DITIRAMBO
Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade
Este poema é um dos mais conhecidos de Oswald de Andrade, poeta brasileiro que participou da famosa Semana de 22, em SP. Figura polêmica, que não pensava duas vezes antes de dizer o que pensava. Além de escritor, foi professor, sociólogo (por que não?) crítico teatral e jornalista (brilhante, por sinal). Oswald é autor de ensaios, peças, romances, contos e poemas. Todos, desde o seu início, com um estilo único. Como vemos na belíssima obra acima.
É curioso pensar que Oswald, agitador do modernismo - movimento de exaltação da brasilidade- sorveu muito da cultura européia para organizar o modernismo brasileiro. Da viagem que fez à frança, trouxe uma bagagem literária, que formou seu estilo. Trouxe mais do que isso, também:
CONTRABANDO
Os alfandegueiros de Santos
Examinaram minhas malas
Minhas roupas
Mas se esqueceram de ver
Que eu trazia no coração
Uma saudade feliz
De Paris
O estilo de Oswald é apaixonante pela mistura de sua grande capacidade sintética com o seu humor ácido. Em pouquíssima palavras, ele construiu belos poemas. Soma-se a isso uma linguagem única, composta por neologismos vertiginosos e pela exaltação da linguagem cotidiana. Isso fica muito claro em Obras como "Pau- Brasil", onde Oswald nos apresenta fotografias da história brasileira, desde o descobrimento, passando pelo época colonial até o fervoroso século XX. Como vemos aqui:
BONDE
O transatlântico mesclado
Dlendlena e esguicha luz
Postretutas e famias sacolejam
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FIM E COMEÇO
A noite caiu com licença da Câmara
Se a noite não caísse
Que seriam dos lampiões?
Não consigo esconder a minha enorme paixão por Oswald. Para mim, o mais original dos artistas de 22. O melhor? não. Bandeira, por exemplo, criou uma obra bem mais profunda e bonita. Mas ninguém tira de Oswald seu estilo ousado e despreocupado, tão raro nos dias atuais. Apesar da influência européia, pensar em Oswald é pensar em Brasil. Pensar em poesia. Pensar na descoberta das coisas que a gente nunca viu.
Este texto não tem nada de crítico. É somente um elogio desmedido de um aficcionado por Oswald. Je t'aime, Oswald!
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