõe a ele. Frase a frase. Uma frase de um, contra uma frase de outro. Dois textos que se cruzam, criando um jogo de palavras cáustico. Posto aqui um trecho, o final, para terem uma ideia melhor do que falo:

[...]

Com sua retórica
com suas retortas
de diz-que de urge-que
de uísque e uísque
de eis-que de pois-que
de uísque e uísque
o ar degas do deputado
as adegas do deputado

Com sua crosta
com sua crônica
de cera e diamantes
de seriados amantes
de recintados balofos
de reincidentes abortos
as deselegantes senhoras
as dezmaiselegantes senhoras

Com seus opostos
com seus opróbrios
de usura e de abuso
de usurário abuso
de clausura e de uso
de enclausurado uso
a família mineira
a antifamília mineira



Esse esquema parodístico está presente em muitos dos poemas da antologia. Quanto ao estilo de Ávila, o jogo de palavras, que desconstrói um texto para o surgimento de outro, esse predomina em todos os poemas. Por isso, algumas partes do livro podem soar cansativas para o leitor, que tem diante de si um fazer poético relativamente mecânico, ainda que criativo. Ressalto, no entanto, que vale a pena conferir a obra de Ávila. Uma experiência bem interessante. Sobre esse fazer poético, é válido o comentário de E. M de Melo e Castro, no livro "A poesia de vanguarda no Brasil", lançado em Portugal: "Affonso Ávila [...], praticante de uma poesia-referencial de grande poder desmistificador e combativo, a partir de um rigor quase matemático no vocabulário e na sintaxe" . Sobre esse conceito de Poesia-Referencial, é o próprio Ávila que esclarece tal ideia: "incompatível com o exercício aleatório, com o verso inspirado e fortuito da fruição lírico-subjetiva, a poesia referencial exige que o poeta se aplique lucidamente:
1)na opção de temas ou seleção dos estímulos captados de seu mundo existencial.
2)na planificação do poema que ele se impôs com o seu tema;
3)na consulta do material de informação;
4)na articulação da linguagem-síntese;

[...] "


Como se depreende da declaração, Affonso Ávila é bem cônscio de seu fazer poético. Ele rumou por um caminho e, pela leitura de seus poemas, vemos que foi muito feliz nele. Como eu disse no início da postagem, ele foi de grande importância na renovação da poesia brasileira, justamente por experimentar variações em suas criações.
Para fechar, mais um poema de Ávila:

ARTE DE FURTAR

O poeta declarou que toda criação é tributária de outras

criações no permanente processo de linguagem da poesia


O poeta afirmou que todo criador é tributário de outros no

processo de linguagem da poesia


O poeta se confessou um criador tributário de outros na

linguagem de sua poesia


O poeta não esconde que sua poesia é tributária da linguagem

de outros criadores


O poeta não esconde que sua poesia é influenciada pela

linguagem de outros criadores


O poeta não faz segredo de que se utiliza da linguagem de

outros poetas


O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de

outros poetas


O poeta é um deslavado apropriador de linguagens


O POETA É UM PLAGIÁRIO