sábado, 8 de agosto de 2009

Duas vozes



Uma nasceu no estado de Texas, EUA, em 1943; a outra é brasileira, nascida em 1945
Falo de duas cantoras que ficaram gravadas na história da música: Elis Regina e Janis Joplin. Apesar de trabalharem com estilos bem diferentes, há uma grande proximidade entre elas: vozes fortes, marcantes que deram interpretações profundas, intimistas para suas músicas. O que difere essas duas cantoras das demais é a carga sentimental traspareceram em suas canções.

Janis Joplin era muito ligado ao blues, que somado ao folk, formou seu estilo inigualável. São clássicas as suas canções "Mercebes-Benz", "Cry Baby" e "Piece of my Heart". Mas talvez seja a sua versão para um clássico do blues, "Summertime" (letra de George Gershwin), o melhor exemplo para comprovar a genialidade de Janis. Foi genial pois não foi somente voz. Janis soube usá-la, carregando-a de força sentimental, como uma atriz, ou ainda, como se vivesse tudo aquilo que cantava. E talvez tenha vivido. As letras que Janis cantava (algumas suas, outras não) são, em geral, melancólicas, falam da dor, da perda e do tempo. Refletem, assim, a mente conturbada dessa cantora, que faleceu em 1970, aos 27 anos, por complicações geradas pelos vícios em drogas e alcool.
Elis Regina, a Pimentinha, é considerada por muitos - e por mim também (Gal e Bethânia vêm depois, e que se dane) - a maior cantora brasileira. Como Janis, teve uma morte trágica e prematura. Aos 36 anos, morria por overdose. E como Janis, carregou suas canções - outra atriz da música - com uma força de sentimentos incrível.
A trajetória das duas foram muito diferentes, pois os seus estilos eram bem distintos, além de cantarem em países diferentes que, obviamente, possuiam realidades diferentes. Janis produziu somente 4 álbuns, trocando algumas vezes a banda que a acompanhava. Prova da grandeza de Janis, é o fato de que a maioria das pessoas não se recorda que bandas (a última delas doi "Full Tilt Boogie", com quem ela fez o álbun Pearl (1970) lançado postumamente) acompanhavam Janis, e esquecem que nem sempre ela fez carreira-solo, pois o fez somente por certo tempo. Cultivando uma atitude rebelde, Joplin se vestia como os poetas da geração beat, e vivia desregradamente, o que culminaria na sua morte.


Arrastão, Fascinação, Maria Maria, Romaria, O Bêbado e a Equilibrista, Aquarela do Brasil, Águas de março, Retrato em preto e branco, Alô, Alô Marciano, Canção da América, Travessia, Saudosa maloca, Tiro ao Álvaro, Iracema, Aquele Abraço, Como Nossos Pais, As curvas da estrada de Santos. Todas essas, músicas gravadas por Elis. Todas elas sucessos. Como se depreende por essa lista, Elis Regina gravou canções de diferentes compositores e também de diferentes estilos: "Águas de Março" e "Arrastão" são exemplos de parcerias com ícones da Bossa Nova, como Tom Jobim, Edu Lobo e Vinícius de Moraes. Há ainda gravações de Erasmo e Roberto Carlos, já na música romântica, com "As curvas da estrada de Santos". Ou ainda a pegada "rock" que Elis deu para "Velha Roupa Colorida", de Belchior. Há ainda Adoniram Barbosa, Miltom Nascimento e tantos outros: Elis foi uma cantora múltipla. Sondou muitos estilos e foi feliz em todos, seja ele o rock da Jovem Guarda, o Samba ou a Bossa Nova. Elis começou no rádio e não tardou a se tornar a queridinha dos compositores com seu vozeirão. Acho a voz de Elis Regina tão maravilhosa, que não consigo mais ouvir as versões originais de certas músicas que Elis regravou. Exemplo: Como nossos pais, de Belchior. Belchior é um bom cantor. Mas essa música parece ter sido feita para a voz de Elis. Não só essa. Todas, quem sabe.

Se Janis Joplin fazia o estilo Hippie, Elis Regina não ficava por menos quando o assunto era descontentamento com a realidade: tinha opiniões fortes e sempre se mostrou contra a ditadura militar, principalmente ao cantar suas canções.
Elis, que começou no rádio, logo se tornou uma estrela, ganhando festivais de música e participando de especiais para a televisão. Janis, por seu estilo bem diverso, tinha outro rumo. Com uma carreira conturbada, mesmo com shows prejudicados pelo uso constante de drogas, fez algumas temporadas e participou de festivais, inclusive o histórico festival de Woodstock, em 1969, um ano antes de sua morte.

Janis e Elis: duas vozes marcantes, inigualáveis, que se calaram bem mais cedo do que queríamos.

Um comentário:

  1. é, eduardo, bem mais cedo do que queríamos, sim. apesar de não estarmos vivos naquela época...
    ficou-nos as músicas interpretadas por elas. e que coisas mais maravilhosas!

    parabéns pelo texto. muito bem escrito!
    e pelo gosto musical :)
    (mas na minha lista tem muita cantora antes de gal e bethânia. rsrsrs)

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