domingo, 23 de agosto de 2009

Do jornalismo

Eu sempre achei que todo jornalismo deveria ser neutro: imparcial, transmitindo só e puramente a notícia, sem qualquer objetivo ou intenção que não fosse informar. Mas a realidade vem me mostrando que não existe esse modo de fazer jornalismo: não há como "isolar" a informação. Quem a transmite (o veículo, seja ele um jornal impresso, televisivo, uma revista, etc.) sempre imprime algo a mais na simples notícia. Toda notícia é manipulada. Manipulação vai aqui no seu primeiro sentido: manipular - antes do ato vulgar de "distorcer" uma informação - significa mexer em determinada estrutura, trabalhar sobre ela. Hoje em dia, ganhou tons de vulgaridade, toque esse retocado pelo jornalismo. Daí a mal-fadada expressão "manipulação das notícias".

E é verdade. Toda ação sobre uma certa notícia é um ato de manipulação. Os redatores da imprensa, ao definirem suas pautas, estão manipulando amplo corpus de notícias (são milhares, precisam escolher) e escolhendo aquelas que são de seus interesses. Interesses dos receptores (leitores e telespectadores), alguém poderia dizer. Não: são interesses de quem transmite, que tenta reproduzir a notícia de modo que chame a atenção de seus receptadores, gerando, assim, o lucro.

E esse exemplo das pautas é um dos mais gritantes para observarmos a manipulação; há outros bem mais discretos. Por exemplo, imaginem um âncora de um telejornal apresentando a seguinte notícia:

"O presidente Lula, em discurso na cidade de São Bernardo do Campo, declarou que não vai comentar as acusações contra o senador Sarna-Sarney, por que não pode emitir juízo, já que não sabe de nada"

Esse exemplo é fictício. Mas quem assiste telejornal sabe que esse tipo de chamada é corriqueira. Mas imaginemos, ainda, que o âncora, ao falar tal texto, dê uma ênfase à última fala do presidente: "não sabe de nada", quem sabe erguendo uma sobrancelha ou então, mudando o tom de voz ao pronunciar essa parte. Com tal atitude, o âncora pode sugerir muitas coisas: que Lula deveria saber; que Lula sabe mas não quer falar, que Lula vive afirmando que não sabe de nada, etc.

Não há instrumento mais flexível para a manipulação de pessoas do que a palavra. Mas sabemos também que um simples gesto, ou uma entonação diferenciada é capaz de dar outro rumo à notícia, imprimindo nela a marca de quem a veicula.

Onde quero chegar com isso? Não sei. A princípio, penso que cheguei num beco sem-saída. Não vejo como transmitir algo com total imparcialidade. A questão talvez resida - mais uma vez - na capacidade crítica dos receptores: leitores e telespectadores, consumidores de mídias. Cabe a todos receber a notícia e dela extrair somente a informação (se é que isso é possível) e julgá-la conforme nossas concepções, ao invés de simplesmente assentir ante a notícia "retocada" pelo veículo de imprensa. Tarefa difícil, seu sei. Utópica, eu diria.

Esse texto, na verdade, serve como uma introdução para uma série de comentários - somente comentários já que não sou jornalista, sou um consumidor de mídias - sobre alguns temas (a maioria, polêmicos) que tem me enervado nesses últimos dias. Jornalismo joinvilense, nacional, mundial: falarei de várias coisas. Falarei de revistas, jornais, programas de rádio e TV, e - óbvio - de jornalistas que fazem qualquer coisa, menos jornalismo.

Até Breve!

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