domingo, 27 de dezembro de 2009

o que estou lendo

Estou lendo Henry & June, livro extraído dos diários da escritora Anaïs Nin. A Thara demonstrou interesse. Então, para ela e para quem mais quiser ler, posto um trechinho do livro. Ainda estou no começo. Está ótimo. Uma vida muito intensa, a de Nin.
Escolhi esse trecho pois é aquele em que ela relata o primeiro encontro com Henry Miller, que logo se tornaria seu parceiro sexual/intelectual. Assim, temos um trecho que cobre esses 2 autores que adoro. Ei-lo:


DEZEMBRO

"Conheci Henry Miller.

Ele veio almoçar com Richard Osborn, um advogado que eu tinha que consultar sobre o contrato para meu livro de D.H. Lawrence.

Quando ele saltou do carro e se dirigiu para a porta onde eu estava esperando, vi um homem de que gostei. Em seus escritos ele é extravagante, viril, animal, opulento. E um homem a quem a vida embriaga, pensei. É como eu.

No meio do almoço, quando estávamos discutindo livros seriamente, e Richard passara a um longo discurso, Henry começou a rir. Ele disse:
-- Eu não estou rindo de você, Richard, mas simplesmente não consigo evitar. Não ligo a mínima, nem um pouco para quem está certo. Estou feliz demais nesse exato momento com todas as cores à minha volta, o vinho. O momento é tão maravilhoso, tão maravilhoso - Ele ria quase a ponto de chorar. Estava bêbado. Eu estava bêbada, também, por completo. Sentia-me aquecida, tonta e feliz.
Conversamos durante horas. Henry disse as coisas mais verdadeiras e profundas, e ele tem um jeito de dizer "mmmm" enquanto divaga por sua viagem introspectiva”


Bem, é um livraço. :)

Extraído de NIN, Anaïs. "Henry & June". Editora L&PM POCKET, 2007.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

um pouco de tietagem

75. NATAL

"Minha sogra ficou avó"



Calma, isso não é mensagem de natal. Mas é um trecho propício para eu declarar, mais uma vez, o meu apreço pela literatura de Oswald de Andrade. A única frase em questão é um capítulo de "Memórias Sentimentais de João Miramar", obra-chave da literatura oswaldiana. Trata-se de um dos meus livros preferidos. Oswald é um dos poucos demolidores da literatura nacional. Ela sempre se renovou, é verdade. Mas poucos foram os momentos de grande ruptura com os modelos vigentes. Talvez os concretistas fizeram isso. Mas o grande papel coube a Oswald e seus colegas de modernismo.
Esse livro rompe com quase todos os esquemas tradicionais. Além disso, o enredo é uma grande risada frente a cara da burguesia paulista da década de 20: uma sociedade de aparências, num jogo de influências e falsidades. É o que mostra esse trechinho natalino. O narrador, João Miramar, avisa que no Natal, sua sogra foi avó. Poderia dizer "fiquei pai". Mas na sociedade patriarcal, afundada em moralismos, ganhar um neto é uma das poucas alegrias óbvias dos patriarcas das famílias. Dar um neto era, pois, mais uma obrigação do contrato familiar da boa família paulistana
Devo dizer que não é uma leitura fácil: muito da obra de Oswald hoje soa estranha para os leitores, que desconhecem as muitas referências à pessoas e fatos da época do autor. O sarcasmo e bom humor de Oswald são, no entanto, universais. Não há como não rir da piada que João Miramar lança na última linha de suas memórias.
É um livro que causa estranhamento, controverso, hilário por vezes, pedante por outros.
É uma obra com a cara do autor.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Soletre, com bufos e suspiros, o silêncio que há entre nós

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

algumas palavras

na fila do banco, lá está eu com meu livrinho na mão. No meio de "Um copo de cólera", do Raduan Nassar, num trecho em que os dois personagens principais estão no auge de uma discussão acaloradíssima, recheada de palavrões e tals, sou interrompido por um senhor com olhar bonachão:

-- você, rapaz, que gosta de ler..

Fecho o livro no ato e vejo o que ele me oferece. Trata-se de uma caixinha pequena, com alguns papéis coloridos dentro. Ele pede para que eu retire um e leia.

"Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Gl. 5.14)

Li e devolvi a folhinha para o senhor, que sorriu e continuou a abordar as demais pessoas da fila. Acho a Bíblia um livraço. Li algumas passagens dela, em diversos momentos. São muitos os escritores que já manifestaram a grandeza dela. Exemplo? Olha só, palavras de Dalton Trevisan, extraídas da orelha de um livro de contos dele que tenho aqui em casa (na orelha, ele fala de si mesmo, uma espécie de auto-biografia. ótimo!)

"Bíblia. O único livro que a gente não pode deixar de ler. Nele você encontra Homero, Mil e uma Noites, Fanny Hill, soneto de Camões, grito epilético de Dostoiévski, barata leprosa de Kafka, anúncio de 914, elegia de Rilke, etc"

Para rebater isso, posto um trecho de uma entrevista com Oswald de Andrade em 1954. Ei-lo:

– "Quais os livros essenciais à humanidade"?
Oswald: "Não são, nem a Bíblia, nem o Alcorão, nem Margarida La Rocque."


Apesar de ser um fã do Oswald, dessa vez estou com Trevisan. É um livro riquíssimo que inspirou e ainda inspiro a safra de escritores. É um livro contraditório. partes ótimas, partes execráveis. Olha só, que coisa mais linda esse verso que o senhor mostrou! Intriga-me o fato de se referir à máxima do amor ao próximo como uma "única palavra". Intrigante, que nos faz pensar, como faz toda a boa poesia.
Pensei tudo isso na fila do banco. Por conta de um simples senhor com sua caixinha de versos bíblicos, que mostrava-os pelo simples prazer de levar tais palavras além.
Depois dizem que a vida não é bonita.

PS: veja como a bíblia inspira um ocioso sem veia literária, mas com varizes literárias.... como disse alguem ontem no twiter. (vc que retwittou, ítalo! ha-ha)
Eis aí minha brincadeira, um trecho do Evangelho Segundo Judas.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Revolta

Bem, tenho deixado para falar sobre minhas leituras lá no Daki-Dali... algumas exponho aqui, mas a maioria está indo pra lá. Assim, falo do quê? Bah, ando sem criatividade.
Eu queria mesmo era reclamar. Tanta coisa errada e mal feita no bairro, na cidade, no país, no mundo. Hoje eu estava pensando numa dessas coisas inexplicáveis: todo ano, na época de pagamento do PIS, surgem aquelas reportagens lugar-comum:

"Hoje cerca de blablá milhões de reais deixarão de serem sacados por seus donos, pois os beneficiados do PIS, não atentaram aos prazos e bláblá"

Isso é clássico. Todo ano essa reportagem surge na internet, nos jornais, e às vezes, nos telejornais. Bah (estou usando "bah" ultimamente, como opção para as versões mais religiosas como "céus" ou "god" ou "jesus!"), será que o pessoal que não saca esse dinheiro não quer o beneficio? É claro que não! A questão é outra, e é muito clara: a forma de distribuição do PIS, que é um direito trabalhista, é extremamente mal-organizada. É confusa. O dinheiro é liberado ao longo do ano: dependendo do mês de nascimento da pessoa (acho que é isso, mas não tenho certeza..mas enfim), ela tem um certo mês para sacar o valor. Extremamente complexo? Não. NO entanto, para a maioria dos cidadãos que vivem numa correria diária, esse sistema é incoerente. Além disso, não é todo mundo que consegue aconpanhar o raciocínio desse sistema. É preciso algo mais simples, algo mais claro. Além disso, o governo não move uma palha para facilitar isso. Por que não fazem uma campanha, uma simples propaganda na TV, como fazem nas eleições por exemplo, esclarecendo as datas? Simples, pois há interesse em que esses valores não sejam sacados. Que os benefícios morram na Caixa Ecônomica.
Bem, eu não tenho direito a esse benefício ainda. Nem falo isso por conhecer alguém que perdeu. Falo, por que me incomoda, todo ano ouvir a mesma reportagem...

"Hoje cerca de blablá milhões de reais deixarão de serem sacados por seus donos, pois os beneficiados do PIS, não atentaram aos prazos e bláblá"

... Sabendo que poderia ser bem diferente.

Mas enfim, bom-senso por aqui é raridade.
Vou é ler um livro.

fui!


PS: falando em reporatagem lugar-comum (puta merda, como se faz isso no plural, será?)... qualquer dia vou escrever sobre isso. É um saco, tem certas reportagens que se repetem todo ano. Só copiam e colam, acho. Eu, hein. Acham que a gente é trouxa. (somos)

PS do PS: as férias estão chegando! Não vejo a hora...